sábado, 17 de julho de 2010

Um Ano, Duas Almas - 2010 - terceiro livro no prelo

Parte I
A Minha Alma


Natal e Ano Novo de 2009

Quando a gente pensa que já viveu tudo o que tinha direito e com idade bastante avançada eu ainda uns dias de grande felicidade. No Natal, por exemplo, tive uma grande surpresa, além de já ter sido presenteada com uma geladeira nova, mais uma surpresa pela qual não esperava: um forno de microondas (que recebi na noite de Natal). Eu já tinha um, que nem eu, “velho”!
Então meu filho e seu companheiro me deram um novo de presente!. O Natal é só alegria, mas não só pelos presentes ou pelas luzinhas na árvore de Natal e pelo presépio, porém pelo nascimento de uma luz maior que é Jesus. Muitos abraços, beijos, carinhos dos filhos, parentes e amigos. Veio o Ano de 2009. Feliz Ano Novo ou Feliz Ano Nove. Este foi especial, foi uma passagem de ano como poucas, ou melhor foi uma das melhores passagens de ano que tive em toda a minha vida. Foi na casa dos filhos Loreno e Zéio, fizeram uma janta para esperar a passagem do ano como poucas. O Zéio arrumou a mesa com uma toalha branca, tapete branco e brancas também eram nossas almas, com certeza. Foi tudo maravilhoso, fizemos nossas orações de agradecimento pelo ano que foi embora, com a certeza de termos cumprida nossa missão.
E o novo ano será também de muitas alegrias e muito trabalho. Espero estar a altura de tudo o que tenha que passar e for o gosto de Deus, cumprindo religiosamente o que vier pela frente. Agradeço a Deus e ao meu filho Loreno, a seu companheiro Zéio por tudo o que fizeram por mim durante o ano que passou e pelo jantar que fizeram com tanto carinho e amor. Por tudo isso e muito mais, eu digo, obrigada meu Deus!
Jaraguá do Sul, 1º. de janeiro de 2009.

Um conto e um ponto

Era uma manhã de primavera. E lá horizonte o sol não aparecia: o dia estava nublado (Parecia estar zangado, mas aos poucos ele se transformaria. O vento brando soprava suavemente entre as plantas e os passarinhos cantavam alegres e felizes e assim conseguiram mudar a carranca do tempo. Eu nasci longe do mar, mas mesmo sem conhecê-lo ele me fascinava e fascina até hoje. Daí o conto. Quando eu conheci o mar eu estava entre 20 e 21 anos, foi na praia de Itajuba/SC, em companhia dos meus patrões Sr. Aldo e Dona Edith Marquardt. Eles tinham casa naquela praia e foram passar as férias. Eu, como empregada deles tinha que acompanhá-los. Fiquei sem palavras quando vi lá ao longe, no infinito, o sol surgindo do mar! Como não conhecia nada, porém muito curiosa, cheguei na praia bem perto das ondas que rebentavam na praia: perguntei então a um pescador que ali se encontrava, se o sol nascia do fundo do mar. E ele me respondeu: - “Não, não é bem assim. É que o céu chega até o mar para cumprimentá-lo e lhe dá o sol de presente, por isso parece que o sol nasce do mar”.
O ponto, enxerguei também lá no horizonte. Foi lá que vi um pontinho bem pequeno e que se mexia prá lá e prá cá, subia e descia: era um navio tentando chegar ao porto, apesar das ondas enormes que o balançavam. Isto para mim, foi fantástico! Este foi meu CONTO e meu PONTO, e , enquanto minha cabeça funcionar sempre arranjarei alguma coisa para fazer e para poder viver mais feliz.
15/09/2009

Minha arma é minha caneta

Ainda estou em estado de choque, fui assaltada dentro de minha própria casa, por alguém que entrou numa porta de escola para aprender a ler e sabendo ler deveria ter aprendido a respeitar o próximo. Não, entrou numa sala de aula, e mesmo assim teve coragem de atravessar pela porta de uma casa de quem trabalhou para construir esta casa. Esta amiga do alheio levou o que não lhe pertencia. Uma pessoa com 14 anos não pode e a lei não permite que ela trabalhe, mas permitem que ela roube, assalte, mate até. As nossas leis criam bandidos e os nossos governantes continuam não vendo nada. Eles assinam as leis de olhos vendados, para dizerem que não viram nada. Estou revoltada, sim, porque tenho setenta e seis anos e trabalho desde os meus oito anos e até hoje não roubei nada de ninguém. Pago minhas contas rigorosamente em dia, nunca fiquei devendo nada a ninguém! No entanto me assaltam, levando o que eu tinha para passar o mês e pagar as contas para este governo ladrão. Governo Ladrão, sim, porque a gente paga uma vida inteira INSS e quando se aposenta recebe um salários mais cinco reais. Agora recebo um aumento de 5,92%. Infelizmente como eu recebo um salário mais cinco reais, consideram que eu não posso receber o aumento cheio. Afinal passam cinco reais de um salário mínimo. Mas o Governo tem dinheiro para construir presídios, ao invés de escolas. Ele deveria fazer um enorme campo de concentração, cercar tudo com muita segurança e colocar ali todos os bandidos, para que trabalhassem, de maneira que eles não precisassem mais reclamar que estão apertadinhos nas celas. Poderiam ficar ali também todos os políticos antiéticos e aproveitadores, policiais e autoridades em geral, que sejam corruptos, e que vivem as nossas , além de nos roubarem. Quando ouço algum político dizer que os presos passam fome e frio, e que as celas que deveriam receber vinte presos tem entre oitenta e cem presos, lembro que eles estão lá porque querem e o governo os apóia. Então porque os políticos não os levam para suas mansões, ou os que fazem as leis favorecendo o crime, levem-nos para casa, dêem cama e comida. Já que criaram as cobras que as levem para casa, afinal as cobras só irão incomodar um pouco, mas nunca irá passar a perna nos políticos, da mesma maneira que fazem esses mesmos políticos com seus eleitores. Depois, então, podem dizer: -“eu não vi nada”. Verão quanto dói uma saudade! Ou então que levem para o Castelo do fulano de tal, já que pelo jeito cabe bastante gente lá e também foi construído com dinheiro do povo. Levem todos os presos para lá, e lá irão se sentir todos muito confortáveis. Um homem trabalhando sofreu um acidente e teve amputado o dedo polegar (meu marido), mas não recebeu nada por isso e ainda teve que trabalhar antes de se recuperar totalmente, se não quisesse perder seu emprego, enquanto um metalúrgico safado perdeu o dedo mindinho e simplesmente foi aposentado por invalides, olha só a diferença.
Estou indignada com este descaso, com esta indiferença, com tanto insegurança que nem dentro de casa se está seguro, afinal de contas, estou presa dentro de minha própria casa e o vagabundo está solto nas ruas, contando com a proteção das autoridades e por favor que ninguém faça nada contra eles, porque daí então o cidadão vai para a cadeia. Acho que eles devem dar muitos lucros para os corruptos, muito mais do que quem trabalha, afinal quando o roubo é grande o lucro também o é. É isso que eu suponho. Deixem os jovens trabalhar e não os incentivem ao crime e ao uso das drogas. O trabalho não mata e nem põe ninguém na cadeia! Senhores políticos e demais autoridades, ponham a mão na consciência! Creiam mais em Deus!
11 de fevereiro de 2009 (Quarta-feira)

Aconteceu comigo

Era uma tarde chuvosa, eu havia recolhido todos os sacos de lixo para por na rua e o caminhão pudesse recolher. Eram três sacos. Por estar chovendo peguei a sombrinha e levei um por um até o portão. Em seguida ab ri o portão e fui levando da mesma forma, um por um, até o canto da calçada onde sempre coloco os sacos de lixo, já que o suporte para lixo que ali estava foi carregada pelos malandros. Então levei o primeiro e coloquei-o no cantinho e vim buscar o segundo, depois voltei para pegar o terceiro e qual não foi minha surpresa, vinha ao meu encontro um menino que calculei tivesse sete ou oito anos no máximo, ele carregando o saco de lixo e me disse: - “eu ajudei a avó.” Agradeci e coloquei o saco no cantinho, olhei para o menino e vi que ele voltava da escola. Estava com a mochila e o guarda-chuva, mas mesmo assim ele conseguiu trazer para mim o último saco de lixo. Eu fiquei imaginando quanto as autoridades se preocupam em assinar leis para libertar os bandidos, e os políticos ficam maquinando como fazer para tomar mais dinheiro dos contribuintes, para construir castelos, enquanto uma pessoa sem escrúpulos entra na casa alheia para roubar um mísero dinheirinho que muitas vezes de aposentados que vivem de migalhas, enquanto tudo isso está acontecendo, vejo uma criança dando um exemplo de vida e amor ao próximo carregando até um saco de lixo. Se os nossos governantes dessem este exemplo ao invés de estar viajando para o exterior levando toda a família com o nosso dinheiro, tivesse o bom censo de mudar esta lei que não presta prá nada, a não ser para encher o bolso e as cuecas dos políticos corruptos

Conversando com vocês

Lembro que pelos idos de 1946/47, morei uma curta temporada com meus pais no Alto Garibaldi/São Pedro. Digo curta temporada, porque logo depois saí de casa para trabalhar na cidade. Mas neste pequeno espaço de tempo fiz boas amizades, a gente se conheceu na missa dominical, ou “reza”, como era chamada, porque era representada por um senhor chamado de.... Fuzzi, fazendo o papel de diácono, já que o padre vinha só duas vezes ao ano rezar a missa. Então aos domingos juntava-se o pessoal da região, acompanhavam a reza e depois ficam batendo papo, falando sobre o que haviam feito durante a semana, já que todos trabalhavam na roça. Foi assim que conheci as mocinhas da época que se tornariam minhas amigas e era muito divertido. Entre elas destacaram-se a Regina Fuzzi e a irmã fuzzi,filhas do Sr. .....Fuzzi, a Josefina Milbratz e a irmã Aneta Milbratz filhas do Sr. Oscar Milbratz e Maria Fuzzi. Olinda Kanzler (Não lembro o nome dos pais), Olímpia Hilbert filha do Sr. Antônio e Catarina Hilbert, Anita Kleinschmidt, Hilda Scheberg. Essa era a turma que se juntava também aos domingos à tarde para conversar. Às vezes tinha uma “domingueira”, que hoje a juventude nem sabe o que é. A gente se juntava na casa de alguém e tinha um Sr. Pedrinho Fuzzi, que tocava acordeon e nós dançávamos a tarde toda, só moças com moças e os rapazes ficavam olhando. Depois cada uma ia para sua casa, porque tínhamos que ajudar os pais no serviço de tratar os animais, tirar o leite, recolher os pintinhos, enfim todo o serviço da casa. A gente era feliz e não sabia...
08/06/2009

O meu “eu”

Sou uma mulher com muitos defeitos, mas também de muitas qualidades. Uma delas é quere ser sempre eu mesma, Cecília Zatelli, que jamais quero ter outra identidade. O meu “eu” sempre falou mais alto desde a minha infância e foi assim que aprendi a amar o próximo e respeitá-lo como eu sempre quis ser respeitada e amada. Fiz de tudo na vida, eu sempre sonhei alto até quando eu entrava no mato fechado e cheio de espinhos para catar sementes de “cacheta” para fazer colares e sementes de “guarapuvú”, que eram as chamadas “patacas” que nós jogávamos na escola. Vencia quem acertasse mais “patacas” no buraco feito no chão de terra. Pulava “amarelinha”, brincava de rodas, mas quando era hora de entrar na aula, sempre estava pronta a prestar mais atenção no que a professora ensinava. Não tinha computador, meu computador sempre foi minha cabeça, e até hoje escrevo tudo com a mão e leio com o coração. Falando em mato e espinhos, me lembrei de um detalhe de quando eu era criança, eu tinha um apelido que era “espinho”. Por que eu não sei mas deve ter sido porque eu defendia meu “eu” e não deixava ninguém pisar em mim, por isso, eu me considero uma rosa e não um espinho. Uma árvore que nasce e outra que morre, assim também é a vida, uns nascem e outros morrem. Tem um velho ditado que diz o homem nascer cresce, se forma e depois fica bobo, casa, eu não sei se é verdade, pelo andar da carruagem ninguém mais fica bobo, porque ninguém casa, só “fica”. Por quê ? Porque é esperto! Ou não!
05/07/2009

Eu conto

Mas não contem para ninguém o que eu vou contar. Quando meus pais se mudaram de Rio dos Cedros para o Alto Garibaldi/São Pedro, eu tinha treze para catorze anos, mas uma vontade enorme de conhecer coisas novas. Minha grande fascinação sempre foram veículos, carros, “zorras”, cavalos que eu guiava com destreza, mas também sonhava com automóveis, aviões, imagina e nunca falava prá ninguém destas minhas fantasias. O que eu fazia e todos viam era pescar, subir em árvores (as mais altas possíveis). As frutas não as colhia do pé com um gancho , como se fazia na época, não, eu subia no pé e colhia a laranja , a tangerina, a goiaba, o Abio, que eram as frutas comuns que tinha no pasto e no quintal. Tinha uma roça de café e os pés eram bem altos, eu subia numa outra árvore do lado do de café e puxava o galho para colher e colocá-lo numa bolsa. E podia ter puxado o galho do próprio café e colhê-lo, como o faziam todos, mas aquilo não me fascinava. O prazer de subir em árvores e em ranchos até no telhado era maior que a minha pessoa. Mas um dia para colher goiabas, subi no pé que ficava perto da cerca de arame e não deu outra, lá fui eu me esborrachando encima da cerca de arame farpado e me arrebentei inteira. Mas a lição não serviu para nada, sarei e continuei, até que um dia enfiei o nariz num emaranhado de barraco de maracujá e os marimbondos me pegaram em cheio. Fiquei com o nariz e o rosto todo inchado por alguns dias. Continuei a minha caminhada sem medo do perigo que me rodeava o tempo todo, mas foi muito bom eu ter vivido a minha vida do meu jeito, porque as não eu não seria mais eu. Tudo o que a gente fez lembra com saudade, s[ó não lembra com saudades daquilo que não fez!
06/07/2009

O Nó que não aperta

Quando alguém está com muitas dívidas ou vários problemas difíceis de resolver, costuma-se dizer: - “fulano de tal está com a corda no pescoço”. Mas a corda não tem nó, porque, dívidas a gente paga, problemas a gente resolve – bem ou mal, mas resolve! Quando alguém entra em qualquer lugar a procura de alguém e não encontra, então pára, põem a mão na cabeça e pensa: - “como vou desatar este nó?” Com mais um pouco de paciência também se resolve. agora quando alguém está doente, sofrendo de alguma dor: - “pensa o que será que tenho que dói tanto?” Este é um nó difícil de desfazer, mas não impossível. Vejo por mim, pois sofro de artrite reumatóide, hérnia de disco, bico de papagaio, enfim, estou com tudo e não estou prosa. Mas é incrível, tentei fisioterapia, acupuntura e um longo tratamento com medicações. Mas foi quando resolvi tentar a fisioterapia e a acupuntura que pareceu que tudo piorou, então parei! Eu achei que o meu nó não dava de desatar, mas quando resolvi procurar me consultar com o meu médico que sempre me tratou e muito bem, o Dr. Luiz Bonilauri (da Clínica Santa Cecília), foi que percebi que o meu nó estava realmente desatando, pois com a medicação que ele me receitou, por incrível que pareça já surtiu efeito, quando ele disse que minhas doenças não tem cura, só podem ser aliviadas, para poder ter alguma qualidade de vida. O Doutor foi tão sincero, que, olhando nos olhos dele senti que minha vida ia mudar à partir daquele momento. E mudou! Às vezes uma palavra amiga, dita de coração, vale mais que um frasco de remédio. À partir daquele momento o meu nó começou a se desatar, junto com minha força de vontade. Eu sei que o que tenho, não tem cura, mas nem por isso vou desanimar, vou levantar a cabeça e seguir em frente, continuando com o tratamento ainda vou ter muita história para contar! Se Deus quiser! Aprendi que quando a gente está com uma corda na mão nunca devem os dar-lhe o nó, ou pelo menos não puxar para não apertar o nó e sim procurar desatá-lo. e também não devemos dizer: “Chega, não dá mais”, ou “paro aqui, e não faço mais nada”. Não, nada disso. Pega o primeiro trem que passar e segue em frente, com a corda toda e sem apertar o nó. Se alguém algum dia ler o que eu escrevi, podem crer que é pura verdade o que contei e, por isso, agradeço todos os dias a Deus, por me dar a cabeça para pensar, o médico para me tratar e um filho para me amar. “Obrigado por tudo”.
Jaraguá do Sul 20/07/2009

A Lagoa que não era Azul

Parecia que eu havia voado e pousei num lugar tão bonito que mais parecia um pedaço do céu. Aterrissei sem saber onde estava, mas, sem dúvida, era no Brasil. Sim, porque o Brasil é um pais muito lindo e rico, com tantas florestas, aves, animais e tem até gente, acreditem! Eu olhei ao redor e vi umas montanhas do outro lado de um rio, que imaginei cheio de peixes. Ledo engano, porque o homem conseguiu poluí-lo e acabou com a vida dele, que pena! A gente vê de tudo um pouco e um pouco de tudo. Os campos verdes, as frondosas árvores que nos dão sombra e algumas também que nos dão frutos. Todos os meios de comunicação nos levam a algum lugar, se nós prestarmos bem a atenção, principalmente para quem não tem condição de viajar para conhecer. Temos então os livros, os jornais, as TV’s, os rádios que nos fazem ver e ouvir tudo e assim podemos conhecer o mundo sem sair de casa. O meu estilo de escrever pode parecer pobre, mas me considero rica. Apesar de meu pouco estudo posso ler e escrever sobre este meu Brasil que é um país rico. Rico que eu digo, não é para quem tem muito dinheiro. Falo rico de cultura, por sua gente humilde que constrói o dia à dia, para que fique cada vez melhor. Como diz o título “a lagoa que não era azul”, ela era verde e cheia de esperança, mas tinha um pouco de azul, que é a fé, alguns riscos vermelhos – a cor do amor, e várias outras cores que eram as cores da poluição. Chorei porque vi então que a lagoa não era azul. Chorei porque vi então que alagoa não era azul como eu imaginava: - que pena!
25/09/2009

Ela Partiu

No dia nove de maio de dois mil e nove, liguei para a Ana desejando a ela um feliz aniversário, quando ela completou 84 anos. Ela muito feliz e contente atendeu ao telefone e disse que estava bem apesar da idade e eu pude perceber pela voz que ela realmente estava muito bem! No entanto a vida dá tantas voltas e quando menos se espera, pode cair uma trovoada ou mesmo fazer um sol muito quente ou ainda gear. Para Deus nada é impossível. Ouve-se o canto dos pássaros e de repente se calam, as árvores crescem e depois morrem e assim é com tudo o que está vivo. Com minha irmã Ana não foi diferente. Se num dia conversamos felizes por telefone, no dia 25 do mesmo mês, Deus telefonou para ela dizendo que a queria junto de si. Com o AVC que a acometeu dia 25 conseguiu ainda ficar até o dia 29 quando ela se despediu de todos na terra. O telefone tocou, mas não era Ana que falava e sim a Amélia, dizendo: - “Tia, a mamãe faleceu”. Deixou a todos muito tristes, mas com um consolo, Deus deixou por ela 84 anos entre nós e pode criar a família muito bem, junto com o esposo. Família, que é, aliás, uma família maravilhosa. Criou 10 filhos e teve a felicidade de ajudar a criar alguns netos. Ana, você partiu e agora o nosso telefone é por intermédio de Deus através das orações. Adeus, minha querida irmã e descanse em paz!
1º. de junho de 2009


A taça de vinho

Uma taça de vinho, tinto, rose ou branco, seco ou suave ou mesmo doce. Alguns pãezinhos de queijo, umas batatas fritas, ou um acarajé e uma turma de amigos sentados à mesa, comendo, bebendo e jogando conversa fora. Tem coisa melhor do que bons amigos, eu disse “bons amigos”. Um deles se levanta e diz: “Amigos, eu preciso ir para casa, m as antes preciso passar no supermercado e fazer umas compras senão não entro em casa hoje”. E assim foram saindo todos, cada um para ou lado ou para outro: seguiram seus caminhos. Passou o tempo e tornaram a se encontrar ali naquela mesma mesa de bar, então disse um deles: -“Vocês se lembram daquele dia que aqui estivemos?” – ”Sim, lembramos” – responderam. “Pois é... “– disse o primeiro – “eu queria esquecer aquele dia!” “Por quê?” – perguntaram os outros. ”No caminho de casa, passo por uma rua onde tinha uma casa muito antiga, mas muito bonita e que eu sempre admirava. Ela era feita de tijolos à vista (do tipo enxaimel).” “E daí, o que tem a ver a casa com o dia em que estivemos juntos?” – perguntou um amigo. “Pois é. É que quando cheguei perto da casa, olhei, olhei e pensei, será que estou ficando louco? Que nada. A CASA HAVIA DESAPARECIDO. Tinham destruído aquela linda casa para construir uma nova de madeira. Esta casa era do Sr. Buzzarelo e ficava na Barra do Rio Cerro. Até hoje quando passo por ali me lembro daquela casa, que pela ganância pelo novo perdeu seu lugar ao sol, coitadinha.” Os fortes persistem, os fracos desistem e a casinha fraca se foi. Uns nascem para escrever a história, outros para ler a história escrita e outros, ainda, para destruí-la.
29/08/2009

As quatro estações do ano

Primavera, verão, outono e inverno. Estas estações às vezes se fazem presentes num dia só, como hoje, por exemplo. Amanheceu um dia ameno, sem sol, mas bem agradável, mas ainda pela manhã apareceu o sol e bem quente. Logo depois do meio dia, o tempo começou a se fechar e três e meia da tarde, levantou um vento forte, começou a chuviscar e, em seguida trovejar dando sinal de trovoada. È o tal quatro em um! O ser humano não é muito diferente, falo isto por mim porque às vezes eu levanto pela manhã meio cabisbaixa ou “gorocochó”, mas vou em frente. Começo a fazer o serviço e o meu astral levanta um pouco e sigo em frente, almoço, vejo as notícias na TV. Então meu astral desce de novo, pois só se vê políticos corruptos, gente matando gente. Mudo de canal e aí ouço e vejo: - homem bate em mulher por ciúme e vai preso, porém tive a impressão de que na delegacia perguntaram se ele é pobre ou rico. Se for pobre fica preso, se for rico paga fiança e é liberado e ainda diz – “Não tenho nada a declarar, são coisas de famílias”. E mais uma vez me decepciono com nossas autoridades, que são sempre a mesma coisa, ou seja, o dinheiro fala mais alto. E continuo o restante do dia indignada e chega a noite. Estou cansada, quero ver um pouco mais de TV. Assisto às novelas e em seguida ao noticiário, e mais uma vez, mortes assaltos, seqüestros, drogas, roubos e os políticos felizes da vida levando toda a família para mamar na teta generosa do governo. Mas isto não é nepotismo, são coisas da vida. É normal que façam isso, porque nós brasileiros pagamos tantas taxas e impostos para o governo e se eles não gastarem quem vai gastar, não é mesmo? Eu só queria, antes de morrer ter o prazer de ver uma dessas altas autoridades passar um mês, só um mês, com o salário de um aposentado que ganha o mínimo. Eu queria ver o que este político, ou seja ele lá quem for, passar um mês com um salário mínimo. Gostaria de assistir de perto, só para ver como ela faria para sobreviver, coisa que nós temos que fazer com este salário, ano após ano, com estas migalhas, enquanto eles gastam o dinheiro da nossa saúde e da nossa sobrevivência. Eles não vivem as quatro estações do ano. Para eles sempre é dia de festa, fazem quadrilha não para homenagear a São João, São Pedro e Santo Antônio. Formam quadrilhas e ficam estudando qual é o próximo golpe que irão aplicar em nós pobres brasileiros. A trovoada passou, estou um pouco mais calma, mas quando me lembro de tanta injustiça, me perco na madrugada e espero o dia amanhecer. Ele não amanhece. Não vejo a solução. Espero a noite chegar novamente. Ela não chega. Então realmente não tem outra solução, a não ser se apegar a Deus. Ele me conforta, me acalma a minha alma. Sinto-me então mais leve e é por isso que agradeço a Deus todos os dias e todas as noites, por ele me proteger a mim e a toda a minha família, amigos e inimigos e é por isso que eu digo: - Obrigada meu Deus!
07/09/2009

