quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Meu sonho de menina

Fui uma menina igual a tantas outras da minha idade, senti desejos, fome, saudade, alegria, paixão, sede, inveja, raiva, pena, frio e calor, puxa, será que senti mais alguma coisa? Ah!, sim, acima de tudo eu sempre tive muito amor por tudo e por todos. Mas uma coisa me marcou muito, quandoeu devia ter assim uns nove, quase dez anos de idade. Freqüentava a escola do meu bairro, estudava na parte da manhã e à tarde cuidava das crianças de uma irmã, que era nossa vizinha, para ela poder trabalhar na roça. Vim de uma família pobre ou remediada, como queiram, só que nunca pude ter o que eu queria, ou seja, uma boneca bem grande, que fosse do tamanho de
um bebê recém-nascido, era um sonho meu que nunca se realizou. (Obs.: Talvez, se alguém for ler um dia isto que estou escrevendo, vão dizer mas porque só falo na minha vida e da minha família? Pois foi essa a família que eu tive e que conheço muito bem, por isso posso escrever algo sobre ela sem erro, ou mentira, é portanto uma história verídica e a mim só interessam as coisas verdadeiras, só por isso resolvi escrever.) Na época eu sonhava muito. Claro que uma menina como eu sonhava com uma vida melhor, ou até talvez de ficar rica, sei lá, era um direito que eu tinha. Mas como em todas as pessoas sempre fica alguma coisa que marca, eu também passei por isto. Um dia, de volta da escola, deparei com uma cena muito triste, a morte de um sobrinho recém-nascido, filho de minha irmã Clara, sendo que ela teve gêmeos, a menina estava viva e se chama Dirce, e o menino, que ia se chamar Luiz, infelizmente havia falecido logo após ter nascido. Resta saber que minha irmã estava na casa de meus pais, para minha mãe poder tomar conta dela até que passasse o tempo do resguardo. Então, quando voltei da escola, na minha santa inocência vi aquele
anjinho morto na nossa sala, dentro de um caixão que mais parecia uma caixa de sapatos. A partir daí não quis mais saber de boneca, pois via nela o nenê morto. Chorei muito, muito mesmo. Depois aconteceu o enterro e a volta para casa que, apesar de tudo, ainda tinha a menina, que estava linda e viva, aliás, ainda está linda e viva. É professora aposentada, com uma inteligência fora de série. Minha sobrinha do coração, que hoje está com 58 anos e sempre foi e sempre será minha sobrinha querida e grande amiga, apesar dos meus 67 anos. Isto é um pequeno resumo de minha vida.

(28.6.2000)

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