quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Renovando o adeus à minha mãe,

Faz tantos anos que partistes, mãe idolatrada. Mas cada dia que passa mais e mais vives dentro de mim, me lembro com carinho as ordens que davas a mim e minhas irmãs, cada qual tinha seu serviço, e a mim sempre restava varrer o pátio, que aliás era
enorme. Maria era o teu nome, amar-te foi tudo o que aprendi, porque tu tinhas muito amor para dar. O que eu mais queria na minha vida era estar sempre junto de ti, e se por acaso isto não acontecia, me lembro que eu chorava, principalmente ao voltar da aula e não te encontrar, para mim era uma fatalidade. Talvez por eu ser a caçula? Mas você amava todas nós igualmente. Lá se foram 16 anos e eu ainda choro tua ausência como quando era criança. Quando eu ponho a mesa sempre lembro de ti e do copo de leite que era indispensável, e tu dizias leite é muito saudável. Óh! Mãe, se hoje ainda fosses viva verias quanta coisa mudou, quanta crueldade há no mundo. A teus pés, junto aos de papai, que está a teu lado, leio teu nome e ainda choro tua ausência: Maria Zatelli de um lado, do outro Giacinto Zatelli. A solidão me invade e talvez seja egoísmo de minha parte, mas eu queria que estivesses viva para poder "bater um papo legal", gíria que tu não conhecestes, mãe adorada. Eu andei tanto por este Brasil afora, mas até hoje não encontrei ninguém igual a ti. Tenho certeza que compreenderias a juventude de hoje e terias, com toda a certeza, uma palavra de amor para dar. E eu, que nada pude fazer por ti, por perder-te tão cedo, não pude retribuir o que por mim fizeste. Hoje peço a Deus pela tua paz e de papai e rezo pela tua alma, que é tudo o que posso fazer. Peço a Deus, mãe querida, que descanses em paz.

Caderno de Poemas Íntimos, 16.4.80

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