Minha primeira habilitação

Foi lá pelos idos de 1975, no mês de julho que eu fiz uma loucura. Precisei ir até ao centro da cidade para cuidar dos dentes. Resumindo, fui ao dentista e na volta passei em frente ao escritório onde o Sr. Lúcio Machado, que dava aulas de teoria e prática para formar motoristas. Eu sempre tive vontade de aprender a dirigir. Entrei no escritório sem compromisso. Perguntei como deveria fazer para me matricular. Ele olhou para mim e disse: “É só trazer sua identidade e já podemos fazer a matrícula e amanhã já pode começar as aulas. Como eu tinha meus documentos na carteira, já fiz a matrícula e no outro dia, pela manhã, fui assistir a primeira aula. Mas antes disso cheguei em casa e disse ao meu marido: - “olha me matriculei na auto-escola, vou aprender a dirigir, vou começar amanhã e preciso de Cr$ 250,00 (duzentos e cinqüenta cruzeiros) para dar de entrada e os outros Cr$ 250,00, quando receber a carteira.” Meu marido me chamou de louca e disse que eu não iria dar conta, porque eu era muito nervosa e afoita. Disse mais: -“nós nem temos carro!” Mas eu não desisti e disse: - “Carro a gente compra depois que eu souber dirigir” – sabendo que ele também não dirigia, nós só pilotávamos bicicletas que era o nosso meio de transporte. Mesmo contra a vontade do meu marido, eu fui fazer curso. Primeiro as aulas teóricas. Fiz oito aulas e até então não havia pegado no volante e tive a oportunidade de ir à Joinville, com a auto-escola fazer a prova teórica, que na época era feita lá. E fui sem ter aulas práticas, fiz só o exame de teoria. E passei. Voltamos para Jaraguá e no outro dia comecei a fazer a prática do volante. E u teria que fazer doze aulas, mas fiz apenas nove e o instrutor me perguntou se eu queria tentar o exame prático em Joinville, antes de terminar o curso. Eu perguntei: -“Posso?” “Claro” – disse ele – “se você rodar, continuamos as aulas e voltamos novamente para Joinville para fazer o exame”. E lá fui eu! Para minha maior surpresa, passei no teste e já podia receber minha carteira. Devo dizer que as aulas não eram freqüentes e sim alternadas, havia semanas que fazia uma aula, outras duas, mas nunca mais de três aulas por semana, só que deram livros para estudar e eu estudava muito, porque a vontade de dirigir era prá mim maior do que qualquer obstáculo. Ralei prá caramba mas cheguei lá. Uma observação, quando fui me matricular, eu perguntei ao instrutor se eu não seria muito velha para aprender a dirigir já que eu estava com quarenta e três anos e ele me incentivou e disse que a idade não muda nada, eu é que deveria saber o que eu queria. Se eu podia, então fui em frente. Só para terminar mais esta etapa da minha vida, foi no dia 11 de novembro de 1975, que eu recebi minha primeira habilitação. Mas lembro como se fosse hoje apesar dos meus quase 77 anos. Naquele dia eu via mais uma vitória na minha vida. Sempre fiz tudo o que eu quis na minha vida, ou melhor tentei fazer. Às vezes dava certo, à vezes não. Tá tudo bem, só sinto não ter aprendido a pilotar um avião. Há-há-há! Obrigada meu Deus.
18/09/2009


O telefonema

Eram quatro horas da tarde do dia 11 de setembro de 2009. Uma tarde chuvosa. Eu estava sentada na cozinha de minha casa conversando com uma sobrinha (a Lorita Holler e Joice, a filha dela). Elas tinham vindo me visitar e, de repente, o telefone toca. Eu atendo: - “Alô”. Do outro lado uma voz perguntava: - “Quem está falando?”. Então eu perguntei: - “Com quem quer falar?”. A voz disse que queria falar coma Cecília Zatelli. E, por eu não reconhecer a voz perguntei: - “Quem quer falar com ela?” E ela respondeu: - “È a Regina Fuzzi”. Fiquei pasma. Era uma amiga cuja voz eu não ouvia e sequer via pessoalmente há muitos anos. Ela me ligou para dizer que gostou muito dos meus livros que escrevi. A filha dela era a Madalena comprou dois: o primeiro, com o título de “Minhas e outras histórias” e o segundo denominado simplesmente “Cecília”. E deu de presente para a mãe. Tivemos uma longa conversa. Ela me fez lembrar de muitas colegas de juventude, lembrando uma a uma, cada qual com sua história diferente. O tempo passou, o homem foi à lua e olha nós aqui outra vez, depois de tantos anos, longe uma da outra e cada uma traçou seu rumo na vida, de um jeito ou de outro, mas continuamos vivas para poder recordar, pois recordar é viver. Viver com dignidade, com muito amor, por tudo e por todos, principalmente pela vida, e com muita paz, saúde e fé e temor a Deus. Com a promessa de ambas as partes, desligamos o telefone, mas prometendo uma para a outra de nos encontrar um dia e poder matar a saudades. Matá-la não e sim cultivá-la, pois a saudades é tão boa que quando tudo acaba, sempre fica a saudades. Então ela não pode morrer e ninguém poderia matá-la jamais. E assim termino este episódio de minha vida com agradecimentos à Deus, por ele me deixar escrever mais esta passagem em minha vida. Ainda quero lembrar quem não dá valor ao passado, não tem presente e nem futuro, já que tudo começa no passado. É o que eu penso. O bem e o mal sempre devem estar juntos para saber qual dos dois a gente quer seguir.
11 de setembro de 2009


Na contra mão

Eu estava andando na contra mão, quando vi do outro lado da rua um ônibus estacionado. Era um ônibus muito antigo, daqueles que ainda tinham o porta-malas no teto do carro: era uma grade bem grande que tomava todo o teto do ônibus. Lá eram colocadas as malas, sacos, pacotes, todos presos a grade. Até gradeados para transportar galinhas e às vezes até porquinhos, se não fossem muito grandes eram transportados encima do ônibus. À distância que o ônibus fazia três vezes por semana era de 30 ou 37 quilômetros, todos por estrada de terra, que o Sr. Oswaldo Bloedorn sabia como ninguém dirigir nestas estradas. O Sr. Oswaldo era o dono do ônibus. Ele morava no Alto Garibaldi, na localidade de Jaraguazinho. Fazia este percurso trazendo o povo do interior para fazer os seus negócios na cidade, então eram estes passageiros que traziam as mercadorias para vender na cidade. Além das galinhas e porquinhos, traziam também os ovos, leite, queijo, aipim, batatas, enfim tudo o que tinha sobrando que a família não conseguia absorver, traziam para a cidade para vender e com isso pagavam seus impostos, compravam roupas e o resto dos alimentos que não eram cultivados no sítio. Vinham sempre as segundas, quartas e sextas-feiras. Desciam pela manhã e subiam à tardinha. No começo falei em andar na contra mão e quem não fez isso um dia, não precisa ser a pé ou de bicicleta ou ainda de moto, ônibus, caminhão, ou ainda de avião. A contra mão da vida na qual às vezes se entra e não dá mais para voltar, precisa de muita força de vontade para sair na contramão, é necessário levantar a cabeça, olhar para o lado e quem sabe atravessar a rua e seguir pela outra avenida onde nos é favorecida a mão. Foi isto que o Sr. Oswaldo fez durante toda a sua vida, dirigir sempre na mão certa. Foi por isso que ele conseguiu levar o ônibus até o ponto final. Hoje o asfalto está em toda parte e até no Garibaldi/Jaraguazinho tem o asfalto. Se o Sr. Oswaldo estivesse vivo a vida dele seria bem mais fácil para poder dirigir um ônibus mais moderno e no asfalto. Ou não?
19 de setembro de 2009

Sem Título

Dia 28 de outubro de 1954 amanheceu um lindo dia de sol. Era um convite para o trabalho, para quem gosta de trabalhar. Eu estava grávida, prestes a dar a luz. Mas aquele dia convidava para a faxina da casa. Como eu morava com minha mãe e minha irmã Clara e o cunhado Arthur, com sua família, e me via na obrigação de ajudá-los no serviço. Era o mínimo que eu podia fazer na época, já que eu tinha sido abandonada pelo pai do meu filho pronto para vir ao mundo, Eu estava de graça, pois era a primeira vez que passaria por esta experiência de ser mãe e mil coisas passavam pela minha cabeça. Mas aquele dia, especialmente, eu queria era trabalhar. Então tirei todas as cortinas das janelas da casa de minha irmã e lavei todas, enquanto as cortinas secavam ao sol aproveitei e lavei todas as janelas as vidraças, enfim, fiz uma faxina. A tardinha aproveitei e passei cortinas que já estavam secas e as recoloquei no lugar – Arre! Missão cumprida! Chegou a noite, jantei e depois fui descansar. Ma já não me sentia muito bem. Como todo marinheiro de primeira viagem não sabe se o mar é alto ou baixo, eu me sentia assim, sem saber o que iria acontecer comigo. Era meia-noite do dia que iria começar 29/10/1954. Eu comecei a sentir muita dor. Então falei para minha mãe. Ela logo disse que sabia qual era esta dor. Então meu cunhado chamou um vizinho que tinha um caminhão (este era o único meio de transporte) e junto com minha mãe. E o Sr. Horácio Rubini que era o dono do caminhão, me levaram até o Hospital São José, que na época era o único hospital em Jaraguá do Sul e estava onde hoje se localiza o Hospital Jaraguá passou a se chamar assim depois que apareceu o outro hospital São José, que fica localizado no Centro. Pois bem, chegando lá o Sr. Horácio nos deixou e voltou para casa, que era a uma distância de sete ou oito quilômetros. Eu e minha mãe lá estávamos esperando o meu menino nascer, cheia de medos, mas firme andando de um lado para o outro, enquanto podia andar. De repente não consegui mais parar de pé. Minhas pernas fracassaram e deitei. Eram duas horas da madrugada e mal consegui deitar. E meu menino nasceu, lindo como um anjo que vinha do céu. Minha mãe teve o privilégio de tê-lo em seus braços antes de mim. Amanheceu e minha mãe foi para casa a pé, pois não havia CONDUÇÃO. Eu fiquei e por se tratar de um fim de semana, não davam alta. Só recebi alta no primeiro dia útil que era o dia 31/10/1954. Meu cunhado e minha irmã, vieram me buscar com o mesmo caminhão e fomos imediatamente a Igreja de Sta. Emília, localizada mais ou menos onde hoje é a Matriz de São Sebastião, só que era mais no alto do morro, uma igrejinha pequena, mas muito bonita, com vitrais enormes e coloridos. E foi ali que meu herdeiro foi batizado como nome de Loreno Luiz Zatelli. Uma observação: escolhi este nome – Loreno – porque conheci uma família em Jaraguá do Sul cujo pai se chamava João e o filho Loreno. Eram os Marcatto. O pai do meu pequeno Loreno também se chamava João. Por eu achar a família Marcatto muito bonita e bem sucedida repeti a dose com o Loreno filho do João. Hoje é o dia 29/10/2009 e o meu pequeno Loreno cresceu. Hoje é um homem e está fazendo 55 anos, bem ou mal vividos. Mas está aí firme e forte, me ajudando no que pode, já que depois de tudo, eu perdi meu companheiro que foi um pai para meu filho. Estou sozinha há mais de cinco anos, mas sempre com Deus do lado e meu Santo Antônio me protegendo. Meu filho me dando a maior força. Por isso eu digo mais uma vez: obrigada meu Deus!
Jaraguá do Sul, 29 de outubro de 2009.

Mais um fim de ano

Eu me sinto muito frágil, fico triste e alegre ao mesmo tempo. Lembro tudo o que passou no ano que se finda e fico imaginando o novo ano como será? Todos se preocupam em vestir uma roupa nova, branca talvez, ou amarela, azul, sei lá. Só eu penso diferente. E acho que o bom das pessoas é o que está dentro delas e não na roupa. Porque é a gente descasca a fruta e não come a casca? Porque o bom está dentro dela, a casca pouco importa. O ano é novo, mas a pessoas envelhecem e devem se retratar desta forma. Amarem-se umas às outras, respeitarem-se e acima de tudo se aceitarem com elas são. A menos que sejam muito mais e queiram se resignar e começar o ano novo com o coração aberto e com liberdade de poder fazer o bem, seja para quem for. É assim que eu acho deveria começar o ano novo, com sinceridade, sem mentiras ou calúnias, sem rancor, ódio, inveja, porque se for assim nada vai valer aquela roupa nova de cores variadas e sem nada por dentro. Ali adiante você pode ser atropelado ou causar um acidente e a roupa não vai te salvar. Faça uma oração ao lembrar o ano novo, que só assim ele virá com a proteção divina. Se você não pode comprar uns fogos para queimar na virada do ano, não faz mal, vira o ano cantando, rindo, junto com quem você quer bem, com quem você ama. Os fogos queimam e se acabam, mas o amor, a convivência, a fraternidade deve ser eterna. Feliz ano novo
1º./11/2010


Um passeio inesquecível

Por me encontrar meio “dodói” e não poder andar muito, pois estou com artrose e bico de papagaio, então estou muito parada, se ando muito dói a perna. Então não dá para andar, daí vamos escrever. E me lembrei de um passeio que fizemos e meu marido. Era o fim de ano de 1977, nós saímos de casa sem destino. Fomos até Curitiba e depois seguimos no sentido de Foz do Iguaçu no Paraná. Mas antes passamos uma noite em Laranjeiras do Sul , no outro dia era véspera de ano novo. Fomos até Matelândia. Lá passamos o fim de ano com um primo do meu marido que era pastor da Igreja Evangélica Luterana. Naquela noite ainda fomos até Céu Azul, porque o Pastor foi rezar um culto a meia noite. O casal tinha um filho pequeno que estava com sete meses – o pequeno Samuel. O pastor se chamava Romeu Otto Hoepfner e a esposa Mirian Siegler Hoepfner. O pequeno Samuel havia nascido no dia 22/05/1977. Depois do culto voltamos para a casa do Romeu e junto com outro casal de pastores, festejamos o ano novo. O pequeno Samuel tinha um peniquinho que lhe servia de banheiro. A Mirian sentava ele no penico e ele ficava tão quietinho fazendo suas necessidades. Sua pose e caladinho assim ele até me admirava! No dia primeiro de janeiro de mil novecentos e setenta e oito, bem cedo, partimos rumo ao Paraguai. Viajamos até quase o meio dia, até chegarmos a Assunção, capital do Paraguai. De lá fomos até o Chaco, atravessamos o Rio Paraguai e chegamos lá na reserva indígena. O mesmo guia que conduzia a embarcação que parecia um ônibus, ele mesmo nos levou para conhecer os índios que vivem ainda como os verdadeiros índios. Foi tudo muito bonito. À noite, após o passeio, dormimos no Ford Belina, uma vez que nós sempre levávamos tudo para poder pousar nela, se fosse preciso. Então encostamos a Belina em frente ao Palácio do Governo em Assunção e dormimos. No outro dia iniciamos a nossa viajem de volta ao Brasil. No Brasil fomos visitar a Itaipu Binacional e depois as Cataratas do Iguaçu. Foi um passeio inesquecível. Sinto saudades de todas as extravagâncias que eu e meu marido fazíamos. Nós nunca programávamos nada. Resolvíamos viajar e lá íamos nós. Uma vez em viajem nós resolvíamos para onde ir, e foi sempre muito bom. Foram bons tempos que não voltam mais. Mas com a lembranças a gente vive tudo de novo, até um passeio inesquecível!
02/11/2009

O novo melhor

Não há nada no mundo que sendo bom, não haja algo melhor! Se o dia foi bom, virá outro melhor. Se o trabalho foi bom, pode ser melhorado. Se teu amigo for bom, poderia aparecer outro melhor. O amor está bom, ele pode melhorar e muito. Quando a gente pensa que está tudo bom é aí que vai começar a melhorar. O livro que estás lendo, está gostando? Mas vias ter outro melhor. O meu que estou escrevendo, por exemplo. Penso muito no passado porque recordar é viver. Por isso eu vivo cada dia lembrando o que passou. Lembro o dia que sai de casa para trabalhar. Foi muito difícil para quem nunca tinha saído de casa a não ser para passear. De repente você está numa casa estranha e chega a noite e não dá para voltar para casa, mas a vida não estava ruim. Mas eu sempre pensava em melhorar. Levando duas malas, uma bem pequena, a outra um pouco maior. Na pequena levava meus pertences e na maior o que meus pais haviam me ensinado! Recomendações: - nunca mintas para ninguém, nunca tomes nada dos outros, cuida só do que é teu, nunca respondas “malcriação” aos mais velhos. Faças sempre tudo direitinho o que te mandarem fazer, obedece sempre aos teus e sejas sempre amiga dos teus amigos e amigas. De um modo geral é: nunca te deixes levar para o mau caminho. Muito difícil, mas não impossível. Até ali tudo bom, mas eu sempre quis melhorar! Levantaria muito cedo para começar meu trabalho. Depois de já ter feito alguma coisa, ia tomar meu café da manha. Assim foi minha vida, sempre trabalhando para poder ganhar alguma coisa e poder melhorar minha vida. E, de certa forma, melhorou, só que com muito sofrimento e sacrifício e também muita alegria, porque a vida não é só feita de sofrimentos ou só alegrias. Tem o trabalho e às vezes muita desilusão. Mas tudo faz parte da vida para que a gente possa crescer espiritualmente e também financeiramente. Nunca faltaram. Nunca faltaram, em minhas orações, agradecimentos a Deus, por tudo o que conquistamos, porque tudo era graças a Ele que sempre me protegeu. Apesar de tudo tive uma vida equilibrada em todos os sentidos. E é por isso que agradeço todos os dias e todas as noites de minha vida, mesmo quando sentia uma dor de dentes, ou quando me machucava (como numa ocasião em que cortei dois dedos numa plaina na marcenaria), mesmo com dor de barriga ou dor nas pernas ou seja qual for a dor que esteja sentido eu digo: Obrigada Meu Deus!
18/04/2010

Lembranças

Amnarelinha, Pega-pega, esconde-esconde, ciranda-cirandinha, a gata pega, bolinhas de gude ou jogo das patacas, eram jogos e brincadeiras do meu tempo de criança, que hoje as crianças nem conhecem. Mas por um lado é bom porque se ainda existissem este brinquedos nós, os idosos, iramos quere brincar. Daí iriam dizer: - “olha aquela velha virou criança de novo, ficou gagá” – e não ia dar certo! Mas que era bom, ah isso era! Na escola eu tinha muitas coleguinhas, algumas mais especiais, como por exemplo, tinha uma memina que se chamava Celina Lazzarini. Ela tinha mais ou menos a minha idade. O pai dela ficou viúvo e tinha vários filhos que ele criou sozinho. Mas Celina era a única menina e era muito minha amiga. Por morar próxima a minha casa o pai dela a deixava brincar comigo aos domingos a tarde. Havia um coral de homens que cantavam na igreja na hora da missa e meu pai e o pai dela faziam parte do coro. Eles ensaiavam durante a semana, sempre á noite. Juntavam-se um dia na casa de um, outro na casa de outro. E assim quando o ensaio era na minha casa a Celina vinha com o pai, o Sr. Caetano Lazzarini. Então nós brincávamos de bonecas até que ele ia embora. Nós tínhamos muitas abóboras para tratar os porcos, então eram retiradas as sementes e secadas ao sol, sobre uma taboa. Depois eram guardadas para a próxima plantação. Mas tinham em seu interior, depois de descascadas uma amêndoa gostosa. Depois de secas, tirava-se a casca e se podia comer a amêndoa. Numa dessas noites, enquanto acontecia o ensaio lá em casa a Celina veio com seu pai, como de costume e eu perguntei se ela gostava de comer sementes de abóbora. Ela disse que sim. Então pegamos as sementes , setamos na carroça que estava no pátio e comemos todas as sementes que minha mãe havia reservado para plantar. Quando ela foi ver não tinha sobrado nenhuma prá contar a história e nós duas ficamos com uma baita dor de barriga! A Celina quando terminou o curso na escola da região, foi para um convento e se tornou irmã catequista. Depois não sou mais nada dela. Que tempos bons aqueles em que a gente brincava sem se preocupar com nada, que pudesse acontecer no dia seguinte. Tudo era festa, tanto na escola quanto em casa. A gente não tinha rádio, muito menos TV. Mas tínhamos os livros que nos ensinavam tudo o que precisávamos saber. Quando era verão e as noites quentes de luar e o céu estrelado eram um convite para dar uma volta, então minha mãe dizia para meu pai: - “vamos até a casa do Arduino Dalpiaz?” e papai já concordava e nos levavam junto para brincar com as crianças. Uma noite dessas, fomos lá na casa deles, a casa do Arduino e da Ester (que era a esposa dele). Era uma noite linda de luar. Apareceram mais algumas primas que também queriam brincar. Por ser uma noite muito clara, por causa do luar, brincávamos na rua, no quintal da casa que tinha muitas árvores. Estávamos brincando de esconde-esconde. Era assim, uma ficava no posto como soldado e as outras se escondiam. Essa que ficava tinha que tapar os olhos e contar até cinqüenta, então ela gritava: - “Lá vou eu”. A última que ela achava tinha que ficar nos posto. Só que quando ela era encontrada tinha que gritar seu nome, prá gente saber que esta era a que estaria fora. Eu só caia o tempo todo. N ao conseguia correr, levava cada tombo. Machuquei-me toda, ralei os joelhos, mas me levantava e seguia em frente. Nós estávamos cansadas quando de repente a Dona Ester disse: “Venhi, matelote, venhi a bevere Il café, venhi anche voi altri matelate”(1) Fomos todas para a cozinha e uma menina começou a dar risadas. Ela olhava prá mim e ria de se torcer. Todas queríamos saber por que ela ria tanto! Ela disse que eu caia tanto porque estava com a saia do uniforme do lado avesso e a bruxa tinha sentado em cima de mim e me derrubava. Eu havia ficado tão contente quando a mamãe disse que iríamos lá no Arduino, que fui imediatamente trocar de roupas. Vesti meu uniforme de escola e a saia havia ficado do avesso. Então rimos todas juntas e tomamos o café e voltamos a brincadeira até que meus pais chamaram para irmos para casa.Os nomes das meninas que estavam na brincadeira, além de mim, eram minha primas Adélia e Honória, a Delfina (que era filha do Arduíno) e havia também os meninos: Lino, Honório e Gelindo (irmãos da Delfina) e o Marino que era meu primo irmão da Honória, da Adélia e Mercedes. E assim encerramos a noite de brincadeiras.
18/06/2010
(1)”Venham garotos, venham tomar café, venham vocês também garotas”


Quinze de Setembro

Era um domingo lindo de primavera dia de Nossa Senhora das Dores (La doloratta). O sol já se fazia presente. O dia prometia, os sinos da pequena capela de Nossa Senhora repicaram chamando os fiéis para a santa missa. A pequena capela ou igrejinha se situava num morro não muito alto no pequeno povoado chamado Encruzilhada (La crozara). O povo era muito religioso, eu sei porque lá nasci e me criei até meus catorze anos. Depois deixei este lugar com muita saudades. Mas é a vida. Assim mesmo precisamos seguir em frente e construir nossa existência cada um do seu jeito. Mas como falei no começo era dia de Nossa senhora das Dores, padroeira daquela capela e, portanto, dia de festa. Todos vinham assistir a missa e depois começava a festa propriamente dita. Tinha churrasco, pão doce de vários tipos e tinha boa música para alegrar o povo. Na véspera os homens haviam cortado palmitos no mato, haviam enfeitado a subida para a capela, bem como pátio e ainda haviam amarado bandeirinhas nos palmitos. Era um dia de festa linda, onde todos estavam felizes. Tinha também rifas com brindes que o povo mesmo oferecia para alegrar ainda mais a festa. Também traziam bolos e pão que faziam em casa e doavam para a manutenção. Tinha também uma cancha de bocha que ficava ao lado da igreja, perto da armação do sino, que aliás, tinha uma corda pela qual se puxava para ele repicar, chamando os fiéis como já disse, para a missa. O meu pai com mais alguns amigos costumava ir aos domingos a tarde jogar bocha lá na cancha da igreja. Era o divertimento dos homens daquele lugar. Costumavam também jogar cartas que chamavam de “cinquilho”, ou ainda jogavam “La mora”. Este era outro jogo gostoso de se ouvir, eles gritando números para saber quem iria acertar. Mas voltando para o dia da festa quando tudo parecia perfeito e certo, aconteceu o inesperado já era tarde e tinha uma turma de homens jogando bocha. A cancha era cercada de taboas que serviam de banco para quem estava apreciando o jogo. De repente ouviu-se uma gritaria, um alvoroço, um corre-corre. Havia um senhor passando mal e todos gritavam por socorro, pois uma cobra havia picado o Senhor Angelo Vicenzi, mais conhecido como Angelin Roxo. A cobra havia picado o dedo da mão do Sr. Angelo e naquela época os recursos eram poucos. Apesar de levarem ele a um pequeno hospital que havia na vila, chamado Hospital Dom Bosco, apesar de todo o esforço do médico o Sr. Angelo chegou a falecer e por se tratar de um membro muito fiel à igreja, a festa acabou e todos ficaram muito tristes pelo acontecido. Segunda-feira a mesma igreja que estiveram em festa no domingo se cobriu de luto ao receber o corpo do Sr. Angelo para a missa fúnebre. Esta é a minha história verdadeira que aconteceu quando eu tinha oito anos de idade, mas que ficou para sempre na minha memória e por isso resolvi contar para vocês. Já se passaram muitos anos, afinal já estou com setenta e sete anos, mas c gosto muito de lembrar o passado. Para mim tanto faz se foi triste ou alegre. Bom ou ruim o passado é sempre lembrado porque eu sempre digo que quem não tem passado só vive o presente, já que o futuro a Deus pertence.
30/06/2010

A Cama de Casal

A cama de casal pode ser considerada um palco, onde um casal age e fica representando o tempo todo. Mas para ser feliz são necessárias três coisas: amar, amar e amar! Sim porque quem ama respeita, quem ama aceita, quem ama perdoa, quem ama quer muito bem. E quem quer bem sabe amar é uma força que transporta de um lado para o outro sem machucar. Então não façam da sua cama um palco. Façam dela um ninho de amor! Nossa casa pode ser muito grande, mas mesmo assim às vezes não cabe nela um determinado móvel grande, ou algum aparelho que não tenha sido planejado antes. Mas o amor cabe em qualquer cantinho, por menor que seja ele cabe lá. Ninguém precisa pagar para amar. O amor é de graça. Deus amou e ama a todos, sem perguntar isto ou aquilo. Então faça o mesmo: ame sempre, seja quem, quando e como for. Ame sempre!
01/03/2010

As pontes de Jaraguá do Sul

As enxurradas levam as pontes. O desgaste, a corrosão, tudo leva a acabar com as pontes. Aí começa a parafernália. Os políticos pedem dinheiro para o governo, mas com a enxurrada, o dinheiro vem tão rápido que não consegue parar na ponte e vai direto para os bolsos dos políticos corruptos. Quando o dinheiro está nos bolsos deles, ou nas cuecas, ou mesmo nas meias, eles estudam para pedir outra remessa. Acontece que o engenheiro errou na conta e o dinheiro não deu para cobrir as despesas. Então vem outra remessa, mas tem mais bobos vazios esperando e esta também não cobriu as despesas. E vem mais dinheiro e nós podbres contribuintes babacas acreditamos em tudo o que esses vagabundos nos impõe. Não importa que as pessoas tenham que desviar vinte ou quarenta quilômetros para poderem resolver seus problemas, inclusive para ir pagar seus impostos. A palavra é bem clara: IMPOSTOS!. E ai de nós se não os pagarmos!
28/01/2010

O matadouro

Este então foi construído e sem ser usado já passou por várias reformas. A eletricidade, por exemplo, já foi feita três ou quatro vezes. O abatedouro não ficou pronto, mesmo assim, mas o eletricista ficou rico. Agora querem alugar para terceiros, mas, quem quiser utilizá-lo terá que fazer mais reformas e com certeza os ladrões do dinheiro público estarão à postos para ver quem vai ser contratado para esta reforma e o coitado que vai alugar vai sustentar mais uma remessa de vagabundos, se ele não for experto. Os nossos políticos não aprenderam a administrar nada, só aprenderam a roubar. Eles são capazes de virar dia e noite estudando como dar um novo golpe. Pobre Ginásio Arthur Müller! Chegou a tua vez. De certo não tinha mais nada para atacar e vão mexer nele para fazer um terminal rodoviário e os jovens que ali jogavam ou se ocupavam em fazer alguma coisa boa, no esporte, no entretenimento, enfim se divertiam ali com coisas boas, até isso lhes será tirado. Os jovens já não podem trabalhar, por serem considerados de menor idade. Se eles não tiverem algo de bom para se entreterem, começam a apelar para as drogas. Quando se forma se formam em alguma coisa, quando isso acontece e vão procurar serviços, vem a palavra chave: tens prática? Que prática poderão ter se nunca lhes foi permitido praticarem em qualquer coisa?
28/01/2010

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Em meu tempo de criança meus pais moravam no interior em Rio dos Cedros. Eles tinham um terreno muito grande para plantar e retirar dessa terra seus alimentos, como por exemplo, aipim, batata doce, chuchu, arroz, feijão, além de taiá branco, tia Japão. Além desses era também plantado o verdadeiro inhame (Branco e vermelho), que era mais usado para tratar os porcos. Também su usava a soca de milho mais bonita para fazer o pão de milho. Meu irmão Ferdinando era carpinteiro, mas nos fins de semana gostava de caçar. Saía cedo para o mato que era nosso e nós que éramos crianças ainda (principalmente eu que era a mais nova da família) Eu ficava só aguardando meu irmão voltar do mato, porque sabia que ele traria além dos tucanos, macucos e outros pássaros como o jacu, a jacutinga, as rolas, que eram as maiores. Só se caçava o tanto que se podia comer sem desperdício, já que naquele tempo havia muita caça e todos costumavam caçar para comer. Mas eu ficava esperando ele trazer frutas do mato, como por exemplo, o abio, mamão do mato que era bem pequeno e só se podia comer descascando dentro da água, se não ele “mordia” na língua. As nós comíamos com muito prazer, ele era muito gostoso. Ele também trazia maracujá, goiaba e outras frutas cujo nome não lembro mais. E sabem onde ele trazia estas frutas? Dentro da camisa! Quando ele chegava em casa eu olhava para a barriga dele, se ela estivesse bem gorda, tinha muita fruta, se não tinha pouca. As frutas que ele trazia também tinham a ver com a época. Conforme o caso havia também o bacabari e a cumbuca, frutas que hoje em dia já quase não se vê mais, porque são frutas selvagens. Eu consegui ter aqui onde eu moro alguns pés de bacabari e também de cumbuca. O que eu não consegui foi a jabuticaba, mas tenho um pé de cacau que já deu vários frutos e que também são gostosos. Meu pai também gostava de caçar, mas ele sempre esperava a época do milho, que daí caçava porco do mato. Eles vinham em bandos para comer o milho sempre quando era a época da colheita. Meu pai ficava escondido e quando vinha o bando ele matava um e botava nas costas e o resto podia fugir e fugia. Ele então vinha para casa e dai limpavam o porco e salgavam a carne para não estragar já que não existia geladeira. Depois enrolava-se em palha de milho e colocavam tudo em tonéis de madeira. Dali era retirada aos poucos para preparar e comer. E assim era a vida de meus pais junto com a família. Ainda nem falei que meu pai tinha uma pequena ferraria onde ele fazia ferramentas para os colonos e também colocava ferradura nos cavalos. Por isso ele ia muito pouco à roça. Era mais a mamãe e as filhas que plantavam e colhiam, já que dos filhos um era carpinteiro (que era o Ferdinando) e o Cirilo ajudava o papai na ferraria. O Nicolau era motorista de caminha e trabalhava para uma firma de Blumenau. Então sobravam as mulheres que eram dez filhas e mais a mamãe. Só que as mais velhas foram casando e cada uma tomando seu rumo. O Ferdinando e o Nicolau também casaram e assim a família foi diminuindo. E assim foi uma época da nossa vida que foi muito boa. Hoje estou com setenta e sete anos e agradeço a Deus todos os dias e noites, por ainda poder escrever, ler e pagar minhas contas, apesar de ser viúva a seis anos. Mas tenho meu filho que olha por mim e me ajuda quando se faz necessário. Eu digo mais uma vez: obrigada meu Deus.
14/04/2010


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A distância entre Rio dos Cedros e Rio Ada era de, mais ou menos, quinze quilometros. Rio Ada era onde moravam meus avós por parte de mãe. Eram o vovô José e a vovó Clara Kraetzer. Nos gostávamos muito de passear na casa deles, porque ficava bem no meio do mato. Tinham um rio, bastante gado, um pasto enorme e nós corríamos pelo pasto até cair de cansadas. Nós, que eu digo, éramos a minha prima Amanda e o primo Wilfred. De vez em quando ainda iam também minhas irmãs gêmeas Catarina e Olinda . Mas geralmente elas ficavam em casa para ajudar a Clara e a Ana a fazer o serviço. Nós íamos a pé, eu e mamãe. Só quando o papai ia junto íamos de carroça, com dois cavalos na tração. Essa era a única condução possível naquele tempo, já que não existia carro ou ônibus. Então era só a pé ou de carroça. Na casa de meus avós, naquele tempo, já morava o tio Ricardo, que já era casado com a tia Guilhermina, pais da Amanda e do Wilfred. Eles tinham muitos pombos caseiros. Era pombo por tudo quanto era lado. Eu dormia junto com minha prima e quando amanhecia o dia a gente escutava os pombos arrulhar, pedindo comida e o rio fazendo aquele barulhinho gostoso, passando bem ao lado da casa. Era uma coisa muito fascinante. Nós nos levantávamos e íamos lá no rio lavar o rosto naquela água fresquinha e limpinha. Depois tomávamos o café e íamos tratar os pombos, as galinhas, os patos e marrecos. Até gansos tinha lá no sítio. Uma vez fomos com papai, mamãe eu, porque o papai queria trazer de lá um cachorro que meu tio deu para meu pai. E lá fomos nós de carroça. Mas antes de chegar na casa de meu avô tinha uma serrinha bem do lado de um rio e perto do rio tinha uma fábrica de papelão que era tocada à água. A subida da serrinha dava medo porque o rio ficava lá embaixo e fazia barulho por causa da represa. Nossos cavalos se assustavam e se não se segurasse firme nas rédeas eles disparavam e eu me borrava de medo. A volta é que foi perigosa. Eu tive que sentar mo fundo da carroça e segurar o cachorro que queria fugir o tempo todo. Ele latia e pulava e eu tinha que segurá-lo e quando chegamos a represa o bicho pegou. Eu segurava o cachorro, ele queria pular e eu tinha medo que os cavalos se assustassem e disparassem. Eu segurava o cachorro e chorava de medo e papai brigava comigo para que eu ficasse quieta. O cachorro se chamava “Levanta”. Era grande e todo branco. Então eu dizia para o cão para o cão: - “Levanta, fica quieto, se não eu morro de medo. E o “Levanta” nada de ficar quieto. E foi assim até chegar em casa. Mas não terminou aí não... Depois de algum tempo o cachorro ficou muito bravo e corria atrás das pessoas na rua, principalmente quem estava de bicicleta. Ele chegou mesmo a derrubar as pessoas, mas nunca mordeu ninguém. Meu pai não queria manter o animal na corrente e como a cerca era só de arame farpado ele passava facilmente pelos fios e ganhava a rua. Não sei quanto tempo se passou, até que um dia encontramos o “Levanta” morto. E o “Levanta” não levantou mais. Nunca soubemos se foi atropelamento ou se alguém o matou. Carros era difícil passarem por aí, pois não os havia. Eram somente carroças. Daí ficamos sem saber como o animal foi morto, só se soube que o”Levanta” não se levantou mais e foi o fim do cachorro de muitas proezas. Obrigada eu Deus!
21/04/2010


Cantigas infantis em alemão e italiano


Die Mülle

Da clapt die mülle
Am rauschen der Bach
Clip – clap clip – clap


Bei tach und bei nacht
Is die mülle stez wach
Clip-clap clip-clap

Die Mählt den korn
Zu den kraftiges broht
Clip-clap clip-clap

Haben wier diesen
So ist keine noht
Clip-clap clip-clap

Namoro inconsequente


L’amore

Anchoi l‘é luni, doman l’é marti
Noi ghe larte per far l’amor (BIS)

Anchoi l’é marti, doman l’é mercol
Noi gha l’estro per far l’amor

Anchoi l’é mercol, doman lé zóbia
Noi gha la voia per far l’amor

Ancoi l’é zóbia, doman l’é vendro
Ei manda el zendro per far l’amor

Anchoi l’é vendro, doman l’é zabo
Ei si incaga per far l’amor

Anchoi l’é zabo, doman l’é festa
Ei gha mal de testa per far l’amor

Anchoi Le festa, doman l’é luni
No va nessuni a far l’amor


Parte II
A Alma das Ruas


Rua Venâncio da Silva Porto

Entre os anos de 1946/47, eu estava trabalhando no Hotel Cruzeiro em Jaraguá do Sul, que ficava localizado na Rua Marechal Deodoro da Fonseca. O prédio ainda existe, mas com outras funções Pois bem, eu trabalhava de domingo á domingo, embora uma ou outra vez podia sair para passear, num domingo à tarde. Mas tinha que voltar antes das seis horas da tarde, para continuar o serviço. Uma vez, as minhas colegas de serviço me convidaram para ir a uma “domingueira” – era um baile domingo à tarde, que depois chamavam de “soire”. Resolvi e fui com elas. Chegamos a Rua Venâncio da Silva Porto, e logo no começo havia um boteco, que era um pequeno comércio e pertencia ao Sr. José Kasteler e os pais dele, cujos nomes não lembro mais. Este comércio ficava na esquina com a rua Francisco de Góes. Logo na entrada desta rua, atrás da casa do Sr. Kasteler tinha uma construção que abrigava um salão de baile. E ali era a tal “domingueira”. O salão era chamado de “Arroz com Feijão”, porque metade das pessoas que ali se divertiam era de negros e a outra parte de brancos, mas era muito divertido. Dançamos a tarde toda até cerca de seis ou sete horas, mas eu não podia ficar mais porque tinha que trabalhar. Convidei minhas colegas para irmos embora, mas elas não precisavam sair cedo porque à noite elas não trabalhavam. Eu tinha que cumprir horários. Então saí sozinha, cheguei a Rua Venâncio da Silva Porto e não sabia para que lado ir. Fiquei olhando – “vou para a direita ou vou para a esquerda”. Então subi a rua um pedaço, mas vi que não era por ali que viemos. Então fiquei olhando e achei o lugar tão bonito que cheguei a comentar com minhas colegas. Disse que havia achado o bairro bonito e falei: “ali eu gostaria de morar, se eu pudesse”. E tinha mais um encanto: a estrada de Ferro também passava ali. Eu imaginava vendo o trem passando em frente a minha casa. Elas riram de mim. Mas o tempo passou e eu conheci um homem. Mas isto depois de dar muitas voltas e mudar por vários empregos. Cheguei a morar na Barra do Rio Cerro e neste emprego conheci o tal homem, que disse morar na Rua Venâncio da Silva Porto e num abrir e fechar de olhos casei e vim morar na mesma rua onde moro há 53 anos e no bairro dos meus sonhos.
20/22/2009

Rua Marechal Deodoro da Fonseca – Sentido bairro Centro – Margem esquerda

A esquerda da casa do Sr. Mafra, cujo nome não me lembro, só sei tinham uma filha com o nome de Senísia. Ela trabalhava como locutora da então única estação de rádio que existia lá pelos idos de 48 ou 49 – ZYP9 – Rádio Jaraguá. Depois foi e é até hoje professora. Casou-se com oSr.José de Castilho Pinto e se não me falha a memória ele era fiscal de laticínios (Não tenho Certeza). Depois era a casa de João Marcatto e o Loreno também. Não Lembro se tinham mais filhos. Depois da casa tinha a fábrica de chapéus Marcatto, em seguida vinha casa do Sr.Arthur Henschel, casado, que tinha três filhos: Arno(falecido), Elvira casada com Victor Bauer (que já foi Prefeito de Jaraguá do Sul) e mais um menino que morreu pequeno. Depois tinha a casa dos Martini, a mesma casa depois era dos Aldrovandi, que tinha uma serraria no Molha. Em seguida vinha a casa dos Janssen que eram donos de uma fábrica de calhas. O Sr. Janssen era pai de Henrique, casado com a Inês Schiochet, e mais uma filha cujo nome não lembro, nem sei com quem casou. Em seguida vinha a casa do Sr. Alex Behling que era motorista da Companhia de Transportes Andorinha (o ônibus). Tinha três filhos: Wiegando casado com uma Kienen, Waldemar, cosado com uma Loss e Afonso. Na sequência vinha a casa do Barg. A primeira era a casa do Heinz, dono de um sobrado dois andares verde, muito bonito. A segunda era do Sr. Edgar. O Heinz tinha só um filho o Franck que hoje é dono de um laboratório de análises clínicas chamado Laboratório Ceaclin, não sei se estou certa do nome é quase isso. O Edgar era casado com uma Bledorn do Rio da Luz e tinha um casal de filhos: O “Matzi” e a “Nena”, que só conheci por apelidos. O “Matzi” era taxista e já é falecido, já da “Nena” não seu paradeiro. O Sr. Edgar Barg tinha uma loja de calçados e era revendedor dos afamados calçados GOSH, cuja fábrica ficava na Rua Jorge Czerniewicz. Foi lá que comprei meu primeiro sapato com o dinheiro do meu trabalho. Depois vinha uma casinha pequena de madeira onde vivia a “Oma” Reif e sua filha Edith, como eram conhecidas por todos. Ambas eram pessoas adoentadas e eu gostava muito delas. Eu trabalhei bem em frente à casa delas, no Hotel Cruzeiro. Como eu vivia cantando, então a “Oma” me chamava de canarinho. Em seguida havia uma propriedade do Sr. Carlos Haas e da Dona Adélia. Lá havia um galpão que eles alugavam para depósitos e atrás tinha um ranchinho onde estava instalada uma lavanderia. E o Sr. Oscar Reuter, dono do Hotel, alugou para lavar a roupa do Hotel. Eu trabalhava de lavadeira com mais uma moça, todos os dias, inclusive domingos e feriados. Continuando, em seguida vinha uma propriedade do Sr. Bartel (Ele era pedreiro)morava na Barão do Rio Branco, mas tinha esta propriedade, inclusive com uma casa. A mulher dele plantava e tinha uma criação de galinhas e uma vaca. Ela vinha todos os dias de bicicleta com as duas crianças, uma sentada na frente, na cestinha, e a outra no bagageiro. Eram um rapaz e uma menina, que hoje é casada com o Sr. Kuchembecker que é dono da Joalheria da Marechal, próxima a Igreja Matriz, onde antigamente era o Salão Cristo Rei. Já o filho dele chamava-se Heinz Bartel e é casado com a sra. Ilka Bauer (Irmão do Victor Bauer) e que hoje moram na Silvino da Costa em Barra Velha, próximos a nossa casa de praia. Depois tinha uma casa antiga, onde morava um senhor, que, se não me engano, tinha o sobrenome de Georg. Ele veio da Alemanha e não sei mais nada a respeito dele. Depois tinha lanchonete do Sr.Ferrazza . A rua de acesso ao hospital São José não existia, como também não existia o próprio Hospital. Havia então uma casa que o Sr. Oscar Reuter (Dono do Hotel Cruzeiro) tinha comprado e estava alugada para uma família Felchmann que era de Blumenau. Depois eu não lembro se tinham outras casas antes do comércio do Sr. Heinz Manhke, que aliás tinha também um açougue no fundo da casa comercial. Em seguida vinha o Colégio Divina Providência, cujo terreno fazia rumo coma igreja de Santa Emília, mais tarde foi demolida e construíram a Igreja Matriz de São Sebastião e o Salão Cristo Rei, vizinho ao Colégio São Luís dos Irmãos Maristas. O Loreno estudou os dois primeiros anos no Divina e depois passou para o São Luís. Então uma ruazinha separava o São Luís do comércio de Inácio Leutprecht. Eles tinham uma grande loja de Armarinho, fazendas e calçados. E em seguida vinha uma construção que pertencia ao Sr. Carlos Haas e dona Adélia e nos fundos tinha um porão onde funcionava um restaurante chamado de “Gruta do Leão”. Mas com o passar dos tempos as construções foram aumentando e com isso represando água a cada trovoada e a “Gruta do Leão” enchia de água e tiveram que fechar. Depois lembro que tinha a casa do Orlando Bernardino da Silva. Ele era dentista, casado uma filha casou com o Professor Paulo Moretti e outra com o filho do Walter Marquardt. Tinha também uma pequena oficina de bicicletas, cujo mecânico era a filha do Sr. Wulf. Ele também era mecânico, depois passou para filha e ele tornou-se funcionário público. O apelido dele era “Sete Sacolas”, porque na bicicleta dele sempre estava cheia de sacolas penduradas no guidão.Daí vinha casa do Sr. Ney Franco(ele foi..........) Em seguida o Foto Loos. Na saída da Rua Antônio Carlos Ferreira, bem na esquina ficava o Supermercado Klitzke que era o pai do José Klitzke. Então vinha casa Schmitz(que ainda existe até hoje, a Caixa Econômica, A casa Fruet de Ari Carolino Fruet e Tecla Gumz Fruet. Em seguida o posto de gasolina e a oficina do Sr. Virgílio Moretti, casado com a sra. Hilária Leuthprecht. Depois vinha o que era do Sr. Bruch, depois vendido para a sra. Erna Emmmendoerfer que abriu uma loja de fazendas ou roupas chamda “Climax Magazine”. Em seguida vinha o escritório de contabilidade do Sr.Eugênio Victor Schmöckel (A Comercial). Em seguida haviam um riachinho, que depois foi entubado e sobre ele foi construído o Nelo Hotel ( da família de Aléssio Berri) e que originalmente era para ser umedifício comercial. Em 1976 quando Jaraguá fez cem anos a municipalidade convenceu o Sr. Aléssio a transformá-lo num então assim dito “Moderno” hotel. Na esquina onde hoje está a loja de calçados Beber era a casa do Sr. Willy Sonnenhohl que vendia bicicletas e rádios, geladeiras também. Se não me engano vinha então saída da Rua Gumercindo da Silva e a passagem de nível da Rede Viação Paraná/Santa Catarina – RVPSC. Em seguida vislumbrava-se uma casa muito antiga (tinha te mato no telhado): era a “Pharmácia Horst” (assim mesmo). O farmacêutico era também bem velhinho. Na esquina da Avenida Getúlio Vargas com a Marechal Deodoro era a Ótica Hertel. Na esquina oposta o Banco Sul Brasileiro, o primeiro prédio a ser construído para ser um banco em Jaraguá do Sul. Depois a relojoaria Salfer e em seguida vinha o Comércio de Jorge Meier, depois o Bar Harnack (que durante algum tempo chegou , na década de 70 a ser uma espécie de rodoviária de Jaraguá, entre sua remoção da que havia sido construída para isso na Getúlio Vargas, na década de 50 e a nova que estava em construção na Vila Lalau. Seguida ao Harnack estava a Fármácia Schultz do Pai do Dr. Edson Schulz. Vunha então a cãs do Sr. Alex Barg e que era filho do “Opa” Barg, irmão do Edgar e do Heinz. A esposa dele era cabeleireira e tinha seu salão ali na casa onde eles também moravam e na esquina como estarei citando mais adiante er a casa do Sr. Fiedler.
Volto para Getúlio Vargas, na esquina do banco Sul Brasileiro. No sentido Bairro vinha casa do Sr. Dante Schiochet e sua esposa dona Olívia que também tinha um salão de cabeleireira que só fazia “permanen te” e corte de cabelo. Em seguida tinha uma construção onde funcionava uma lanchonete do ex-vereador Bordim, e uma auto-escola, chamada Auto-Escola Jaraguá do Sr. Lúcio Machado e seu sócio Sr. Marquardt, que foi onde fiz minha carteira de motorista Em seguida vinha a IECLB e na esquina seguinte a casa do Pastor, onde hoje há um prédio da Comunidade Luterana de três andares. Na parte de baixo funciona uma loja, e nas partes superiores há uma série de aptos. E uma escola de música, onde estudam vários alunos.. Então vem a Rua Esthéria Lenzi Freidrich. Na esquina havia uma casa bem velha, de cujo proprietário não lembro o nome. Posteriormente o Sr. Marcos Dalprá comprou e fez sua primeira loja DALMAR, em que vendia roupas. Foi ali que comprei a primeira calça de uniforme do Loreno, quando ele entrou no Colégio São Luís, ali[ás a gente mandava fazer a roupa, porque ele tinha um alfaiate que a costurava para a loja. Daí que tiravam as medidas e faziam a roupas sob medida. Depois vinha uma casa que havia sido a Farmácia Estrela, dirigida pelo Sr. Ricardo Grünewald que foi assassinado na década de 40.. Porém quando eu cheguei a conhecer a casa, funcionava nela uma “verdureira” na parte de baixo e na parte de cima moravam outras pessoas. “Verdureira” que se chamava na época de “Quitanda” e pertencia ao Sr. Manoel e dona Irma Vieira. Por acaso, anos mais tarde tiveram um sobrinho, Oswaldo Vieira que era de Corupá, e que casou em primeiras núpcias, com minha cunhada Ondina Hagedorn. Depois vinha a casa do Sr. Haffemann que era farmacêutico e tinha a farmácia na parte da frente e morava nos fundos. Mais tarde passou a ser residência do Sr. Hinsching. Logo vinha então o Bar Catarinense de propriedade do Sr. Lino Demathé e seu sogro Sr. Marutti. Mais tarde o Bar foi vendido para o Sr. Arthur Ristow e que ficou com ele por muitos anos. Era o lugar de encontro de políticos e ele tinha ali também um grande círculo de amizades que freqüentavam o bar. Vinha a saída da Rua Coronel Emílio Carlos Jourdan. Na esquina vinha o Comércio Breithaupt, só que bem pequeno, no que antigamente havia sido a residência do Sr. Breithaupt. Hoje é o Shopping. Na esquina da Rodoviária vinha a Gráfica Avenida do Sr. Willy Neitzel. Em seguida a saída da Rua Arthur Müller, e logo a praça (hoje do Expedicionário, a Rodoviária antiga, que era onde chegavam os ônibus, principalmente a Andorinha, que era a única empresa que tinha agência em Jaraguá naquela época. Em seguida onde hoje é ocrreio, era um terreno vago, a primeira construção era a Trasnportadora Frenzel (de Felipe Frenzel). Claro não existia INSS, Milium. Vinha então a saída da Rua Felipe Schmidt Na esquina oposta estava a casa do Sr. Leopoldo Silva, em seguida casa comercial do Sr. Manoel Gnzaga (que era uma pequena casa de comércio) e que tinha um sala onde funcionava a barbearia do Sr. Fischer. Logo então onde hoje já um Pett Shop da Família Bens, era a casa do Sr. Egon João da Silva, cujo terreno ia até a esquina da Rua Pastor Ferdinando Schluensen. Na esquina oposta, sentido bairro, vinha uma casa antiga com fachada arredondada (lembrando um pouco a construção que hoje abriga o museu WEG, em que funcionou, por pouco tempo, uma casa de ferragens do Sr. Olegário Kanzler. Nos fundos do Museu WEG a Getúlio cruzava os trilhos, ladeada pela Casa e Barbearia do Sr. Coelho (de um lado) e pela propriedade do Sr. Leopoldo Janssen – depois primeira sede da Eletromotores Jaraguá Ltda (WEG) do outro lado e vinha a Rua Venâncio da Silva Porto
Volto a Avenida Getúlio Vargas, desta vez no Sentido Centro. Na esquina onde hoje situa-se o museu WEG era uma pequena marcenaria e pertencia ao Sr. Leopoldo Silva, que, como já disse, morava no outro lado da rua em frente a delegacia de polícia. Em seguida vinha o Posto de Saúde e logo depois vinha a Delegacia de polícia Civil e Cadeia (hoje demolida). Vinha então o Mercado Público Municipal edificado na década de 60/70. Naquela época não tinha nada ali. Apenas quando se chegava próximo a Estação de Passageiros (hoje restaurada) havia uma banca, onde o Sr. Domenico Sanson vendia peixes que vinham com o trem das praias de São Francisco do Sul. Eram peixe s do mar, é claro. Depois da Estação Ferroviária havia, como hoje uma praça e uma banca de revistas. A Rua Francisco Fischer que liga a Getúlio a Gumercindo, não existia. Entre a estação de Cargas da RVPSC e o edifício Mafud havia apenas a Praça 7 de Setembro, que em 1976 recebeu um complexo de Barbearia, Banca de revistas, e Floricultura. Já demolidas também atualmente. Em seguida vinha o Edifíçio do Sr. Tuffie Mafud. Não lembro se havia outras casas até chegar ao edifico Hertel da Ótica Hertel.

Marechal Deodoro à partir da Barão do Rio Branco – Sentido Bairro Centro – Margem direita

Começando da barão do Rio Branco, sentido centro. Na esquina com Barão esatava situaa uma lanchonete, bar e sorveteria do Sr. Fischer. Era onde nós, as empregadas do Hotel, íamos aos domingos de tarde, tomar um sorvete. Em seguida vinham as casas do Sr. Tombeck e do Sr. Orlando Bernardino (que se mudou, quando o posto Marechal que era do Sr. Maiochi, começou a se expandir – era um dos postos de combustíveis mais conceituados já que tinha também anexo uma oficina mecânica). Nesta oficina trabalhavam o Sr. Vergílio Moretti, Garibaldi Ribeiro, Arno Bledorn e um Sr. Krause e muitos outros cujo nomes não lembro mais. Em seguida vinha a saída da Rua Cabo Harry Haddlich. Na esquina ficava o Hotel Cruzeiro, onde eu trabalhava, em seguida a casa do Sr. João Piccolli, aliás a Rua com este nome foi aberta mais tarde. Logo vinha um grande pasto que eu acho que pertencia ao Sr. Alberto Bauer. Em seguida era a casa do próprio, que tinha nos fundos os prédios da Torrefação e Moagem do Café Bauer. Depois era a padaria do Moritz, que fornecia pães e doces para cidade. O filho do Sr. Moritz eu conheci como “Bubi” Moritz. Em seguida era a casa do Sr. Luiz Kienen que tinha a fábrica de bebidas Kienen. Logo vinha a casa comercial e residencial do Sr. Seme Mattar e de Dona Jorgeta Mattar (Comércio de Tecidos, que se vendiam em metros, para fazer roupas). Saída da Rua Domingos Rodrigues da Nova. Na esquina havia uma casa que se não me engano era do Sr. Norberto Haffemann. Depois vinha o Hotel Jaraguá (cujo proprietário não lembro o nome) em seguida vinha a oficina da Chevrolet de propriedade do Sr. Emmendoerffer onde meus sobrinhos Armando e Valdino Pedron aprenderam a trabalhar como mecânicos de carros. Onde hoje é o comércio e o posto da família emmendoerfer, havia uma casa de comércio do Sr. Pradi (este homem era conhecido pelas suas “histórias” de caçadas – uma delas, eu lembro – ele dizia ter ido caçar e ter dado um tiro numa folha de palmito, que no seu côncavo retinha água e que após o tiro ele havia verificado que havia um cascudo dentro da folha. A Rua João Marcatto não existia. Logo depois existia um casarão muito antigo de madeira, num nível muito mais baixo que a rua, às margens de um riacho que também passava próximo, vindo por trás da casa Leutprecht que ficava quase em frente. Moravam nele várias famílias e dizia-se que a casa era mal assombrada. Depois tinha a vidraçaria do Sr. Walter Hille, o gabinete dentário do Sr. Mário Nicollini e em seguida a panificadora Ótti (?). A saída da Rua Quintino Bocaiúva e no meio do lote era a Prefeitura Municipal de Jaraguá do Sul. Na seqüência vinha o Bar do Sr. Ruizam. Ele tinha um espaço bem grande e um rancho com cocheiras, já que Ra o local onde os colonos vinham com as carroças, trazer suas mercadorias para vender e também para fazerem suas compras. As cocheiras serviam para tratar os cavalos enquanto eles faziam seus negócios na cidade. Vinha então a loja de peças para automóveis do Sr. Hans Beyer, depois a alfaiataria do Sr. João Eisler. Não lembro se tinha alguma construção até a passagem de nível do trilho da RVPSC. Depois vinha a casa da Família Emmendoerffer que até hoje existe, bem na esquina com a Rua Procópio Gomes de Oliveira. Ali funcionava a Persianas Emmendoerffer. Até a entrada para a Rua Jacob Buck que na época dava acesso para a Antiga Ponte Abdon Batista (Ponte Coberta, cujo pilar ainda está no meio do Rio), próximo ao atual Hotel Kayrós. No final da Rua Mal Floriano Peixoto havia a loja de ferragens do Sr. Richter seguida deuma casa muito antiga que durante muitos anos pertenceu ao Dr. Waldemiro Mazurechen, onde funcionava também sua pequena Clínica. Mais tarde após sua mudança, se instalou aí um bar decadente, tido pela comunidade como uma casa de tolerância.
Em tempo: O calçamento nas ruas centrais da cidade iniciou no ano de 1952.

Epitácio Pessoa, Jaraguá do Sul (ano 1944 ou 1947) Sentido Centro –Ponte Abdon Batista/Bairro, lado direito

1) Onde hoje está o posto cidade era a casa do Sr. Romeu bastos casado com a sra. Helga Fiedler, que tinham como empregada Ana Zatelli (Leithold), minha irmã, recentemente falecida em Joinville.
2) ? (Aqui trabalhava a esposa do Sr. Osvaldino Gomes – Sra. Astrogilda) N.B.: casaram algum tempo depois.
3) Casa de Ericha Bolsfeldt – Filho de Heinz Blosfeldt(Juiz de Paz) casado com Joana Breithaupt – Filha de Inês Breithaupt, esposa do velhinho Breithaupt que morava junto. Tinha na parte inferior do sobrado uma loja de calçados – Calçados Blosfeldt. Eu trabalhei e morei ali por cerca de três meses (Mar/Abr/Mai-47)
4) Uma oficina Mecânica
5) Empresul – atual Celesc
6) Dr. Bataglha
7) Uma oficina Mecânica com Posto de gasolina
8) Andersen (relojoeiro) Tinha uma filha adotiva que depois casou com Augusto Sylvio Prodhöl
9) Adão Norozhny
10) Casa do Velho Piazera, paia de dona Lila – que mais tarde foi a primeira esposa do Dr. Murilo Barreto de Azevedo. Depois a casa passou para Emílio da Silva (esta casa teria virado Posto de Informações Turísticas em 1979, quando foi re-locada e modificada em suas características originais. Atualmente locada na Rua Joinville (Atual Rua Bernardo Dornbusch) Neste terreno agora está localizada a moderna casa de um empresário local.
11) Casa ainda existente, sobrado de beira de rua, casa de Procópio Pereira (“seu Copinho”) e de Dona Paula Pereira, que eram donos do Bar da Estação Ferroviária, que fabricava os melhores sorvetes de Jaraguá do Sul e os servia em suas mesas de cimento lá na Estação Ferroviária.
12) Casa de Dona Jalila Tobias (Atual Vídeo Locadora) Eram sírio-libaneses falavam seu idioma entre os familiares e ela era a única mulher em Jaraguá do Sul a fumar cachimbo, numa época em que sequer cigarros a mulheres fumavam. Vestia um vestido típicos muito longos (até os pés)e seu inseparável lenço cobrindo a cabeça.
13) Vila Umuarama – Casa do Médico Dr. Waldemiro Mazurechen, construída depois que ele saiu da casa no começo da rua – já citada.
14) Casa May (ela era professora no Rio da Luz e seu filho Wilson May, estudou com o Loreno no Ginásio São Luís.
15) ?
16) Casa de Arthur Breithaupt, pai de Heinz, Gerhardt, Olga (casada com Heinrich Geffert), “Nutzi” casada com o Hertel. O Heinz morou aqui até 2008
17) Casa do Pai do Ex-Prefeito Rolando Dornbusch (ate 2008 morou o Diether Janssen, casado com a Zélia Breithaupt – Neta do Heinz)
18) Casa do Rolando Dornbusch – Já demolida em 2009
19) Casa de Erich Sprung, casado com a “Muschi” Geffert.
20) Casa de Gertrud Geffert Enderle (irmã de Heinrich Geffert) casada com o Dr. Enderle, que nos primórdios da WEG foram médico e enfermeira nesta empresa.
21) Casa de João Batista Rudolf (que foi o primeiro delegado de Jaraguá do Sul) Era madeireiro e tinha uma gigantesca serraria bem no início da Venâncio da Silva Porto.
22) Sobrado mais tarde ocupado pelo Sr. Brito – que era uma espécie de invetor (Prof. Pardal de Jaraguá do Sul). Ele era um gênio e trabalhou na WEG como mecânico e criava todos os moldes para a fundição. O contramolde em madeira era feito conforme seus desenhos pelo meu marido – Theobaldo Hagedorn em nossa marcenaria na Venâncio da Silva Porto.
23) Casa de Dona Maria Grubba – nesta casa funcionou a representação em Jaraguá do Sul do Banco Alemão Transatlântico do Qual o Cel. Bernardo Grubba era o representante.
24) Queijaria do Cel. Bernardo Grubba
25) Depósito do Cel Bernardo Gruba
26) Entre a estrada e o rio havia uma pequena faixa de terra que pertencia ao Sr. “Bubbi” Funcke.
27) Não havia uma ligação entre a a Epitácio pessoa e a Erwino Menegotti. Naquele tempo a ligação com a Erwino Menegotti se fazia oficialmente através da Venâncio da Silva Porto e ao conjunto se chamava então Estrada Nova. A parte entre a passagem de Nível (onde havia a Barbearia do Sr. Coelho no então final de Getúlio) até a nova passagem de nível próximo já na Joaquim Francisco de Paula 0 foi aberta pelo meu sogro em 1934, dái que a chamassem oficiosamente de “Estrada Nova”.
28) ?
29) ?
30) Comércio de Modestino Junckes (Sobrado ainda existente – morava em cima e tinha comércio na parte inferior.
31) Casa do Sr. Bublitz (posteriormente casa de Erwino e Maria Kanzlaer Menegotti) madrinha de batismo de Theobaldo Hagedorn – meu esposo
Mesma Rua, no lado esquerdo, sentido Centro Bairro
1) Casa do velhinhos Fiedler (Pais de Helga0 Onde mais tarde funcionou a Telesc
2) Indústrias Meyer e Buhr
3) Casa de Alfonso Buhr (pai do Klaus) casado com uma Meyer
4) Antiga casa da Administração da Colônia Jaraguá de Pacher e Cia. Magnífico sobrado em três pisos em enxaimel. Foi uma construção única em seu estilo em todo o estado. Infelizmente foi demolida para ar lugar ao Edifício Jaraguá que foi ao seu tempo o primeiro Edifício com mais de 10 pavimentos do município. Construído pouco depois da Administração de Victor Bauer, que aliás reside na cobertura. Na antiga casa funcionaram a Coletoria Estadual cujo coletor foi o Sr. João Gaya e que com sua Esposa SRA. Adelina, inclusive moraram no mesmo. Eu trabalhei aqui como doméstica em Jul do mesmo ano de 47.
5) Casa de Roberto Marquardt – Dentista, pai de Silvia, casada com José Frutuoso, pais de Marina (falecida que virou nome de Rua), Zeca e um filhos mais cujo nome não lembro. Mais tarde passou a ser casa do pastor (ao tempo do pastor Piske +/-1995/96)
6) Casa de Comércio e residência de Heinz Kolbach, casada com Dona Ilze, irmã do Walter Goetzke. O Kolbach iniciou ali seu comércio de rádios e equipamentos elétricos. Hoje há em sua lugar uma lanchonete, próxima o atual Hotel Mercury – aliás também demolida recentemente.
7) 6?
8) Casa da Irmãs solteironas do Sr. Afonso Buhr, que tocavam piano no Salão, Hotel, Cine Buhr.
9) Na outra esquina era a escola a professora Aurélia Walter (filha do Walther que era o cervejeiro da cidade) e que era esposa do Sr. Walter Marquardt em Joinville/ donos da Malharia Martric, primo do Walter Marquardt de Jaraguá. Trabalhei nesta casa em Joinville de 1952 até 1954
10) Casa e Consultório do Sr. Erich Kaufamann
11) Novo Hotel
12) Saída de Rua Arthur Müller
13) Grupo Escola Abdon Batista
14) Casa que na década de 70 foi a pensão administrada pelo Ferrazza, que trabalhava na WEG, jogava no time de futebol da ARWEG e faleceu em trágico acidente de trânsito entre Joinville e Jaraguá do Sul +/- entre 1971/1972. era um tempo que para perfurar os cartões da recém criada Loteria Esportiva era necessário ira a Joinville. Novidade que ainda não podia ser realizada em Jaraguá do Sul.
15) Casa da Família Braun (Cujas filhas são professoras e funcionárias públicas da municipalidade, atualmente) Eles tinham uma representação de Máquinas e Equipamentos Agrícolas na cidade na déc. De 70.
16) Casa da Família Borges. Um dos filhos desta família era uma nadador e mergulhador do Rio Itapocu, de algum renome e que faleceu ao salvar um afogado no Rio. Já a filha do casal era professora e foi professora de meu Marido Theobaldo Hagedorn , na escola Jaraguá.
17) Pensão Familiar, na década de 30 serviu de sede temporária para a recém criada Prefeitura Municipal, na década de 70 passou a ser o Hotel Jaraguá, posteriormente firou uma casa de tolerância e um boteco. Foi demolido para dar lugar a nada, durante muito tempo e finalmente estabeleceu-se ali uma espécie de oficina mecânica, eu acho. Era uma magnífica construção em estilo Art Decô, com cimalhas em cimento e gesso, com motivos florais e da natureza. Tinha mansarda e porão.
18) Rua Pe. Pedro Francken que vinha das estações Rodoviária e Ferroviária.
19) Casa Nova e Consultório do Dr. Alexandre Otsa.
20) Pequena rua sem saída.
21) Início da esquina com o sobrado que era residência do Sr. Sell, na parte superior e na parte inferior sua estofaria.
22) Final da esquina casa do irmão do Sr. Rui Frenzel, casado com uma Gumz
23) Travessa da Rua Felipe Schmidt que vai atualmente dar na Millium
24) Casa de esquina do Sr. Arno Müller, havia somente uma pequena casa de madeira, com a sua sapataria na parte da frente e ele morava nos fundos com a famíliia.
25) Casa Franckowiack (construída por Gustavo Hagedorn e Max Hoepfner) Ainda em pé, hoje servindo como restaurante.
26) Rua que sai em frente ao museu WEG
27) Onde hoje está Marlian Contabilidade, havia a cada do Sr. Bruno Manhke.
28) Na esquina onde hoje a Sra. Ilka Manhke Schm idt tem sua loja de corações para festa, havia a casa do Sr. Mafud.
29) Em seguida, não havia ainda o pavilhão Arthur Müller, construído na década de 70, com propagando de ser um dos maiores Ginásios de Esportes do Norte Catarinense. Era então um terreno baldio e seguia com as construções no meio do gigantesco lote da prédios do Descascador de Arroz do Cel. Bernardo Grubba.
30) Rua Cel. Bernardo Grubba.
31) Comércio de Waldemar e Dona “Nega”Grubba
32) Casa de Adalberto Grubba, que durante muitos anos abrigou a sede do SESC em Jaraguá do Sul
33) Casa de Walter Goetzke, Cunhado de Heins Kolbach, que tinha sua indústria situação sobre o morro nos fundos. Walter possui uma oficina de Bicicletas e uma floricultura.
34) Antiga casa da Família Bertoldi, casado com uma Rau, que atualmente mora num dos terrenos espremidos no meio do Angeloni, na Rua Cel. Bernardo Grubba.
35) A casa do Velho Hasse, a Casa era contra o morro, e possuía uma característica muito interessante, construída a maneira bávara, com uma área em arco enorme onde podiam passar os caminhões de antigamente. Sua esposa era costureira e professora de corte e costura. Já ele era mecânico. Ele foi um dos únicos jaraguaenses a mascar fumo que conheci. Na realidade creio que ambos eram naturais da Alemanha. Ela faleceu no asilo há alguns anos com a provecta idade de 103 anos. Atualmente há no local uma serei de apartamentos
36) Contra o morro do Bruns, já quase no alto, havia uma casa de madeira, em que morava o Sr. Roepcke que era emecânico e trabalha na Tribrasil.
37) Casa de Roberto e Paula Funcke
38) Já na Erwino Menegotti, iniciava-se a rua sem saída que fazia parte da estrada nova, havia ali a Fábrica de balas do Opa Schmidt.
39) ?
40) Casa residencial do Sr. João Manoel Coelho. Numa esquina da Francisco de Paula
41) Na outra esquina da rua Francisco de Paula o comércio de João Manoel Coelho que funcionou com seu Filho Nilton Coelho e Laurita Gross Coelho até a década de 70/80
42) Primeira casa do Sr. Erwino Menegotti, casado com a Sr. Maria Kanzler Menegotti.
43) Ferraria do Sr. Erwino Menegotti que hoje junto com o Comércio dos Coelho e outras propriedades mais, viraram Metalúrgica Menegotti
44) Olaria do Sr. Alfredo Meier.

Cecília - seu segundo livro - 2008

Santa Cecília

"A música, que eleva a palavra e o sentimento até a sua
última expressão humana, interpreta o nosso coração
e nos une ao Deus de toda beleza e bondade."
D. Paulo Evaristo Arns


Podemos dizer que D. Paulo, com as palavras acima, traduziu a vida da mártir Santa Cecília. Ela viveu no século III e, presa quando enterrava os corpos do marido e do cunhado, que também eram cristãos, o que era proibido pelo Império Romano, foi levada a julgamento. Negou-se a adorar outro deus dizendo preferir a morte a ter que renegar o Cristianismo. Então, foi condenada à asfixia, no próprio balneário de seu palacete. Ao ser colocada na câmara, começou a cantar incessantemente músicas de louvor a Deus - por este motivo e pelo dom de ouvir músicas vindas dos céus, ficou consagrada como Padroeira dos Músicos, sendo celebrado seu dia a 22 de novembro.
Dentre todos os santos da Igreja Católica, Santa Cecília é a santa que possui o maior número de igrejas e capelas, na Europa.

Oração à Santa Cecília
Ó gloriosa Santa Cecília, apóstolo de caridade, espelho de pureza e modelo de esposa cristã! Por aquela fé esclarecida, com que afrontastes os enganosos deleites do mundo pagão, alcançai-nos o amoroso conhecimento das verdades cristãs, para que conformemos a nossa vida com a santa lei de Deus e da sua Igreja.
Revesti-nos de inviolável confiança na misericórdia de Deus, pelos merecimentos infinitos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Dilatai o nosso coração, para que, abrasados do amor de Deus, não nos desviemos jamais da salvação eterna.
Gloriosa Padroeira nossa, que os vossos exemplos de fé e de virtude sejam para todos nós, um brado de alerta, para que estejamos sempre atentos à vontade de Deus, na prosperidade como nas provações, no caminho do céu e da salvação eterna. Assim seja... Amém.

Cecília Zatelli

A intenção não é santificar Cecília, não. Até porque a música – italiana – que a pequena Cecília aprendeu a cantar, e que a acompanha até hoje, fala da vida no campo, de amores realizados ou não, das terras deixadas na pátria de seus antepassados, além oceano. A religiosidade no coração, na observação quase piedosa da natureza e das pessoas e animais nela inseridas: Cecília sempre foi uma pessoa de muito trabalho. E a música que a cercou, e a cerca, foi - primeiro - o canto materno, as cantigas de ninar. Depois as músicas folclóricas, típicas, as músicas religiosas e, quando veio para Jaraguá do Sul, os cantos de diferentes etnias.
Seguiu-se a isso o som – barulho? – dos caminhões e ônibus, o troar das vozes dos motoristas no restaurante, o estrondo do estouro das boiadas, passando pela cidade a caminho das fazendas.
Cecília, moça bonita, escuta os pássaros, observa o tempo, sonha com um futuro melhor. Cantos de amor levam sua vida a outro som: o choro – música, certamente – de seu filho, Loreno Luiz, único, cuja voz embala sua vida até hoje.
Entre o choro do filho e sua voz, música primordial para ela, Cecília conviveu com outros sons: da marcenaria de Theobaldo Hagedorn, seu companheiro por toda a vida. O sibilar das serras, o silvo das tupias, o guincho das furadeiras só eram amenizados no tempo em que passava verniz nos móveis, dando-lhes o acabamento – e o toque – feminino, enquanto cantava. Mulher, com quádrupla jornada (esposa, mãe, dona-de-casa e funcionária da marcenaria), Cecília estava, também, sempre às voltas com as panelas e seus sons característicos, cada um identificando um alimento em fase de preparação: fervido, assado, cozido, frito... Sons completados pelo olfato, atiçando o paladar.
E seus pássaros, seus cães e gatos? Também têm, cada um deles, sua própria forma de expressão vocal. E Cecília conhece a todos, ama a todos.
Hoje, junto a quase tudo isto, tendo um pouco tolhidos os movimentos pela artrite, não se priva da maior parte de seus afazeres aos quais acrescentou mais um: escrever.
Lançou, em 2005, um livro autobiográfico e de pensamentos, Minhas e outras histórias, e agora repete – em parte – a façanha, com o livro de crônicas que leva seu nome, Cecília, dividido em três cadernos: um deles apresenta crônicas também autobiográficas, o outro seus pensamentos, reflexões sobre a vida e o mundo e, no terceiro, devaneios, lembranças, releituras do universo cujo mosaico compõe, até agora, sua vida de trabalho, sonhos e esperanças.
Embora às vezes sofrendo, pelas mazelas do corpo, Cecília não entrega os pontos: manda a tristeza embora com uma música, um ditado popular, repete uma piada que escutou.... Quando em família, normalmente num aniversário de uma das quatro irmãs ou de um dos sobrinhos, o canto une gerações: música italiana da boa, acompanhada pela gaita da mana Clara, naturalmente encerrada com risadas de alegria, palmas de aprovação, mais animação...
Um dia, quando sugerimos pela primeira vez que Cecília lançasse seus escritos, ela perguntou E eu posso? Claro que pode, e deve, porque tanta história, tanta reflexão, tanta alegria de viver haverão de ser estímulo para todos os que deles tomarem conhecimento.
Mérica, Mérica, Mérica... diz o refrão do hino do imigrante italiano... Cecília foi a 13ª filha de uma família muito pobre (nove irmãs e três irmãos), nascida no distrito de Arrozeiras, município de Timbó, num dia 24 de setembro, há mais de 75 anos. Mudou com a família para Pomeranos Central e, depois, para um lugar chamado Alto Garibaldi (São Pedro), no interior de Jaraguá do Sul. No Centro da cidade trabalhou no Hotel Cruzeiro, como camareira e lavadeira. De lá para cá podemos dizer que Cecília, como boa descendente de italianos, “fez a América”. E ela agradece a Deus em cada dia de sua vida quer pelas alegrias, pelas decepções, pelas amizades, pelos sustos que a vida lhe pregou, pelas tristezas que a fizeram enxergar as coisas de maneiras diferentes, rever posições e cantar, louvar, sorrir...
Testemunho de fé e alegria de viver, Cecília é mais um tijolo com que Cecília Zatelli nos mostra parte da história de Jaraguá do Sul, em sua visão autêntica.

Inacio Carreira





Bate coração


O coração continua batendo, você sendo normal ou marginal, sendo sensual ou só legal. Você sendo inatingível, incansável ou intocável. Pois nem tudo o que o que se explica, se justifica. Mas o coração continua batendo. Pegue um pouco do azul do céu, algo do verde das folhas das palmeiras. Não esquece o vermelho do morango e uma pitada do amarelo da barriga do bem-te-vi. Salpique com tua criatividade e pronto: você acaba de fazer o retrato da primavera. A arte está aí e a inspiração favorece. Pinte a vida, e o sete, com as cores do arco-íris que transborda de você. Fecho os olhos e te vejo menino, abro os olhos e te vejo um homem. Transfigurar a arte é fazer algo para amenizar a dor. Tudo ao meu redor me cativa: as flores, pelo seu perfume; as aves, com o carinho com o qual fazem seus ninhos; os grilos, pelos seus gritinhos agudos e ensurdecedores; o mar, pela sua enorme extensão e os peixes que nele vivem; os rios e as florestas, os bichos em geral, tudo isso me cativa e fascina, até quando fecho os olhos e te vejo menino, abro os olhos e te vejo um homem! Comecei a escrever porque minha vida era muito fácil e eu quis complicar. Não adianta correr quando estiver no caminho errado, pois ele é sempre de fora para dentro: ver as cores, sentir o perfume das flores, ver as pessoas e nos conscientizarmos para que o resto possa se manifestar. O vento veio, o vento foi, será que o vento me entendeu? Só falta agora você me entender: esse vento é Deus. As pequenas gotas de orvalho que caem sobre as plantas e a relva caem também sobre nós, como uma bênção de Deus!
22/11/2006


Porque te quis


Doze, catorze ou vinte e um, ou nenhum. Catorze, vinte e oito, um biscoito ou tortela, fuja dela! Lá no monte, no horizonte, me sinto bem, sem ninguém, ou com alguém que quero bem. Santo salvo circuito, dá um grito ao veredicto. Um abraço grande, passo sem mormaço, o que eu faço para ver teu abraço. Junto ao leito, com respeito, dava um jeito de sair do trejeito, grande eito, para subir ou descer, e se dava tempo de amar e pensar pra voltar a ser feliz. Doze, catorze, vinte e um, ou nenhum pra fazer barulho, pra fazer zum-zum: atrás do monte os morteiros fazem bum! Dava voltas à beira-mar, sem parar. O teu olhar no meu olhar, de tanto amor, me faz chorar. Corar é bom, rir é melhor, não sente dor e dá calor. O grande amor está na luz, no céu, na terra, em qualquer guerra, onde se procura a paz. Eu sou feliz, não sou atriz nem sou juiz, mas sou feliz porque te quis. Semente boa, jogada ao chão, pois é verão e vai brotar um cafezal. Não faz mal o que nascer, você vai ver e entender que tudo é bom quando vem do coração. Sempre sonhei e sonharei em ser feliz, porque te quis!
24/8/2005

Atrás do monte


Eu sempre insisto e não desisto, no olho um cisco que eu administro a gargalhar. Posso falhar, mas tento acertar. Depois que li, tornei a ler, pensei em ti, pensei em ti, pensei em alguém e passa o trem. Eu sou alguém, pensando em mim eu te esqueci. A pasta em cima da mesa, que delicadeza, gosto de ver você morrer. És uma vela branca sem carranca, sem vida própria. Baixa o tom, é muito bom ser humilde, ser fiel como Miguel que come mel, ele é um ursinho (que vem de longe, tal qual um monge, que quase santo, enxuga o pranto que não chorou). Dia após dia, que alegria de ver você ser tão feliz, pelas estradas da madrugada, levando a vida que sempre quis. As aves voam, a cobra se arrasta, as doenças se alastram, a população aumenta. Atrás do monte tem uma ponte que sobe e desce, e me envaidece com a elegância em tal distância. Tudo acontece, não me entristece, com o vai e vem. Ali por perto tem uma favela, que conheci morando nela, e voltei um dia pra te dizer que sobrevivi. À meia noite, à beira do rio, o rio está dormindo e os peixes também. Não faça barulho para não os acordar. As estrelas no céu brilham como teus olhos, as almas saem do fundo do mar para se juntarem às estrelas, suas eternas namoradas.
2/8/2005



Amor sem fronteiras


O amor cruza fronteiras, eu olho para cima e não te vejo. Oi, criança, onde estás? Rasga o peito, sobe um eito e volta correndo. Eu estou aqui. No grande palco da vida: oi, minha amiga, siga, prossiga, me diga, onde estás? Acordei de um sono que não dormi, um sonho que não sonhei, li um livro e não entendi e chorei.
“Chorei”, o maior consolo da vida é chorar “a morte”. Fechar os olhos e deixar a alma voar. Tudo o que nos dá prazer enriquece nosso ego: ouvir boa música, assistir um bom programa de televisão, ouvir o canto dos passarinhos, o choro de uma criança, o riso com esperança ou, mesmo, o ranger de uma porta, tudo vale a pena quando a mente é serena e a alma não é pequena. O Tempo é preciso, o Tempo é precioso.
6/8/2002


Come i cavali


Come i cavali, rolano i xaxi, senza passi io volio caminare, no é possibile, no ó capacitá. Vardo in torno, vedo il mondo desmorornar. Altri xaxi va rolando e passando el primo rê, tuti sperti varda drê. Questa storia de amore que dolore oí per te. Volho andare sora al mare, ma nol dá, sono come il vento fresco que gá tuta la libertá Vedo il mondo con altri ochi que vá e ven come li ogiletí que sgolano lontani, lontani da su mama e su papá. Far bene tuto que ti fai, varda la vetrina, la ai ei scaporne sarai del alcapone ou sarai de su papá. Dopo el vento, stá atento, vem la piova que ti há tanto spetá, non é possibile que lá sapienza lé um gran don que che Dio noi dá.Non lé la piova e nanca il vento que noi robará. Tanti ani sono passati e io non vedo lá libertá. Dai una volta, volta e naltra volta e naltra ancora, ó povero soldá. Tanti odori e tanti colori sono de amore solo per te. Finita la messa io vado a casa, verso la porta, vedo i mei fratelli e le me sorele, tuti per me salutar. Buon giorno a tuti, venite avanti, que per finire el romancin, io volho fare un buon café, con pane e vino e un buono scodeguim. “Buon giono a tuti”.
5/9/2005

Como os cavalos

Como os cavalos, rolam as pedras, sem pernas. E eu que quero caminhar, vejo que não é possível, não tenho meios. Olho ao redor e vejo o mundo desmoronar. Outras pedras vão rolando e passando passa o primeiro rei. Todos, paralizados, olham atrás. Esta história de amor, que dor, ái, por ti. Quero andar sobre as águas do mar, mar afora. Mas não é possível! Sou como o vento matinal que possui enorme liberdade, mas só passa. Vejo o mundo com outros olhos, vejo-o como pássaros que voam distantes, muito distantes de seu pai, de sua mãe. Faça bem tudo o que fazes, observa as vitrines: nela estão expostos os sapatões, seriam do Al Capone ou de teu pai? Depois do vento, esteja atentos, virá a tempestade. Não é possível que a sabedoria seja apenas um grande dom que Deus nos dá, e não será , com certeza um vento forte e nem a chuva que nos privará desta sabedoria. Tantos anos se passaram e eu não vejo a tal liberdade prometida um dia. Dê uma volta, e outra volta e nova volta, pobre soldado! Todos os cheiros, e todos os amores e tantos, são todos por você. Ao fim da missa dominical volto prá casa, e todos os meus irmãos e irmãs esperam por mim, para me saudar. Bom dia a todos, aproximem-se, que para terminar esta pequena crônica amorosa farei um bom café para todos acompnhado de um chouriço. “Bom dia a todos”.

5/9/2005


Pode entrar


Pode entrar, a casa é sua. Não precisa trazer nada. Vamos brindar a tua chegada. Minha casa é pequenininha, mas é uma grande morada. Os cabelos esvoaçantes ao vento, o suor descendo pela face como um rio, tão grande o calor. Mas mesmo assim eu digo, senta, vamos conversar. Ligo o ventilador para abafar o calor e digo: que bom que você veio...
Eu vou te dizer uma coisa, os animais são muito mais inteligentes do que muitos homens.
O homem tem por hábito dizer “Vá entender as mulheres”. Então eu diria, mulher não é para se entender, é para se amar, querer bem, entender para quê? Se ela é tudo de bom que existe na terra ou neste mundo. Pela esperança dos meus sonhos, pela alegria de viver, pela saudade do passado, ainda me resta você. O sol surgindo tímido e preguiçoso, pois trabalhou tanto no verão e agora na entrada do outono ele vem mais devagar, e com toda razão. Na minha casa eu não moro, “eu namoro”. Dentro deste quarto não tem mais espaço para o que eu faço. Minha mala era um saco e o cadeado era um nó. Ela aparece do nada e depois voa sem fim. Meu desabafo é sempre uma conversa com Deus.
18/4/2006

em memória aos dois anos sem o Theobaldo



O que será?


Um chinelo, um sapato ou um carrapato?
Uma arma, uma alma ou uma palma?
Tremendo, temendo ou querendo?
Voando, parando ou tentando?
Poder, saber ou querer?
Parar, voltar ou enfrentar?
Eu tinha, perdi ou vendi?
Por cima ou por baixo tem sempre um capacho!
Saudade, vontade ou maldade?
Lápis, caneta e giz foi o que eu sempre quis!
Juntos, seremos dois ou dez...
Tenho esperança e medo da balança!
Espero que voltem um dia Jesus, José e Maria.
O gato, o rato ou um pato?
Tive um gato, fugiu pro mato!
Trinta com mais trinta são sessenta, só se estiver cansado!
Tendo ou não tendo, está sempre querendo!
Voa passarinho, voa que o jacaré está numa boa!
A foto, a moto e um controle remoto.
Li e reli e não entendi.
Eu tenho, tu tens, ele tem, se todos têm não peço nada a ninguém!
Bom é aquele que nasce com um “B” na frente.
A relva agreste rasga tua veste.
Quem come o pão que mata a fome não come o pão de ninguém.
Mas quem ganha mais do que come sempre come o pão de alguém.
De repente um parente, muito contente com dor de dente.
Eu parei, te esnobei, te olhei, por quê? Não sei.
Se eu tivesse tempo, faria o tempo parar!
8/4/2006

Porto seguro


Porto seguro ou ponto no escuro? Uma árvore frondosa ou uma mão criminosa? De tudo um pouco, meio louco. O porto seguro vai te amparar. As folhas caem por terra e na primavera vão ressuscitar, e a chuva de ouro com lindos cachos vai se mostrar. E o Zéio está esperando para replantar. Com esperança tudo se alcança, eu tenho dito, não é um mito, é tudo real. Está escurecendo e relampeando, e vem um temporal. Que coisa boa, só deu garoa, sem vendaval. Depois de tudo, canta contente o lindo pardal. De quando em quando vejo um bando a esvoaçar. Ficou escuro e o porto seguro eles vão procurar. Porto seguro, ponto no escuro e o trem passou. O navio possante no porto seguro ancorou. Está tudo pronto, o navio cargueiro muito possante, já vai partir, desce ao porão, olha os detalhes, e diz: OK. Subo no escuro e ao porto seguro eu digo adeus!
18/8/2006

Em cima do muro


Em cima daquele muro, perto de um pé de flor, eu ficava observando você, meu grande amor. Vejo tudo embaralhado, manchado de tinta, cores diferentes, mas bonitas, tal e qual fitas de nosso passado, que amarravam os nossos corações. Coração, órgão principal para o homem e o animal, seja manso ou canibal. Gato do mato que pega o pato, porque o pato espantou o rato, olha teu retrato que tem cheiro de mato. Se eu soubesse que atrás do morro tem um cachorro para se adotar, eu correria, o pegaria e levaria para outro lugar, sem saber que o outro lado era o mar. Ai, ai, ai, ele pode se afogar. Em cima do muro cachorro duro não pode ficar, desce para o mar, que a água é mole e dá pra nadar. E você aqui fora, a olhar e pensar: mas como a natureza é infinita, não existe coisa mais bonita do que nadar e amar. Portanto, desça do muro, seu burro, e venha aprender a girar, girar sem parar, para não se machucar.
11/8/2006




O sonho


Sonhei que você descia de uma nuvem branca e eu estava a olhar. O céu bordado de estrelas a via tão linda qual uma rosa. Todos dormem o sono dos justos, para que possam sonhar. Por entre as árvores vemos a lua no céu a brilhar. Quanta emoção no coração do viajante, e de repente uma serpente se põe de pé a sua frente. Um pé de flor dá calor, e o trabalho, com muito ardor, dá amor. Não haverá serpente que a possa atrapalhar. Sonhar é bom, acordar é melhor (quando o sonho for legal). E um sobe e desce, enquanto o espírito enaltece e no sonho você aparece rezando uma prece. Lá na igreja tem a quermesse, ninguém esquece de ir lá também rezar. Passam os dias, que alegria, e chega o Natal. Nasceu Jesus que trouxe a luz e nos seduz, e lá no horizonte todas as fontes gritam “Jesus”. Papai Noel? Ele é um mito, só Jesus é infinito, que veio ao mundo trazer a luz e mais tarde por nós morreu na cruz.
Amém Jesus!
19/8/2006


A borboleta


Eu tive uma borboleta de asas azuis como o céu, mas eu queria uma de asas brancas, outra de asas amarelas. Nisso olhei para o chão e vi num lugar meio úmido uma borboleta pousada. Ela abria e fechava as asas. Observei que nas asas havia dois números. Cheguei mais perto com muito cuidado para não espantá-la, pois eu queria ver quais os números que se faziam presentes. Qual não foi a minha surpresa ao ver bem claro: oitenta e oito. Eu saí gritando contar para minha mãe que a borboleta tinha o preço nas asas, e oitenta e oito deveria ser o que ela valia. Mas mamãe, com toda a sabedoria que lhe era dada por Deus me disse: “não, filha, não é o que ela vale, pois vale muito mais, veja só como a natureza é caprichosa”. Deus fez tudo tão perfeito que homem nenhum consegue imitar. Olha só quantas borboletas estão voando, de cores e tamanhos diferentes, umas se alimentam do néctar das flores, outras extraem do chão úmido seu sustento. Eu ficava imaginando que deveria ser muito sujo o que elas tiravam do chão, mas mamãe disse: “não elas só retiram o que precisam”. Eu não cansava de olhar aquele bico comprido e fino que usavam para sugar do chão seu alimento. Eu disse para minha mãe: ”deve ser muito gostoso, já que elas sugam com tanta vontade esse chão úmido”. A borboleta tem uma candura que a qualquer vento perdura. Ela tem formosura, tem muita graça que jamais passa. Tem poder de sedução, porque age com o coração. Fiquei então imaginando o tamanho do coração da borboleta, que afinal é tão frágil e forte ao mesmo tempo. Que alento para quem fica observando uma borboleta: nós batemos palmas com as mãos e, claro, a borboleta faz isto e muito bem com suas asinhas. Obrigada, borboletinha, por você existir.
3/6/2006



Navegar é preciso


Quando escrevo sobre algo que conheço bem, ou penso que conheço, olho ao redor e vejo que nada vejo. Isto é muito esquisito. Mesmo assim continuo navegando, mesmo sem barco e sem remos. E lá vou eu ao encontro do desconhecido. O que seria o desconhecido, pois afinal é isto que quero descobrir e lá vou eu. Naveguei no meu subconsciente e pude sentir algo dentro de mim que nunca entendi muito bem. Continuei navegando, patinando, até chegar num lugar muito bonito, cheio de plantas, flores, e um rio que não me era desconhecido. Quis voltar e não pude, pois algo me chamou a atenção e fiquei olhando, mas estava tudo tão quieto que até fiquei com medo do silêncio. Olhei então para o céu e vi um enorme pássaro todo branco voando não muito alto. Olhei para o chão e nada vi, só escutei vozes que pareciam lamentos. Pedi a Deus que decifrasse para mim o que seria aquilo. Ouvi então uma voz que me dizia que aquilo seria o desconhecido que se fazia ouvir. O desconhecido está dentro de cada um de nós e nós mesmos o criamos e fazemos dele o que queremos. Portanto, o desconhecido estava ali ao meu lado e eu queria navegar mais e mais para encontrá-lo. Aquele pássaro branco era Deus, e para ele não existe o desconhecido, porque Deus é eterno. Ele sempre existiu, não teve princípio e não terá fim.
1º/6/2006

O primeiro dia primeiro


O primeiro choro. O primeiro riso. O primeiro olhar. O primeiro aniversário. O primeiro dia primeiro. O segundo... o terceiro... e assim por diante, até chegar o primeiro passeio. Aí vem o primeiro dia de aula, o primeiro amigo e amiga, a primeira comunhão. Quantos dias se passaram, não sei! Mas tantos outros virão. O primeiro sapato apertado como um carrapato, que mal dava para andar. Tudo tem uma primeira vez, e esta primeira vez tem que ser nossa companheira para podermos ser felizes. Todo primeiro dia primeiro é o começo de tudo, e logo fica no passado. Porém sem passado não haveria presente e nem futuro. Veio o primeiro Natal, a primeira Páscoa, o primeiro namorado ou namorada, o primeiro canto do sabiá. Canto do sabiá? Mas quem é esse tal sabiá? O sabiá é uma ave linda e seu canto é tão maravilhoso quanto os anjos do céu. E por isso eu não diria que ele é apenas um sabiá, é um Sábio!
14/6/2006



O abraço


O abraço, no cansaço, que mormaço, não sei mais o que faço. Então desfaço aquele laço que se prendeu no espaço. Longe de todos, perto de Deus. Te dou um abraço, mas como assim, se sou ateu? Depois de tudo o que aconteceu, aí te digo, não, não sou ateu! O sol se vai e chega a noite, que coisa boa. Agora posso dormir, e sonhar contigo é um privilégio. Ouço o sapo a coaxar no brejo e a coruja fazendo hóóó...hóóó na espreita de um rato para o jantar. Tudo muito bonito, sem estardalhaço. Vem, me dá um abraço e vem cantar. Cantar é bom, te acalma, te lava a alma, te faz pensar naquele dia, que alegria, em que eu pude te abraçar. Amanhece o dia, Ave-Maria, que alegria poder acordar e ver o sol nascer contente, sem dor de dente, que vem te saudar. O dia acaba e o trabalho fica para trás e o cansaço vai para o espaço e mais um grande abraço quero te dar!
16/6/2002


Água que desce da mata


Uma água pura, límpida e cristalina, água forte de vida, todos precisam dela. Os homens, os animais, as plantas... não existe um ser vivo sobre a terra que não precise de água. É por isso que devemos conservar e proteger nossas florestas, matas e rios, para que a vida não acabe. Se não for assim, tudo acabará. Não esperes que alguém plante uma árvore para fazeres o mesmo, se somos capazes de amar também somos capazes de conservar. Não fique esperando que as coisas caiam do céu, faça por merecê-las. Tudo o que nós fizermos em prol da natureza é muito gratificante e receberemos em troca uma vida muito saudável e feliz. Não esperes um bom emprego para começar a trabalhar, comece a trabalhar sem empregar. Não esperes a pessoa certa para se apaixonar, porque então nunca te apaixonarás. Às vezes esperamos dias, semanas, meses ou anos, que venha alguém e nos diga “eu te amo”. Não faças isso, mas diga todos os dias o quanto amas a Deus. São períodos difíceis quando o calor humano some, e a vida se resume em um árduo esforço de sobrevivência. Quando vais pisar em alguém, tira o sapato para não machucar. Quando a gente pensa que não tem nada aí é que se tem tudo. Então, vamos fazer um chá da erva-doce da paz...
15/7/2006


Quem faz vive mais


Principalmente fazer o bem sem olhar a quem! Procurar fazer bem feito tudo o que a gente faz. As orações têm que ser feitas com muita fé. O trabalho, os passeios, os encontros. Caprichar no amor. Procurar não errar muito. O descanso, o dia-a-dia, sempre muito bem vividos. Quanto melhor for o desempenho, em qual se a atitude, mais extensa será nossa vida. Fazer bem feito então nem se fala. Sempre fazer melhor, não parar nunca, porque se paramos morremos, e por isso eu digo: “quem faz vive mais”.
26/7/2006

O passado


Tudo vem e tudo passa, só a cabeça do prego não! Este é um provérbio muito antigo, mas até onde eu posso entender, ele é certíssimo. É possível sim, a gente reutilizar um prego, porque se o arrancamos e endireitamos, podemos então repregá-lo. Mas, por que isto é possível? Justamente porque ele tem cabeça, estando em bom estado vai continuar cumprindo sua função. Com o homem acontece a mesma coisa, ele pode usar a cabeça e volta até lá atrás, resgata o passado. E lembro com saudades do meu passado, porque com a cabeça posso resgatá-lo quando eu quiser. Ele foi bom e ruim, lutei, chorei, sofri, senti frio e dor, passei necessidades. Meu passado foi tudo isso e muito mais, caí muitas vezes, mas foi caindo que aprendi a cair de pé. Com o passar dos anos as quedas foram diminuindo e até esqueci de cair. Será? Claro que, enquanto eu tiver cabeça, nunca hei de esquecer nada. É só cair, levantar, endireitar o corpo como se fosse um prego e seguir em frente. Todo ser humano tem um passado, senão não existiria o presente e nem o futuro. O passado faz todo o sentido da vida, é tão bom poder falar do passado. Infeliz do homem que diz não ter passado. Ele já morreu, acabou-se! Acabou nada! Põe um pouco de lenha no fogo, para manter acesa a brasa do passado e, assim, terás teu presente pronto para entrar no futuro. O dia em que eu não mais existir (sim, porque esta é a única certeza do futuro – a morte) deixo então estes meus escritos. Quem os ler lembrará de mim, e assim meu passado continuará vivo no seu presente e no seu futuro. Minha vida é razoavelmente boa, graças a Deus. Ainda posso andar, falar, enxergar, comer, rezar, dormir, passear, trabalhar e principalmente escrever. Às vezes também canso ou me estresso, daí faço um chá de erva-doce da paz. Tomo e fica tudo bem. Penso, não tenho nada e tenho tudo, sou rica em sonhos e sempre sonho mais. Amo a vida para poder partir tranqüila quando a hora chegar! Então, o que você está esperando para começar a se amar? Não esqueça nunca de usar a cabeça, porque esta tem passado, afinal, só a cabeça do prego é que não passa!
30/7/2006

Os cinco dedos da mão


Cada mão tem cinco dedos: polegar, indicador, médio, anelar e mínimo. O menor de todos chama-se mínimo e o mais grosso, polegar. Isto aprendi na escola, quando criança, mas hoje posso avaliar melhor cada dedo. Vou começar pelo polegar, que é gordinho, baixinho e muito mandão. Com ele podemos indicar positivo e negativo e ele se sente muito bem com isso. O indicador aponta para tudo e para todos, como se tudo soubesse: ― olha aquela lá é isso, aquele outro é aquilo, este aí tem, este outro não tem. Ele aponta sempre e acha que ele é que está certo! O médio, o mais alto de todos ou o mais comprido, como queiram, fica só olhando o que acontece, já que ele se sente por cima dos demais e vê todos os defeitos (os que existem e os que não existem). E ele acha que está sempre certo. O anelar, que eu conheci como anular, mas acho que o certo é anelar, por ser o dono dos anéis, alianças, por esta grande tradição acha-se o rei de todos. Sempre carregando o ouro. Às vezes faz pouco dos outros, pensa ser o mais importante. Já o mínimo, que eu conheci como mindinho, coitadinho, por ser o menor e mais humilde, cuida da faxina da casa, para que quando os outros entrarem em casa, esta estar sempre limpa e cheirosa. Para que eles não vejam nenhum defeito nele. Mas, quando se juntam para rezar, comer ou mesmo dormir são todos iguais. Ninguém é mais do que ninguém e todos juntos têm um só Deus. Assim são as famílias, que podem ter um ou vinte filhos, um diferente do outro, mas no fundo são todos iguais. É muito normal que cada um queira ser mais que o outro, e muito raras são as famílias que não sejam assim, porque assim é a vida. Vão crescendo e se multiplicando. Chega o dia em que se unem novamente, como se fossem os dedos da mão. É assim que caminha o homem. Tudo o que a gente planta, cresce e floresce como o amor. Amor que não é correspondido não é amor: é castigo! Todos devemos ir pelo caminho da salvação e nunca pelo atalho da perdição. A chave da felicidade é a chave do coração. Eu ainda diria: ― “O último a sair, por favor, feche a porta e... apague a luz!”
18/8/2006

Amanhece o dia


Um dia tão lindo, promete. Levanto-me sem espanto. Corro para um canto e fico a te olhar. Bom dia, sol! Você já vem me esquentar com os teus raios cor de ouro, forte que nem um touro. Vem se mostrar ao mundo e dizer para que veio! Saio correndo de encontro ao vento e encontro o sol. Corro para a praia e, num lampejo, vejo o caranguejo beijando o mar. Que alegria! A calmaria me faz refletir e as coisas boas com você quero dividir. Amor perfeito ou imperfeito, porém direito de se amar. E o Pai Celeste, com sua veste, me faz pensar, qual passarinho, fazendo o ninho no bananal. E de repente, fica caliente e as ondas do mar imenso viram marolas, e cada vez mais fortes! Muito fortes! Agora deu medo, mas qual é segredo deste imenso mar? Volto para casa pensando nele, pensando em mim, pensando em nós. Ó Pai Celeste: ajuda-me a enfrentar o vento forte de encontro ao peito, me faz parar. Muita calma nesta hora, porque a marola é filha do mar. Ela vem me trazer alegria. Escuta, Maria, o que vou te contar. Que dia lindo e o tamarindo já floresceu. E, mais ainda, junto dele estava eu. Te garanto que sem espanto via a noite se aproximar. Que coisa linda, poder abraçar a noite e começar a viver, já que a noite é uma criança ainda. E com esperança agora vou descansar. Boa noite pai, boa noite mãe, boa noite filho, boa noite meu amor. Em letras simples, com emoção, escrevi com o coração. E ao Pai do Céu com muito amor peço perdão. E agradeço sempre... sempre e mais uma vez de todo meu coração.
16/8/2006

As perguntas


Você pode não ter todas as respostas para as perguntas que te fizerem. Mas, tenta descobrir porque te fazem estas perguntas. Por exemplo, se te perguntarem o que vais fazer amanhã? Pois é, nem sempre se sabe o que se vai fazer amanhã. Então, responde honestamente: “não sei!” Começa então a pensar, será que esta pessoa não queria te convidar para um passeio? Ou será que ela quis te testar por alguma razão? Depois, mas só depois, você se lembra que é o aniversário dela! Só que ficha caiu muito tarde e a pessoa já foi embora. Que mancada! Quando você estiver com o casamento marcado para casar com o César e vem, um mês antes, seu amigo Tiago e pergunta: “O que você gostaria de ganhar como presente de casamento?” A resposta é sempre a mesma: “Ah, não sei. Você dá o que quiser, ou o que puder, será bem-vindo”. Depois você pensa e repensa, o porquê desta pergunta, e surge então a dúvida, será... será... será que o presente de casamento não era para eu dizer que gostaria de me casar com o Tiago e não com César? Eu nem posso imaginar isso! Eu escrevendo isso, é muita audácia de minha parte, mas são as coisas da vida. E com tantas barbaridades que acontecem diariamente esta ainda é café pequeno (dito na gíria). E se eu perguntasse para alguém: “Escuta, você gosta de mim?” E se esse alguém me respondesse rapidamente: “Claro que gosto de você e muito”, eu começaria a pensar e chegaria a conclusão de que é mentira, porque quando a resposta é dada sem pensar, pode ser mentirosa. A resposta a qualquer pergunta deve ser bem refletida, antes de ser dada, para não ser nem soar mentirosa. Junte-se a um grupo de amigos e diga que vai pagar cervejas para todos, o que disser que vai te ajudar a pagar é mentiroso. Não é seu amigo. Se você ofereceu é porque quer e pode pagar e não pediu a ninguém para ajudar. Agora, se você disser: “Vamos rachar a despesa?”, aí é outra coisa, e aquele que disser que esqueceu a carteira em casa ou é mentiroso ou é teu parente.
11/8/2006


No caminho tinha uma pedra


Tinha uma pedra no meio do caminho e, se você não sabe por onde ir, vai pelo caminho do meio. Eu acordo pela manhã, às vezes muito feliz, às vezes nem tanto, para enfrentar o dia que está começando. Mas vou sempre pelo caminho do meio e tinha uma pedra no meio do caminho, também. De longe avistei e era enorme. Fui chegando mais perto e parecia que a pedra diminuía de tamanho, tinha um brilho forte e, à medida que eu me aproximava, parecia que mais diminuía de tamanho. Quando eu pude finalmente tocar nela, ela já era tão pequena que cabia na palma da mão. E brilhava tanto que chegava a ofuscar minha vista. Sem saber do que se tratava, levei a pedra para casa. Fiquei então sabendo que era uma pedra preciosa e muito cara também. Eu consegui remover a pedra que estava no meio do caminho e aprendi que não existem obstáculos, muito menos pedras no meio do caminho, que não se possa retirar. Eu retirei a pedra do caminho, e por isso sigo sempre pelo caminho do meio, o caminho da pedra preciosa!
12/9/2006

Te encontro na praia


Bem cedo fui dar um passeio pela paia. O sol estava se fazendo presente, anunciando um dia majestoso e bom para bons passeios. Mas andando pela praia não encontrava ninguém. Olhava para um e para outro lado e nada acontecia. Estavam todos dormindo. Só eu estava andando por aí. Olhei para o mar, a maré estava cheia. Então pensei: “Se a maré está cheia, estou muito bem acompanhada, porque o mar é o mundo dos peixes, e tem centenas de milhares de todos os tipos no mar”. Então, percebi que não estava sozinha. Resolvido meu problema. Nisso, na avenida beira-mar, vi um menino. Chamei-o e disse: “Vamos passear pela praia?, afinal estamos sós, nós dois, vamos andar juntos por aí?” Ele me respondeu: “Eu até poderia passear com você, mas não tenho tempo, estou procurando um bezerro com um dente de ouro!” “Você é doido ?” disse eu, “Não existe tal bezerro com dente de ouro! Isso não existe”. “Existe, sim”, disse o menino, “Já o vi muitas vezes, mas ele sempre me escapuliu, já que só o vejo à noite, e aí fica difícil pegá-lo. Sempre me foge, mas um dia vou conseguir botar as mãos nele!” Convidou-me para irmos à praia à noite e disse: “Acho que para duas pessoas será mais fácil pegá-lo”. Está bem”, respondi. “Combinado, hoje à noite, assim que escurecer, vamos juntos procurar o tal bezerro de dente de ouro.” Conforme o combinado lá fomos nós, à noite, procurar o tal bezerro. Mas qual não foi minha surpresa quando o menino gritou: “Olhe lá, lá está ele. E vem ao nosso encontro, vai ser fácil pegá-lo. Esse dente dele deve valer uma fortuna”. Não era um bezerro, e sim um pirilampo, desses que têm uma luzinha no rabinho e que brilha à noite. O menino achava que seria um dente de ouro. “Não”, disse eu, “ele não tem nada de ouro. Esta é uma luz própria dele, para poder enxergar”. “Ah!”, disse o menino, “Então é por isso que ele só aparece à noite?” “Bem”, disse eu, “Já que você resolveu seu problema eu posso resolver o meu. Vamos ser amigos?” E lhe estendi a mão. “Amigos”, disse ele, “Você com seu mar cheio de peixes, e eu com meu bezerro de dente de ouro, e ambos grandes amigos!”
20/9/2006


Fazer Arte


Hoje, amanhã e sempre, aqui e em toda parte tem alguém fazendo arte. Cheguei na casa de minha tia e perguntei: “Onde está o primo Roque?” Ela me respondeu: “Não estará ele no jardim?” “Não”, disse eu, “Lá eu não o vi, ah, então está fazendo arte!” Fui a escola e minha colega não veio para a aula. Perguntei para a professora: “Onde está Maria?” E a professora disse: “Ela está aprendendo a arte do bordado, e por isso, faltou à aula hoje”. Fui à casa do Loreno e perguntei: “Onde está o Zéio?” E a resposta foi: “Ele está lá no atelier de cerâmica, trabalhando. Portanto, fazendo arte. Nós todos somos artistas de certo modo, porque até para sobreviver temos que usar a arte. Seja para trabalhar, seja para passear, enfim, para tudo temos que ser artistas! Até para fazer arte!
13/9/2006

A goteira


Era uma noite muito escura, totalmente sem luar e ameaçando chuva. Eu fiz meu diário e minhas orações, agradecendo a Deus tudo o que tive naquele dia que estava findando. Agradeci também tudo o que não tive e que, talvez por minha culpa, não havia alcançado. Deus nos proporciona tudo, resta que aproveitemos e reconheçamos que, se nós quisermos, conseguiremos. A noite se adiantou e já era quase meia-noite. Eu escutava um barulho esquisito, fui olhar o que era. Vi uma goteira que pingava teimosamente sobre uma mesa e fazia um barulho que me irritava. Mas, como tudo na vida tem sua hora, minha goteira iria ter a dela! E, pensei, amanhã vou consertar, ou melhor, vou tapar o buraco por onde caía a água. No outro dia não choveu e me esqueci de tapar o tal buraco. Passaram-se vários dias e choveu novamente. Lá estava a goteira soberba, fazendo toc-toc-toc. Então, disse para mim mesma: “Deixa parar a chuva e vou consertar”. Parou a chuva e novamente me esqueci de tapar o buraco. Passaram-se mais dias, semanas e meses, e de repente, um barulho estranho vinha do telhado. Mas desta vez, não estava chovendo, pelo contrário, fazia um sol escaldante. Fui então olhar o que seria aquilo? Tive outra surpresa, então. Lá no telhado estava um Bem-te-vi, batendo insistentemente num caramujo, do qual queria tirar o miolo para seu almoço. Quando ele me viu recomeçou a bater com mais força e o tempo foi fechando, prometendo nova chuva. Vi, então, que o Bem-te-vi estava me avisando para fechar o buraco antes de cair outra vez a chuva. Era como se o Bem-te-vi dissesse para mim: “Ainda bem que te vi, para te lembrar da goteira que tanto te irrita, quando chove!” Assim ele poderia continuar comendo seu caramujo em paz!
9/10/2006


O desconhecido


Será que o desconhecido também é incerto? A arte pode e deve transformar as pessoas, porque a felicidade está sempre muito próxima da verdade. Mas que verdade? Mas que felicidade? Se o mundo sempre desaba quando a gente menos espera e num abrir e fechar de olhos tudo corre para seu verdadeiro lugar? Cada grão de areia que fica no sapato, machucando o pé, nos ensina alguma coisa. E, se não for diferente, aprendemos ao menos a ser tolerantes. É, portanto, um aprendizado.
Quantas vezes perdemos parte de nossa vida por causa da vaidade. Ser ignorante é tudo na vida de quem não tem amor à própria vida. Você pensa que está no sétimo céu e, no entanto, está nos quintos dos infernos.
Determinação é pôr a mão no coração. Faz muito mais barulho uma árvore que cai, do que uma floresta crescendo. Eu tenho um sonho, de um dia poder voar com as borboletas, cantar com os passarinhos e nadar com os peixes. Só que a gente passa a vida toda aprendendo e nunca sabe nada. As coisas devem continuar a ser a mesmas.
Felicidade não se empresta, se transfere; não se depena e nem se apara as arestas. Fazer rir é coisa séria. Se me perguntarem por qual porta eu gostaria de entrar, eu responderia: “Pela porta que estiver aberta!”
O melhor banco do mundo é aquele que está vago e eu posso depositar minhas poupanças sem me preocupar. Não há senhor sem terra e não há terra sem senhor, mas para mim tudo isso é incerto e desconhecido!
30/10/2006


Escreva


Escrever é um passatempo que fortalece a saúde mental e física. Sempre amei muito ler e escrever, tanto que sempre tento fazer algo que me fortaleça o corpo e a alma. A cultura é uma riqueza que nenhum tirano pode confiscar. Do pouco que eu sei me considero uma sábia. Desde criança aprendi a amar o próximo e a respeitá-lo. Eu andei por este país por várias cidades, conheci gente diferente de outros estados e vi muita coisa errada, mas nem por isso eu preciso errar também. Aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a simples arte de vivermos juntos como irmãos. Quando o sábio aponta para a lua, o idiota olha pra o dedo que aponta. Omissões, falsidades, mentiras, olhares tortos e um monte de coisa erradas todos nós fazemos, às vezes sem pensar. Mas não tem nada no mundo que não se possa mudar e, se possível, sempre para melhor. Às vezes, um presente que se receba nos faz saber quem somos e lembrar o que já fomos. Altos e baixos surgem sem a gente esperar e é por isso que ainda sabe-se o quanto é bom viver, estar vivo, continuar subindo ou descendo com muita dignidade. A coisa mais certa deste mundo é que aquilo que faz a felicidade do homem acaba sendo igualmente a fonte de suas desgraças.
13/6/2008


Venha logo

Mas se eu digo: Venha! Você traz a lenha
Pro meu fogo acender...
Lenha, Zeca Baleiro


Não sei se vais entender o que eu vou dizer. Não esqueço aquele dia, como se fosse hoje, em que você disse: eu vou embora. Quanto te implorei e chorei, pedindo para voltar, e você me esnobou.
Eu nasci te amando e devo dizer que não sei quando você vai me entender. Entra ano, sai ano, tudo está se transformando e, sem que você perceba, me transformei também. Agora você é que pede para voltar. Então eu te digo, venha, mas não traga a lenha, pois meu coração congelou e não há fogo que o descongele. Pouco ou nada fizeste para cuidar dos ciprestes que eu ajudei a plantar e, todos os dias, com minhas lágrimas, eu os regava para vê-los brotar. Você nem se dava conta que tudo o que a gente planta tem que saber cultivar. Deus abriu meu caminho quando tocou o sino para eu viver feliz. E hoje, aqueles ciprestes que estão lá, no agreste, frondosas plantas, encantam a menina dos meus olhos, e os passarinhos felizes fazem ali os seus ninhos e agradecem a casa que eu ajudei a construir.
Tudo vem e tudo passa e você diz passe a borracha, mas como? Se você nunca viu nem uma seringueira crescer. Seis eram as plantinhas, seis é o dia do sexto mês do ano de dois mil e seis, eu me lembrei de escrever em homenagem a vocês, meus ciprestes, que depois de tantos anos são, para mim, como humanos.
6/6/2006


Coisas que a gente não esquece



Quando penso que sei tudo, e que já vi tudo, é aí que começo a ver mais e mais coisas. A gente precisa primeiro ganhar, depois multiplicar para então começar a dividir, e isto eu digo por mim, é muito difícil. Eu nunca fui muito boa em matemática, mas tem horas que a gente precisa dela. O meu fraco sempre foi escrever, ler, enfim, do meu jeito, com pouco estudo, mas gosto mesmo é da literatura. Eu estava viajando, uma ocasião, com meu marido. Estávamos sem rumo e chegamos a uma cidade perto de Florianópolis, chamada Tijucas. Por ser uma cidade mais antiga, tinha ali uma igreja também muita antiga e muito bonita. Tinha também muitos casarões e me encantei com tudo aquilo. Procuramos um restaurante para almoçar. Entramos. Estava tudo muito limpo e as pessoas muito receptivas e simpáticas. Almoçamos e pensei em ir até a igreja. O meu marido entrou no carro, sentou, se recostou no assento e dormiu. Eu fui à igreja, entrei para fazer uma oração. Na porta de entrada estavam três crianças, duas meninas e um menino. Elas olharam para mim e disseram: “Boa tarde, tia”. Eu respondi: “Boa tarde” e entrei. Quando saí, o menino, que eu calculei ter nove anos, aproximou-se de mim e disse: “Tia, não quer comprar uns peixes? São bem fresquinhos, meu pai é pescador e os pescou hoje cedo”. Eu disse que não podia comprar, porque estava viajando e até chegar em casa os peixes estariam estragados. Chegaram as duas meninas, que eu pensei terem sete e cinco anos. A maiorzinha me pediu um dinheiro para comprar pão, pois eu não poderia comprar os peixes. Uma coisa me chamou a atenção, pois as duas meninas estavam com as mãos para trás e me olhavam com um olhar tão triste que me deu dó. Eu disse, tá bom, vou dar um trocado para cada uma, inclusive seu irmão: dei primeiro para o menino, que agradeceu e ficou muito feliz. Chegou a vez das meninas. Eu ofereci para a menorzinha e ela disse para a irmã “Pega você”. Tive então outra surpresa, por sinal muito agradável. A menina trouxe a mãozinha à frente e nela estava uma rosa amarela, e disse “Tia, isto é para a senhora”. Pegou o dinheiro e agradeceu. Eu fiquei com aquela linda rosa. Chegou a vez da outra menina e aconteceu a mesma coisa, só que a rosa era vermelha, linda de viver! O menino se aproximou e disse, “Tia, eu não tenho uma rosa para lhe dar, posso lhe dar um abraço e um beijo?” As meninas também me abraçaram e me beijaram e disseram que este foi o dia mais feliz da vida dos três e disseram que nunca puderam beijar a mãe, ela havia falecido quando ainda eram bem pequenos. A minha vontade foi de levar os três comigo, mas tinha o pai, que por sua vez veio ao encontro deles. Ele também agradeceu e disse “Senhora, tive mais três filhos, eram trigêmeos e a mãe faleceu quando os três nasceram. Também foram junto com a mãe morar com o Papai do Céu”. Nova surpresa quando o menino disse “Sabe, tia, três mais três são seis, não é verdade?” Eu respondi que sim, é verdade. Percebi que ele já sabia somar. Eu me encontrei com a humildade, a educação e a sinceridade daquelas crianças junto com o pai, e com o coração apertado me despedi deles. Acenando as mãos, as crianças disseram “Volta outro dia, tia, tá?”. Eu disse qualquer dia desses, se Deus quiser. Sem diminuir, só somando, multiplicando e dividindo. Haja coração!
29/6/2005


Pai


Está se aproximando o Dia dos Pais. Eu perdi o meu há cinqüenta e dois anos. Na época não era costume festejar e parabenizar o pai no dia dele, porque esse dia não existia, surgiu alguns anos mais tarde, talvez nas grandes cidades já existisse, mas onde nós morávamos, não! Hoje, sem a presença dele, eu digo “Papai, eu estou aqui, não te parabenizando nem te cumprimentando, mas sim conversando com você”. A minha conversa é por meio de orações, como se eu estivesse conversando com Deus. Mas, se ainda estivesses vivo e pudesses me ouvir, eu diria “Papai, eu te amo com toda a força do meu coração”. Meu pai amado, você não conheceu meu marido, nem meu filho, pois você já morava no céu quando tudo isto aconteceu. Eu gostaria de poder te contar o dia a dia de minha vida e da minha família. Só a mamãe teve esse privilégio, e foi tão bom. Ela foi minha mãe e melhor amiga. Nós sempre lembramos de você nas nossas conversas, sentadas na varanda da casa, como nós fazíamos com você, quando ainda éramos crianças em Rio do Cedros. Eu fazia trancinhas no teu cabelo, ainda não ia para a escola. Um dia você me deu um almanaque que era brinde da farmácia, tinha calendário e muitas outras coisas para se ler. Você me disse para guardá-lo e, quando soubesse ler, deveria lê-lo para você. Eu guardei e, quando comecei a ir à escola, lembrei do almanaque e, é claro, ainda não sabia ler, pois estava há pouco tempo na aula. Só fiz de conta que sabia, e li para você e você deu risada, nem sei o que eu li, pois nem o português eu falava direito, e sim o italiano. Mas eu li para você. Papai, se você estivesse vivo eu queria te dar um abraço e um milhão de beijos, não pelo Dia dos Pais, mas por você ser meu pai, que eu perdi tão cedo! Pai que aprendi a amar e principalmente a respeitar. Quando eu tinha catorze anos, nós nos mudamos de Rio dos Cedros para Jaraguá do Sul. Era o mês de março de mil novecentos e quarenta e seis. Não sei precisar o dia, só me lembro do mês e do ano. A partir daí convivi muito pouco com você, pois logo fui trabalhar. E nunca mais voltei para ficar em casa. Só vinha a passeio, quando podia. Por isso minha convivência foi tão breve, mas para mim valeu por toda a minha vida. Você e mamãe estão no meu coração e vão comigo para onde eu for. E vocês, onde quer que estejam, estou com vocês. Por isso eu digo obrigada, meu Deus, por ter tido pais carinhosos, bons e compreensivos e acima de tudo amigos, que só me ensinaram o bem.
Obrigada, meu Deus, por eles terem sido meus pais!
9/7/2002


É Natal


É tempo de muita luz, muito amor. Todos fazem compras, pensam em presentes e será que lembram que é Jesus que vai nascer? Esse menino que vem para salvar o mundo? Ele tem o pai, a mãe, os apóstolos, os reis magos, até as vaquinhas da humilde estrebaria onde ele nasceu, e são todos felizes juntos. Eu às vezes penso: porque as pessoas precisam morrer e deixar outras tão só? Penso muito nisso e sinto-me só muitas vezes, não tenho com quem conversar, justamente porque penso diferente de muitas outras pessoas. Por ter perdido meu companheiro (bem ou mal, éramos companheiros).
Nossas vidas apresentavam altos e baixos, como todo mundo, mas vivíamos bem. Hoje estou sozinha, o meu maior prazer é trabalhar, enquanto eu puder. Gosto de escrever, gosto muito de ler. Mas estou só. Aliás, nem diria que estou tão só, porque Deus está sempre comigo. Ele me acompanha nos momentos bons e ruins e nunca chama a minha atenção por isso ou por aquilo. E eu agradeço rezando, rezando e agradecendo sempre, sempre, sempre... Tenho meu filho que mora ao lado de minha casa, a quem aliás amo muito e respeito acima de tudo. Porém já fiz a minha parte, agora ele tem a vida dele e eu não quero, não posso e não devo interferir. Eu só quero que ele seja muito feliz, na medida do possível. Filho, que teu Natal seja um Natal Santo e muito bom, junto com a pessoa que você escolheu e que também aprendi a amar. E você, Rogério, espero que te sintas bem junto de nossa família, é tudo o que podemos te oferecer. Muita saúde, bem estar e paz no coração e que o Menino Deus olhe sempre por vocês dois e os protejam sempre. Que a luz do Divino Espírito Santo desça sobre nós e permaneça para sempre em nossos corações, sem ódio nem rancor, mas com muito amor.
25/12/2006


O ceguinho


Eu estava num determinado local, onde uma turma de jovens conversava. Discutiam sobre emprego, que diziam não conseguir, enfim, estavam se queixando uns para os outros, mas no fundo era sempre a mesma coisa: “não tem emprego”. Nisso passou um deficiente visual, ou cego, como queiram, ele passava apressado. Um dos jovens chamou o cego e perguntou: “Aonde você vai com tanta pressa? Vem aqui com a gente jogar conversa fora, já que ninguém tem o que fazer”. “Não”, respondeu o cego, “eu tenho o que fazer sim, estou indo para o meu trabalho, para o qual batalhei muito até conseguir. Vocês deveriam fazer o mesmo, porque ficar aí se queixando não dá camisa para ninguém. Vão à luta, façam como eu, ou vocês não podem andar? Eu sou deficiente visual, mas posso andar. E se eu enxergasse e não pudesse andar, ainda assim eu iria à luta, mesmo que fosse numa cadeira de rodas. A cabeça funcionando, tudo bem! Porque é ela que nos guia para onde queremos e precisamos ir. Me desculpem, eu falei, falei e não perguntei se vocês têm alguma deficiência”. No que todos responderam: “Não, não, nós somos todos perfeitos”. O ceguinho novamente pediu desculpas e disse: “Vocês são perfeitos, desculpem eu dizer, mas são todos doentes da cabeça. Parem de se queixar e vão à luta, quantos cegos gostariam de enxergar, quantos paralíticos gostariam de andar e não ficam se queixando, porque se Deus nos tirou a visão ou nos impede de andar, ou ouvir que seja, por qualquer motivo, nos deu uma cabeça muito boa, sem influência negativa. Por isso agradeço a Deus todos os dias por tudo o que tenho e o que eu posso fazer para ter cada vez mais. Deficiente é aquele que enxerga e ri do cego, ou pode ouvir e faz pouco caso do surdo. O que pode andar e arremeda um manco ou paralítico. Ri de todos os que são imperfeitos, mas na realidade é um completo deficiente, porque está ruim da cabeça e não tem outra explicação”.
Os que nós chamamos de especiais são realmente especiais: enquanto os “normais” tripudiam em cima deles, eles andam, enxergam, ouvem e falam pela voz do coração, comandados pela cabeça, que é mais normal do que qualquer dito normal.
3/8/2005


Os meus pequenos cacos


Hoje estou aqui tentando juntar alguns cacos. Amanhã posso estar em outro lugar, tentando achar outros cacos que perdi por aí. Mares, ondas, montanhas, cascatas, cidades, edifícios, praias, enfim, tantos lugares onde eu posso encontrar o resto dos meus cacos. Fui criança e brinquei muito, estudei pouco, cantei bastante, sorri, chorei, esperneei, fiz tudo o que tive direito de fazer. Olhe aqueles passarinhos, que lindos, cuidado para não caírem por aquela cascata. O mundo gira, gira, mas sempre está no mesmo lugar, como pode isso? Quem pode me explicar? Eu preciso correr, porque andar depressa é muito devagar. Sobre a mesa estava o vaso de flores, a janela aberta, o vento levou a cortina por cima da mesa e derrubou o vaso. Sabem o que aconteceu? Acabou tudo num monte de cacos. Caco também foi o nome do meu gato, que, aliás, perdeu a mãe num acidente de carro, porque ela foi atravessar a rua para pegar um rato para o Caco. O nome da gata era Belina. O Caco foi criado com uma mamadeira, já que ele era muito novinho quando perdeu a mãe gata. E quando ele cresceu sabe o que aconteceu? Ele quebrou a mamadeira e deixou tudo em cacos. Eu queria montar um cavalo branco chamado Príncipe, correr até chegar ao limite, mas qual é o limite? Sei lá, deve ser quando começam a cair os pedaços e tudo se transforma em cacos. Estou chegando num lugar que parece que eu conheço, olho e vejo algo que me chama a atenção. Uma casa, ranchos, carroças, animais domésticos, plantações, de tudo um pouco. Olhei mais uma vez, e mais uma vez, e reconheci: foi ali que eu nasci, e estava explicado – encontrei os meus cacos, aqueles que ainda faltavam, pois foi ali que comecei a perdê-los. Que bom, achei o resto e me completei. Agora estou novamente inteira e feliz, graças a Deus e à minha paciência de procurar todos os meus cacos até encontrar. Obrigada, meu Deus!
12/2005


Essas mulheres maravilhosas


Às vezes me pego pensando nas mulheres do nosso Brasil. Mas também vejo árvores frondosas fazendo sombra ou dando frutas, e daí vem para mim a diferença entre as mulheres. As da cidade falam em cargos públicos, engenharia, diretorias de empresas e muito mais. Elas falam que para viver precisam de tudo isso, por exemplo: fazer ginástica, caminhadas, natação, enfim dizem que precisam de tudo isso para ter uma vida saudável. Pois muito bem! E as que trabalham duro no campo, ou na roça, como queiram, elas plantam verduras, legumes, plantam milho, arroz, feijão, aipim, batatas, tudo isso para os que moram na cidade ter o que comer. Criam galinhas para lhes vender os ovos, e também frangos. Vacas para lhes vender o leite, o queijo. Porcos para carnear, enfim, muito trabalho têm elas, para poder alimentar quem mora na cidade. Essas mulheres nunca sabem se conseguem colher tudo o que plantam. Isso só o tempo é quem diz. Muita chuva não é bom, pouca também não e no fim do mês não tem salário, porque no mais das vezes leva muito mais que um mês para colher, vender e daí receber. E ainda quando os que se dizem fiscais não vêm jogar tudo fora, o que com tanto sacrifício conseguiram trazer até a cidade, para conseguir algum dinheiro, para pagar os impostos e trazer também algum dinheiro para a família, que o necessita para seu sustento. E cadê o tempo para elas fazerem ginástica, caminhadas, natação e cuidar da pele, dos cabelos e das unhas? Cadê? Mas para isso as dondocas da cidade não dão a mínima importância, já que elas nem fazem idéia como uma mulher agricultora sofre para poder sobreviver. Foi só uma comparação que eu fiz, porque já trabalhei na roça e plantei, além de tudo o que já citei, também o tabaco. Era uma coisa horrível para se lidar. Grudava tudo na roupa e emplastava o cabelo de tal maneira que para lavar levava uma hora. Mas tudo isso foi só uma comparação minha, não estou criticando ninguém. Só os políticos, falo de coração, que boa parte deles se acha o dono da bola. Mas quando têm que chutar em gol, não sabem nem para onde fica a trave. Pode até ser que se a gente perguntar para eles onde fica a capital do Brasil vão dizer que fica no Japão, na Inglaterra ou mesmo no Paraguai, menos no Brasil. Do Brasil eles só querem o dinheiro, nem que seja dentro das cuecas. Nós, brasileiros honestos, que pagamos nossos impostos e todos os encargos que nos são cobrados é que estamos a sustentar os políticos corruptos e ladrões e mais um monte de malandros que são protegidos por eles. Quando eu subo, todos descem. Quando eu desço, todos sobem. Será que isso tem uma explicação? Se eles transmitissem um pouco mais de amor ao próximo eu lhes diria: “O amor é tão bonito, é maior que o infinito, nunca pode acabar”.
30/5/2006

A capa do livro


Lá do alto do morro pude ver uma linda casa, lá embaixo, com cortinas esvoaçando ao vento. O telhado pintado de vermelho, as paredes brancas, um lindo gramado ao seu redor. As crianças brincando com o gatinho, o cachorrinho latindo e correndo atrás das borboletas e os passarinhos fazendo peripécias. Além de saber ler e escrever, descobri que sei avaliar toda a natureza. Alguém desliza nas ondas, outros descem em enxurradas. A emoção domina a razão, mas nunca a sensação. Às vezes penso que as coisas são muito pesadas para o meu colo. O amor deve ser sensual e não sexual. Alfabetizar não é só ensinar a ler e escrever, é muito mais. É olhar um quadro, uma paisagem, uma flor, ver o riso de uma criança, ver um livro, ou melhor, ver a capa de um livro, achar linda, mas já imaginando o seu conteúdo. Ver as folhas caindo no outono e esperar o inverno chegar, e, na primavera, ver tudo brotar novamente. A poesia da roça é a nossa poesia. Eu ainda pergunto: “Viajante, qual é o caminho?” Não existem caminhos, a gente mesmo os vai traçando!
14/8/2002

O palanque


Foi armado um palanque para um comício. E a noite o povo se aglomera para ouvir o que os políticos iam falar. Foram chegando os candidatos, e subiram no palanque se espremendo ao máximo, pois todos queriam mentir um pouco. No meio do povo que se acotovelava estavam os fiscais, cuidando para que nada de ruim acontecesse. E assim, um a um, foram dando os seus discursos e um dos fiscais que estava no meio do povo, de vez em quando, gritava: “Cuidado, pode cair!”, mas ninguém dava ouvidos. Um eleitor observava o fiscal, que às vezes gritava meio desesperado: “Cuidado!” Passou o tempo e de repente o fiscal correu para o palanque, sempre gritando: “Cuidado, vai cair!” E quando chegou perto do palanque, este caiu! E os políticos pularam que nem pipoca em panela quente. Quando foram verificar, perceberam que o fiscal, que era fanático por política, havia ficado debaixo dos escombros e estava morto. Ninguém lhe tinha dado ouvidos e todos saíram feridos, uns em estado grave, outros nem tanto. Mas o fiscal morreu. O eleitor acompanhara a angústia do fiscal, que gritava insistentemente: “Vai cair, vai cair!” Eu assisti a tudo, mas como político é mentiroso demais, também não acreditei no fiscal. Desta vez o tiro saiu pela culatra e o fiscal se ferrou. Eu gostaria de acreditar nos políticos, mas quem acredita em mentiroso gosta da mentira, também. Eu não gosto de falsidade. Não posso acreditar neles, esta é minha opinião.
8/8/2006

O asfalto


Estava saindo de casa, quando uma criança se aproximou de mim, parei o carro, e ela chegou perto e perguntou: “Aonde vai, senhora?” Vou passear, respondi, vou pegar o asfalto. “Pegar o asfalto?” – perguntou ela meio espantada – “o que é o asfalto?” Eu tentei explicar mais, por se tratar de uma criança, achei que deveria falar algo que ela entendesse. Eu disse, o asfalto é uma cobra ou como se fosse uma cobra, bem comprida, também chamada de rua ou estrada, e por ela ser recapeada com uma camada de material preto, chamado asfalto. E por isso nós a chamamos de cobra preta. Uma criança é muito mais inteligente do que nós imaginamos. Quando eu quis dar a partida no meu carro, ela ainda me perguntou: “Mas para onde você vai?” Eu disse vou por aí até São Paulo, talvez até o Rio de Janeiro. “É muito longe este tal de São Paulo e Rio de Janeiro?” Sim, respondi, é bastante longe. “E quantas cobras pretas a senhora vai ter que pegar até chegar lá?” Muitas, meu anjo, e parti porque não tinha mais respostas e saí dizendo até a volta, meu anjo. E ela respondeu “Até a volta, tia”. Depois de um tempo voltei e tive que ir ao supermercado, e havia uma ponte. Vi umas crianças aglomeradas, gritando e pulando. Eu, por curiosidade, fui ver o que estava acontecendo e lá estava a mesma criança no meio das outras, que ali se encontravam e todas com um pedaço de pau na mão, querendo matar uma cobra. Então eu disse, saiam daí, crianças, a cobra é venenosa e pode picar vocês e irão sentir muita dor. Foi o que me ocorreu dizer para elas naquela hora. Então a mesma criança me disse: ”Não, tia, essa cobra nós já matamos e a senhora não pode mais andar nela, vai ter que encurtar seu passeio, porque é um asfalto a menos para a senhora pegar”. Ironia do destino ou talvez mais uma coisa que aprendi com a sinceridade de uma criança. Ái daquele que nunca foi criança, porque dentro de um adulto sempre vive uma criança, para nos fazer rir e chorar, até mesmo aquela que mata a cobra para diminuir o passeio pela cobra preta.
27/5/2006


Um passeio surpreendente


Numa ocasião fui passear num sítio de um grande amigo meu, era bem no interior. Andando de carro eu via em cada curva uma surpresa: eram árvores frondosas, muitas flores na beira da estrada, e também muitas árvores frutíferas carregadas de frutos, alguns verdes e outros já maduros. Eram pés de laranja, goiaba, pêssego, manga, tangerina, amora, mamão, abacate e muitas outras frutas que nem lembro agora. Elas acompanhavam o trajeto até o sítio. Havia também cascatas na beira do caminho, enfim, cada curva da estrada reservava uma surpresa. Muitos, muitos pássaros cantavam felizes e se alimentavam com essas frutas. Lá estavam também os sagüis, que pulavam nos pés de coco. Era, de fato, uma coisa fantástica. Os jacus faziam seus ninhos na beira do mato, lá estava o graxaim (mão-pelada), o tatu, o gato do mato. Só que todos eram ariscos e a gente quase não os via, embora os soubesse ali. Eles estavam livres, leves e soltos. Meu amigo estava em casa me esperando. Por sinal, sua casa de campo era uma casa muito bonita e prática. Não tinha luxo, porém era muito boa. Havia também muitas lagoas nas quais ele criava peixes. Ali era proibido o banho, porque tinha muitos escombros dentro da água para os peixes poderem se esconder, desovar e criar seus filhotes. E nesse dia, quando ele foi tratar os peixes, viu uma turma de meninos, todos pelados, prontos para pular na água. Qual não foi a surpresa do meu amigo, e também dos moleques, que afinal não esperavam que aparecesse alguém... Então, mais que depressa, perguntaram: “Tio, o que o senhor veio fazer aqui?” Ele, para brincar com os meninos, disse: “Vim dar comida aos jacarés”. Só para vocês terem idéia, eu de carro levei uma hora e meia para chegar lá, os moleques não levaram meia horas até a casa deles, que ficava na mesma distância. Saíram com as roupas nas mãos e só quando chegaram em casa se deram conta de que haviam esquecido de vesti-las. Um falava para o outro – “Imagina se nós tivéssemos entrado naquela água, naquelas lagoas, os jacarés teriam comido a gente”. O que eles não sabiam é que lá não havia jacarés, mas sim peixes, e que o dono do sítio fez aquilo só para dar um susto na turminha. Ainda bem que não tinha piranha, senão até jacaré nadaria de costas.
31/5/2005

O retrato


Um pobre rapaz, que não conhecia a família, vivia sozinho, andava pelas ruas pedindo um pouco de comida e algumas roupas, que alguém sempre dava. Dormia sob os viadutos e pontes a até mesmo em pontos de ônibus. Ele pedia trabalho, mas ninguém acreditava nele por ser um menino de rua. Os anos se passaram e ele cresceu e ficou um moço muito bonito. Ele tinha traços e características de um príncipe, apesar de estar sempre mal vestido e de sapatos rotos. Às vezes até andava descalço. Andou mundo afora, mas a vontade dele era de estudar e trabalhar. Não tinha vícios, não fumava, não bebia, não se deixava enganar pelos traficantes. Enfim, era apenas um menino de rua que não conhecia sua família. Um dia ele lembrou o nome de uma cidade onde provavelmente teria nascido. Mas não tinha certeza. Ele perguntava para as pessoas se conheciam aquela cidade, a que ele deu um nome muito esquisito, dizia chamar-se: “cidades dos ricos”. Ninguém conhecia e ele continuava andando à procura dessa cidade. Andou, andou, já estava então com vinte e três anos. Um dia, chegou numa cidade que ele não conhecia, mas achou muito bonita. Será que foi aqui que eu nasci?
Perguntou então para um garoto: “Como é o nome da cidade?” O garoto respondeu: “Ela se chama Colorado”. Ele agradeceu e pensou consigo, não, não foi aqui que eu nasci. Então o garoto perguntou: “Qual é a cidade que está procurando?” Ele disse que achava chamar-se Cidade dos Ricos, mas não tinha certeza.
“Ah”, respondeu o garoto. “Então não é esta, porque esta sempre se chamou Colorado”. Ele novamente agradeceu e continuou andando. Chegou então a um bar, mas tinha medo de entrar, porque muitas vezes fora escorraçado pelos donos de bares, restaurantes e comércio em geral, já que todos achavam que ele queria roubar, mas ele nunca fez isso. E nesse dia foi justamente o contrário. O dono do bar disse: ”Entra rapaz, vem tomar um café com pão, você deve estar com fome, vens de muito longe?” “Sim”, respondeu ele, “estou com muita fome e venho de muito longe, nem sei a distância ao certo. Estou procurando uma cidade que eu acho que se chama Cidade dos Ricos”. “Não”, respondeu o dono do bar, “Não conheço nenhuma cidade com este nome, ao menos não por estas redondezas. Esta cidade se chama Colorado, mas é uma cidade muito rica, com um povo trabalhador e honesto. E acho que vai ter um lugar para você também aqui!” “Mas como é mesmo o seu nome?”, perguntou o senhor. “Ah, o meu nome é Feliz.” Continuando a apresentação para o dono do bar, repetiu: “Eu sou Feliz e venho de muito longe à procura de minha família, que eu não conheço ninguém, nem pai, nem mãe, enfim ninguém”. O homem olhou para o rapaz e disse: “Você é feliz, andando na rua, enquanto muitos têm tudo e dizem ser infelizes”. “Mas senhor”, respondeu o rapaz, “o meu nome é que é Feliz de Deus, este é meu nome, não sei mais nada”. “Então você vai ali adiante, há um hotel, diga que eu mandei você lá e que vou pagar tua despesa até que consigamos um serviço para poder trabalhar e estudar”. Feliz ficou ainda mais feliz e foi correndo até onde o bom homem o havia mandado. Lá chegando se apresentou e disse que foi seu amigo Joel (o dono do bar) que o mandou ali para ter o que comer e onde dormir. Ele viu um retrato bem grande na parede do hotel e perguntou: “É o senhor?”. “Sim”, respondeu o homem, “sou eu e minha esposa”. O rapaz então disse: ”Vocês são muito bonitos”. “Obrigado”, respondeu o homem. Mas qual não foi a surpresa do hoteleiro, quando viu os documentos do moço, pois ele era seu filho, que ele havia deixado ainda bem pequeno com uma vizinha, porque na época não tinha condições de criá-lo. Essa vizinha deu para outra pessoa, e essa para mais outra e ninguém soube mais de seu paradeiro. E assim ele acabou na rua sozinho e abandonado. O retrato que ele achou tão bonito era dos verdadeiros pais, que daquele dia em diante viveram todos felizes, ele, os pais e mais os três irmãos. Ele então pode estudar e trabalhar. Ele também lembrou que o dono do bar havia dito que aquela era uma cidade muito rica e, pensou ele, não estava muito longe do nome que havia inventado: Cidade dos Ricos, pois é! Colorado vem de colorido, e isto para ele era coisa de rico. Por isso procurava a cidade dos ricos e achou finalmente a Colorado colorida, ou a cidades dos ricos!
3/7/2006


Vim, Vi e Venci


A escada e seus degraus, o nascimento de uma pessoa e uma conquista, depois tentar levar adiante o primeiro ano, o primeiro degrau. Este sem muita novidade, mas vai aprendendo, no segundo ano, o segundo degrau, começa a falar, tropeçar, cair, mas, o mais importante, a aprender a levantar. O terceiro ano, o terceiro degrau, com muita vontade de correr e brincar, e pegar tudo o que vem pela frente. O quarto ano, o quarto degrau, um pouco mais difícil. Com alguma molecagem, um tapinha de vez em quando, mas seguindo em frente para chegar ao quinto degrau, que corresponde ao quinto ano de vida. E tenta algum aprendizado da infância. Chega o sexto ano: é o sexto degrau. Tem que tomar cuidado para não cair, mas sem medo segue em frente. O sétimo ano é o sétimo degrau: começa então a escola, um pouco mais difícil, não impossível. O oitavo ano, oitavo degrau vai se tornando sempre mais difícil, porém ao mesmo tempo muito bom. Vai então se preparando para entrar no nono degrau, aos noves anos de vida. Na escola, as notas boas, muitos amiguinhos e bons professores. Quando chega aos dez anos e já subiu dez degraus acha-se dona do mundo, porque a criança acha que sabe tudo e é muito feliz. Vai subindo onze degraus aos onze anos e assim vai subindo, sucessivamente, ano após ano, degrau por degrau. Aos doze anos, doze ótimos degraus. Aos treze anos, treze degraus, um pouco mais difícil, contudo chega aos catorze anos, com catorze degraus cumpridos, sempre com muito cuidado para não cair e ter que recomeçar tudo outra vez. Aos quinze anos, quinze degraus: daqui para a frente, falar dos degraus que subi. Pois bem, aos quinze anos, comecei a temer mais a queda, porque afinal seriam quinze degraus. Passei para os dezesseis anos, dezesseis degraus e me mantinha firme, apesar de tudo, com disposição de continuar. Dezessete anos, dezessete degraus difíceis pra caramba. Mas, lá vou eu firme e com fé para subir mais e mais. Dezoito anos, dezoito degraus. Olhando para trás, pensando em não cair, para não ter que fazer o mesmo caminho outra vez. E lá vou eu, dezenove anos, dezenove degraus escalados gradativamente, para me manter firme e subindo mais um degrau, chegando aos vinte e, apesar de todos os perigos à vista, vou em frente. Cheguei aos vinte e um anos, vinte e um degraus. Com toda a minha força continuei firme, vinte e dois anos, vinte e dois degraus. E, quando menos esperava, veio a primeira queda. Subir tudo de novo não foi fácil, mas também não foi impossível. Segurando-me pelas laterais, fui subindo, com toda a força do meu corpo e de minha alma e do meu coração: consegui! Fui para vinte e três anos, vinte e três degraus, subindo, subindo, subindo para vinte e quatro anos, vinte e quatro degraus. Agora não estava mais sozinha, mas com meu filho, que apesar de estar apenas ainda no seu primeiro degrau, parecia me empurrar para que eu não desistisse ou novamente caísse. Aos vinte e cinco anos, vinte e cinco degraus, subindo, tropeçando embora às vezes, mas sem a fatal queda. Vinte e seis anos, já se passaram vinte e seis degraus, todos escalados, bons ou ruins, subindo sempre, o importante era não cair. Vinte e sete degraus, vinte e sete anos, e lá vou eu com tudo para os vinte e oito degraus, que subia lentamente, mais segura, às vezes com um pouco de medo, mas muita fé em Deus, e eu resistia. Vinte e nove anos, vinte e nove degraus, contente e de bem com a vida. Com vontade de subir, mais e mais, cheguei finalmente aos trinta anos, trinta degraus, sempre agradecendo a Deus por ter chegado lá, me segurando para não cair novamente, vou me agüentando firme e forte. Trinta e um anos, trinta e um degraus. Comecei então a subir trinta e um degraus e cair dois. Mas logo me recompunha, já que minha meta era de chegar afinal ao topo. Trinta e dois degraus escalados, trinta e dois anos de vida e o meu menininho com nove anos, nove degraus, continuava me empurrando e lá íamos nós. Eu, trinta e três anos, trinta e três degraus em frente, aos trinta e quatro e subindo aos trinta e cinco, subindo e tropeçando, tentando me manter sempre firme. Trinta e seis anos, trinta e seis degraus, subindo cada vez mais, sempre com muito medo de cair. O meu menino me ajudando a me manter erguida. Trinta e sete anos, trinta e sete degraus, enfrentando chuvas, trovoadas e ventos fortes, mas indo ambos em frente. Trinta e oito anos, trinta e oito degraus e cada vez com mais vontade de lutar. Trinta e nove anos, trinta e nove degraus, com muita vontade e... vamos que vamos! Quarenta anos, quarenta degraus, uma linda história, sem dúvida nenhuma e continuo seguindo. Quarenta e um anos, quarenta e um degraus, sem me queixar, vou subindo, às vezes sentindo alguma insegurança. Quarenta e dois anos, quarenta e dois degraus e lá vou eu enfrentando o mundo. Por isso digo sempre, muito obrigada meu Deus. Quarenta e três anos, quarenta e três degraus e vamos para os quarenta e quatro anos, quarenta e quatro degraus, sempre em frente: se parar o bicho come! Quarenta e cinco anos, quarenta e cinco degraus para a frente e para o alto. Quarenta e seis anos, quarenta e seis degraus, quase caí, mas meu filho me amparou. Quarenta e sete anos, quarenta e sete degraus, quase caí de novo, mas consegui me segurar. E lá vou eu para quarenta e oito anos, quarenta e oito degraus: até parece mentira que estou conseguindo, mas vamos que vamos. Quarenta e nove anos, quarenta e nove degraus, será que não pulei nenhum? Acho que não e vou em frente. Cinqüenta anos, cinqüenta degraus. Meio século, que coisa boa! É um privilégio chegar aos cinqüenta e com razoável saúde, vou em frente! Cinqüenta e um anos, cinqüenta e um degraus: já estou na casa dos sessenta com muita força de vontade, e cheguei aos cinqüenta e dois anos, cinqüenta e dois degraus, sempre em frente, agora sem medo. Cinqüenta e três anos, cinqüenta e três degraus e lá vou eu sempre pensando grande, embora às vezes tentem me derrubar, eu sigo firme para os cinqüenta e quatro anos, cinqüenta e quatro degraus com uma vida normal, com altos e baixos. Devo chegar aos cinqüenta e cinco anos, cinqüenta e cinco degraus. Que maravilha, os números estão ficando cada vez mais bonitos e chego aos cinqüenta e seis anos, cinqüenta e seis degraus. Embora os anos comecem a pesar, não me impedem de subir sempre mais um degrau. Cinqüenta e sete anos, cinqüenta e sete degraus, vou subindo enquanto Deus o permitir. Cinqüenta e oito anos, cinqüenta e oito degraus, subindo mais devagar, mas subindo. Cinqüenta e nove anos, cinqüenta e nove degraus, já estou arranhando os sessenta. Já cheguei aos sessenta anos, sessenta degraus. E lá vou eu subindo, controladamente, passo a passo e parece até que os degraus estão ficando cada vez mais distantes um do outro, ou serão minhas pernas que estão encurtando. Sessenta e um anos, sessenta e um degraus: a essa altura a palavra sessenta significa sentar, quando estamos cansados. Mas eu não podia parar e tinha que subir até o final da escada. Sessenta e dois anos, sessenta e dois degraus, segurando-me ao parapeito da escada e lá vou eu ao encontro dos sessenta e três anos e, portanto, sessenta e três degraus. Vamos embora, sem olhar para trás, tentando seguir em frente. Sessenta e quatro anos, sessenta e quatro degraus, agora já parece que o tempo anda mais depressa. Os dias passam voando. Sessenta e seis anos, sessenta e seis degraus e graças a Deus estou indo bem longe e quero ir ainda mais além. Sessenta e sete anos, sessenta e sete degraus. As forças já não são mais as mesmas, mas com coragem enfrento tudo o que vier pela minha frente. Sessenta e oito anos, sessenta e oito degraus e continuo andando, apesar do peso dos anos vou em frente. Sessenta e nove anos, sessenta e nove degraus, seguindo cansada, um pouco doente, com muita força de vontade. Setenta anos, setenta degraus: a cada dia que passa a força física é menor, mas a força do espírito não reduziu e vou em frente. Setenta e um anos, setenta e um degraus. É degrau que não acaba mais e sigo com muita coragem. Setenta e dois anos, setenta e dois degraus. Como não tenho estudo para escrever coisas bonitas, digo então que estou feliz por estar viva, e basta! Setenta e três anos, setenta e três degraus, com muitas perdas de entes queridos no decorrer de todos estes anos, chego aos setenta e três degraus, com a saúde um pouco abalada e mais fraca, com uma cabeça muito boa e lá vou eu em frente, ao encontro dos setenta e quatro anos, para poder dizer que escalei setenta e quatro degraus. Estamos em vinte e três de julho de dois mil e seis e, se Deus quiser, no dia vinte e quatro de setembro de dois mil e seis farei então setenta e quatro anos. Eu poderia escrever muito mais, mas estou feliz pelo que já escrevi. Vou hastear a bandeira quando chegar ao topo dos setenta e quatro degraus e direi: Vim, Vi e Venci! Agradeço a Deus por ter me protegido até aqui e agradecerei pelo que ele ainda vai me proporcionar, deixando-me viver. Assim continuarei escrevendo.
23/9/2006


A vida como ela é


Pela manhã vou para a janela e vejo o tropeiro que passa alegre cantando para a boiada. E lá vai ele longe. Olho em volta e vejo o lenhador preparando seu machado, seguindo para a roça, corta a lenha para alimentar o fogo, para fazer sua comida. Vejo os espinheiros todos cobertos de flores brancas e fico admirada como é bela a natureza. E, lá adiante, vejo uma mulher de tamancos, descendo um barranco, distribuindo milho para as galinhas. Outro roceiro afiava sua enxada para carpir o campo e, depois, plantar e semear. É dali que tira seu sustento. Senti um cheiro, cheguei mais perto: estava saindo um cafezinho. Era feito todo manual, inclusive descascado no pilão. A vovó foi para o rancho onde estavam as vacas, e, com o balde na mão e um avental amarrado pela cintura, lá ia ela tirar o leite. Trazia para misturar com o café, quando não era tomado puro. Das sobras do leite fazia-se o queijo. Saí da janela e fui ter com eles, saber o que eu poderia fazer para ser-lhes útil. Só olhando pela janela não poderia ajudar ninguém: mero espectador! A vovó me disse: tudo o que fizeres tem sua utilidade e lava a alma de qualquer um! Ela também me disse: não dê nunca aos teus amigos os conselhos mais agradáveis, dê a eles sempre os mais úteis. Todo o verbo que eu sabia, veio com o vento e o vento levou. Só o amor que eu tinha na memória ficou!
2/8/2006


História de minha vida


A história de minha vida é bem comprida, pois estou com setenta e três anos de idade. Já não sou mais uma moleca levada da breca, já sou alguém! Lembro com muita saudade o tempo de criança, quando todos os domingos os pais nos levavam para a missa, de carroça, e se chovesse tínhamos que ir de guarda-chuva. Para chegar a igreja havia uma ponte sobre o Rio dos Cedros que, aliás, existe até hoje, só que ampliada. Pois bem, tínhamos que atravessar essa ponte e um de nossos cavalos era meio xucro, e cada vez que entrava na ponte empinava e se encostava no outro, e eu tremia de medo. Eu disse cavalos, mas na realidade eram duas éguas. A mais arisca se chamava “Rosilha”, pela sua pelagem meio clara, e a outra era bem preta e se chamava “Mora”. Meus pais tiveram muitos anos esses animais e, quando vieram morar na Barra do Rio Cerro, meu pai vendeu as éguas para o senhor Günther, que morava no Rio da Luz. Como já disse no começo, tenho setenta e três anos, e posso dizer que graças a Deus não tive até agora nem uma doença que me colocasse no hospital. Fiquei doente sim, daí ia ao médico que, é o médico da minha família, e com uma consulta do Dr. Luiz Bonilauri e a medicação passada por ele, sempre me recuperei rapidamente. O Dr. Luiz cuidou do meu marido até a morte, tanto eu quanto minha família confiamos muito nele. Quando meu marido sentia alguma dor já pedia para chamar o Dr. Luiz, isto quando ele não podia mais ir até o consultório. Nós sabíamos que o caso dele era irreversível, então por qualquer coisa tínhamos que chamar o Dr. Luiz. E ele sempre vinha prontamente até a nossa casa e cuidava do Theobaldo. O Dr. Luiz era e ainda é o nosso Anjo da Guarda. Voltando ao meu tempo de criança, eu lembro que sempre usei chapéu, não era de palha, era de pano, que minha mãe mesma costurava. Só eu usava esse tipo de chapéu. Minhas irmãs riam de mim e até me apelidaram de scaburi, mas eu nunca soube o significado da palavra. Depois que viemos morar em Jaraguá do Sul eu descobri que tinha uma família Scaburi, mas mesmo assim eu não sei porque me deram esse apelido. Eu e meu chapéu íamos ao pasto, onde os quero-quero faziam seus ninhos no chão, no meio do gado, mas mesmo assim eles tinham seus ninhos e criavam seus filhotes, e eram muitos. Só que quando a fêmea chocava, o macho ficava muito bravo, e eu gostava de mexer com eles e várias vezes o quero-quero chegou a carregar o meu chapéu, enquanto dava rasantes por cima de minha cabeça. Eu só escutava o estalo que fazia com o bico e lá ia o meu chapéu, voava um pouco e deixava cair. Eu corria até lá, pegava o chapéu e ia para casa. Quando meu pai me via inticar as aves, ele dizia: “Tomara que da próxima vez te dêem uma bicada na cabeça. Pra você aprender a não mexer com eles”. Mas era tempo perdido, porque no outro dia lá estava eu brincando com os quero-queros. Nessa época de mil novecentos e quarenta, não existiam grampos para prender a roupa no varal, era o arame farpado e as próprias farpas que seguravam a roupa, para que o vento não as derrubasse no chão. Quando vinha uma trovoada era um Deus nos acuda, porque a roupa tinha que ser recolhida às pressas e o arame farpado segurava a roupa e então nós, crianças, puxávamos de tal forma que chegávamos mesmo a rasgar a roupa nas farpas do arame. Experiência de vida tenho muita, mas meu passado foi, posso dizer, “Ótimo”. Lembro das frutas que eu colhia diretamente dos pés, eram laranjas, tangerinas, goiabas, pêssegos (essas todas nós tínhamos no quintal de casa). Havia também o caqui. Mas nós íamos para o mato apanhar ingá, bago de macaco, cambucá, bacabari, jabuticaba, maracujá e tinha também, além do mamão comum, o maracujá do mato, que era uma fruta bem menor e só podia se comer descascando dentro da água, se não ela “mordia” a língua, mas as frutas silvestres eram muito gostosas. Lembro do pão de milho que minha mãe fazia e nós comíamos com banha de porco, ou requeijão com nata e cebolinha verde. Mamãe preparava o lanche para mim, para a Catarina e a Olinda levarmos para a escola. Na hora do recreio ele era devorado com apetite de leão. Olinda e Catarina são gêmeas, hoje ambas são casadas e há um detalhe: a Catarina teve cinco meninas e a Olinda cinco meninos. Minha irmã Clara também tem cinco filhos, só que duas são moças e três são rapazes. A outra irmã, a Ana, tem 10 filhos, passou a perna em todas nós, e teve quatro filhas e seis filhos. Eu casei com o Theobaldo Hagedorn e tenho meu filho Loreno, que criamos juntos.
Em 1º/3/1981 findou-se a breve passagem de vida do meu sogro, Gustav August Ferdinand Hagedorn. Ele nasceu em Joinville no dia 30 de maio de 1895. Casou com Johana Wilhelmine Louise Hoepfner no dia 28 de abril de 1923. Trabalhando na firma Wetzel, fábrica de sabão, estava bem empregado, mas queria mais. Trabalhou como ferroviário, quando foi feita a estrada de ferro de Santa Catarina. Depois de dois anos de casado, resolveu vender a propriedade que tinha em Joinville e veio morar em Jaraguá do Sul. Comprou uma propriedade na atual rua Venâncio da Silva Porto. Então tiveram o primeiro filho, que nasceu no dia 2 de abril de 1926 e que se chamou Theobaldo. No dia 10 de setembro de 1928 nasceu o Harry, segundo filho e no dia 9 de março de 1941 nasceu a única filha, Ondina. Gustavo começou a trabalhar de servente de pedreiro com o cunhado Max Hoepfner, depois foi agricultor, desbravou a rua Venâncio da Silva Porto quase sozinho, porque a Prefeitura não tinha condições financeiras. O meu sogro contratou alguns peões e botou a carroça dele com os cavalos para puxar o barro e removê-lo para outro local, até que desse para colocar o macadame e pudesse transitar por ela. Grau de estudo, quarto ano primário, mas com a cabeça de um sábio. Mais tarde abriu uma firma, fábrica de móveis, razão social: Lessmann Limitada. Deixando essa sociedade, começou nova indústria no mesmo ramo, em sua propriedade na rua Venâncio da Silva Porto, chamada Riedtmann e Hagedorn. Vendo-se prejudicado, após perder tudo, saiu da sociedade, inclusive deixando o imóvel para o sócio, já que este lhe havia passado a perna. Voltou para a agricultura, onde lidou com gado. Vendia leite, manteiga e requeijão, até o fim da vida. Faleceu no dia 31 de janeiro de 1979, com a avançada idade de 84 anos e oito meses. Em vida doou um terreno para a Prefeitura, situado à rua Lourenço Kanzler, e ali foi construído o Grupo Escolar Albano Kanzler, que eu não sei porque não se chama Gustavo Hagedorn, já que ele doou o terreno. Mas como no Brasil só político tem vez e voz, o cidadão só paga, e o político só recebe. Gustavo Hagedorn, homem honrado e cumpridor de seus deveres e obrigações. Aos 65 anos conseguiu aposentadoria pelo FUNRURAL, um salário de fome, só que ele nunca passou fome, nunca teve medo de enfrentar o trabalho e com ele conseguiu levar o suficiente para a mesa e alimentou com muita dignidade sua família.
Envelhecer não é um problema, é uma conquista!
6/11/2005


Jaraguá do Sul, encanto de minha vida

Eu conheci Jaraguá do Sul aos catorze anos. Foi quando meus pais fizeram a escritura da terra que haviam comprado em Alto Garibaldi. E aos dezessete anos vim trabalhar no centro de Jaraguá, na rua Marechal Deodoro da Fonseca, que ainda era uma estrada de barro, aliás, toda a cidade tinha as ruas sem calçamento ou asfalto. Era tudo estrada de terra. Eu lembro quando calçaram a Marechal Deodoro, a avenida Getúlio Vargas, a Procópio Gomes, a Epitácio Pessoa, a Esthéria Lenzi, a Gumercindo da Silva. Elas foram as primeiras a serem calçadas, seguidas de muitas outras, e enfim toda a cidade. Tinha alguns hotéis, como o Novo Hotel, Hotel Central, Rex Hotel, Hotel Jaraguá, Hotel Brasil e Hotel Cruzeiro. Também algumas lanchonetes e o tradicional Bar Harnack, onde faziam o melhor sorvete da época. Algumas fábricas, como a Chapéus Marcatto e a Capri, que também faziam bolsas. Aliás, a Capri mais tarde virou a Marisol. Tinha uma loja de peças para automóveis, do Heinz Beier. Um posto de gasolina que se chamava Marechal, dos senhores Maiochi e Barg. Eles também eram donos da Transportadora Andorinha, frota de ônibus que fazia a linha de Jaraguá, Pomerode, Timbó, Indaial, Blumenau e Rio do Sul, e mais tarde também Joinville. Tinha a Caixa Econômica Federal na Marechal Deodoro, ao lado da Casa Fruet, de propriedade do senhor Ari Carolino Fruet e de sua esposa Tecla Bauer Fruet. Era uma loja de fazendas, onde se encontravam ainda algumas peças de roupas confeccionadas, só que muito raramente. A gente comprava o tecido em metro e, com ajuda de uma costureira, fazia-se a roupa para vestir. Tinha também a Casa Mattar, de propriedade da senhora Georgetta Mattar e seu esposo, senhor Seme Mattar. Ficava ali na Marechal, esquina com a Domingos da Nova. Foi ali que comprei o primeiro tecido para fazer um vestido, quem costurou foi a Edith Güths. O primeiro piloto de avião da cidade foi o filho do senhor João Piccolli, que hoje tem uma rua com seu nome, no centro da cidade, exatamente onde o senhor João morava com a família. Era vizinho do hotel onde eu trabalhava. Quando o filho do senhor João tirou o brevê de piloto, fez um vôo muito baixo sobre a casa de seus pais. Para mim foi o maior espetáculo da Terra (ou do ar), ver um avião tão de perto, pela primeira vez, justamente nas imediações de onde eu trabalhava. Para mim foi maravilhoso, aos dezessete anos eu não conhecia nada da vida, só sabia que tinha que trabalhar e obedecer ordens. A juventude, naquela época, tinha por hábito ir até a Estação Ferroviária aos domingos à tarde, ver o trem chegar, ver o embarque e desembarque dos passageiros. Era uma distração para os jovens. Hoje não tem mais trem de passageiros, nem a Litorina, que tinha a forma de um ônibus mas andava nos trilhos. Também levava passageiros, mas era mais cara do que o trem, por isso era considerada transporte de rico. O trem de carga ainda existe e passa bem em frente da minha casa, muitas vezes ao dia e à noite. Vem com duas ou três locomotivas (já não é mais a carvão ou lenha) a diesel, e puxa de 50 a 150 vagões por vez.
Numa sexta-feira, dia 2 de junho de 1972, houve a primeira aterrissagem de um helicóptero em Jaraguá do Sul, às 5h30 da tarde, na avenida Getúlio Vargas, onde hoje se encontra o comércio Milium.

Meu sogro teve três filhos, o Theobaldo, o Harry e a Ondina. Quando a Ondina precisa de ajuda, sou eu que vou ajudá-la. Pois bem, tenho aqui uma passagem que escrevi quando estava cuidando da Ondina no Hospital Jaraguá, já que a mesma havia passado por uma cirurgia. Foi no dia 24 de junho de 1996, em pleno dia de São João.

Aqui estou eu de acompanhante da Ondina Hagedorn Behling, minha cunhada. Eu já conhecia este hospital, porque foi aqui que nasceu meu filho Loreno, aos 29 de outubro de 1954 (portanto, há 41 anos e sete meses). Estou sozinha no quarto esperando que tragam a paciente, que se encontra em recuperação. Estou lembrando de coisas tão boas que me deu vontade de escrever. Estou, portanto, conversando com Deus, sabe? Lembro de meus pais, meus irmãos, minhas irmãs, que amo muito, meu filho, que é um pedacinho de mim e que amo de paixão. Penso em meu marido porque está adoentado e faz tratamento, mas com poucos bons resultados. Ouço os passarinhos cantarem felizes da vida, nem sabem eles que ali adiante um estilingue pode acabar com a alegria deles. É um entra e sai a toda hora do hospital. Doentes que se internam, outros de alta que estão saindo. Eu fico observando tudo da janela do quarto, que fica no primeiro andar, número dois. Os telefones tocam a toda hora, enfermeiras correndo alegres pelos corredores, cumprindo seu dever, que é cuidar dos doentes.
Se eu pudesse gritar ao mundo agora eu diria: ”parem tudo já!” É manhã de um novo dia. Começaria tudo de novo, sem ódio, sem inveja, sem luxúria, sem doenças, sem guerras, sem drogas, que todo mundo tivesse a oportunidade de trabalhar para ter comida, moradia, escola, saúde, e que todos pudessem viver com dignidade. Que ninguém matasse os animais e muito menos o próximo. Que o mundo fosse uma grande família, sem dizer que esse ou aquele é estrangeiro, que o mundo inteiro fosse uma só nação. Que todos acreditassem em Deus, que ninguém quisesse ser mais que ninguém. “Arra! Como isso seria bom!” Que não existissem ricos ou pobres, todos tivessem partes iguais em tudo. Como seria bom andar pelas ruas sem medo de ser assaltado ou medo de que assaltem sua casa, como seria bom. Passou tudo isso pela minha cabeça, mas isso só seria possível se todos acreditassem num só Deus, não existissem tantas disputas entre religiões, muitas vezes apenas pelo dinheiro. É um querendo saber mais que o outro, esquecendo que só existe um Deus e este ninguém compra e ninguém tem o direito de vender. Pense nisso!
31/12/2005


Volto a ser criança


Volto a lembrar do tempo de criança, tempo em que as crianças eram realmente crianças e que acreditavam no Menino Jesus e não no Papai Noel. Tempo em que pediam a bênção aos pais, quando iam dormir. Tempo em que sabiam dizer “bom dia”, quando passavam por alguém. Faziam suas orações regularmente, sempre agradecendo a Deus por terem saúde, casa, comida e roupas para vestir. Lembro de minha casa, de meus pais, de meus irmãos e irmãs. Éramos gente humilde, mas muito felizes. Era tudo simples, mas muito bom. Era tudo tão perfeito que não me lembro de meus pais brigando entre si, ou falando mal dos vizinhos, ou reclamando da vida. Era tudo tão simples que a gente se entendia com um simples olhar! Minha irmã Clara já era casada e morava ao lado de nossa casa. Já tinha uma menina, a Dirce Maria. Ela era o dengo da casa, tanto que passava mais tempo em nossa casa do que na casa de sua mãe. Ela era muito querida, só que tinha um problema: engasgava-se facilmente, até mesmo com um pedaço de pão. Lembro-me que cuidava dela, para que minha irmã pudesse trabalhar na roça. E ela plantava aipim, batata doce, milho, arroz para ajudar no sustento de sua família, enquanto meu cunhado Arthur Taffner fazia sapatos, era sapateiro, e trabalhava com o irmão Ermínio, que tinha uma pequena sapataria perto de nossa casa. Um certo dia a Dirce engasgou-se com uma casca de amendoim. Ela era pequena e tudo o que encontrava pela frente botava direto na boca. Por isso eu tinha que cuidar muito bem dela. Mas quando eu a vi colocando algo na boca já era tarde demais. Ela começou a passar mal, eu gritei tanto que consegui reunir os vizinhos para me acudir e salvá-la, não sei como, porque o susto foi tão grande que eu não sei o que fizeram para tirar a casca de amendoim de sua garganta. Quando minha irmã chegou, já estavam lá minha mãe e outra de minhas irmãs, a Olímpia, que era igualmente casada e também era nossa vizinha. A Clara, mãe da Dirce, falou: “Ô, a ‘Môka’ engasgou de novo”. Môka era o nome de uma vaca que meus pais tinham e que também se engasgava com muita facilidade, daí que o apelido da Dirce era Môka.
Quando eu era criança tinha muito medo do gado, gostava dos cavalos porque eram mansos. Mas do gado tinha muito medo, especialmente das aspas, ou chifres, como queiram. Uma vaca se chamava “Jubúia” e ela chifrava os cavalos. Eu não gostava dela por isso. Outra se chamava “Brazina”, outra “Lóra”, e havia também a Môka. É dessas que me lembro. Os touros eram reprodutores e por isso eram muito bravos. Nós dizíamos em italiano: Ei tóri i é cativi. E minha mãe repetia em alemão: Der boller ist boese, past auf. Nós, as crianças, íamos para o pasto catar frutas e quando o touro corria atrás de nós, subíamos numa árvore, que chamávamos de salvadora, e lá ficávamos até que papai viesse com os cachorros enxotar o touro, para que pudéssemos voltar para casa. Um cachorro chamava-se “Levanta” e o outro era o “Néni”. Isto tudo aconteceu de 1933, 38, 39.
Na época não existiam instalações sanitárias como hoje. Ao menos não lá, onde morávamos. E por isso, quando precisávamos ir ao banheiro, que não existia, era na rua, nos fundos do quintal, onde havia umas plantas que nós chamávamos de Campanelle, porque as flores pareciam um sino. O nome Campana é sino. E como a flor se parece com um sininho, daí o nome Campanella. E, como havia várias, Campanelle. À noite, quando precisa ir ao banheiro, a mãe ia comigo, porque eu tinha medo de ir sozinha. Enquanto eu fazia minhas necessidades, mamãe sentava sobre um tronco de madeira e, como fosse noite de lua cheia, ela olhava para o céu e dizia: “Olha, filha, lá é o Cruzeiro do Sul, e mais adiante a ‘choca com os pintinhos’”. Enfim, para todas as estrelas ela achava um nome apropriado e isso era maravilhoso. Eu até me esquecia de que estava ali cagando, e então mamãe dizia: “Vamos, que você já deve estar com a bunda gelada!”
Mas muito marcante mesmo era quando vinha o Vovô José e a Vovó Clara, pais de minha mãe. Eles sempre traziam alguma coisa, nem que fosse uma muda de flor. Uma ocasião eles trouxeram um casal de garnisés e eu comecei a cuidar delas como se fosse uma coisa do outro mundo. Passou um tempo e a galinha procurou lugar para fazer seu ninho e pôr ovos, e foi logo escolher o sótão do rancho, onde estavam os caixotes e montes de entulhos. Lá ela foi botar seus ovos. Descobri e lá fui eu, pois queria ver os ovinhos, que seriam bem menores do que os das galinhas comuns. Mas para subir até lá tinha que cuidar muito, pois o assoalho era colocado sem ser pregado, e por isso podia cair. Não deu outra, subi com dificuldade e desci a toda, despenquei e caí sobre a carroça e acabei quebrando o nariz. Meu irmão Ferdinando correu em meu socorro, ele já havia me alertado do perigo. E quando viu que eu estava com o nariz quebrado, ele disse, rindo de mim: “Vai lá agora, vai, vai cheirar os ovos, com o nariz quebrado!” Eu estava com uma dor terrível, mas dali a pouco tudo passou. Meu nariz ficou um pouco torto, mas eu continuei aprontando.
Eu tive uma infância feliz, porque as coisas aconteciam, mas ninguém ficava brigando. Aconteciam, passavam e ficava tudo bem de novo. Por isso, agradeço a Deus, todos os dias, por me ter dado essa família maravilhosa.
23/8/2006


A máquina


Era uma manhã fria, um inverno meio fora de época, uma chuva fina caía que mais parecia orvalho, e era muito frio. Olhei pela janela do meu quarto e vi as pessoas irem para o trabalho, a luta do dia-a-dia. De repente o tempo fechou e a chuva engrossou. Eu continuei na janela olhando para a rua. Uma coisa me dizia: vai cuidar da tua vida, toma tua reta, vai à luta e, de repente vi uma coisa estranha, parecia uma máquina ou coisa parecida, que eu não soube decifrar. Olhei para o céu e vi outra coisa estranha, o que será que está acontecendo comigo? E pensei: vou voltar para a cama e vou dormir mais um pouco. Eu continuava vendo máquinas. A chuva fazia barulho no telhado, os passarinhos faziam festa, aproveitavam para tomar banho, mas aquela máquina me incomodava. Fechava os olhos e via, abria os olhos e lá estava ela, a máquina. Pensei: estou ficando louca. Acordei de um sonho onde só via máquinas, mas isto tem uma explicação. Fazia pouco tempo que meu marido havia falecido. Ele era marceneiro e tinhas muitas máquinas na pequena fábrica de móveis, instalada atrás de casa. Eu pensava muito nas máquinas que meu marido cuidava com muito zelo. Ele sempre dizia que de longe identificava quando uma máquina trabalhava com as facas por afiar, então ele dizia: “A máquina não está cepilhando, ela está capinando”. E eu sonhei a noite toda com a máquina que não tinha as facas afiadas, fazendo assim um barulho muito estranho. Levantei e fui para a fábrica ver as máquinas, que lá estavam esperando que o dono viesse ligá-las para trabalhar com as facas afiadas. Mas isto não acontecia há mais de um ano. Esta foi a minha história da máquina!
9/5/2005


Dia inesquecível: 20 de agosto de 2000


Eu estava lá no Hospital Jaraguá, como acompanhante da Ondina Hagedorn, minha cunhada, que ali se encontrava internada. No outro dia eu soube que meu cunhado, Arthur Tafner, havia falecido com a idade de 82 anos, onze meses e dezessete dias. Era casado com minha irmã Clara e tiveram cinco filhos: a Dirce, a Zenilda, o Heitor, o Osnir e o Luciano. Todos casados. Ele deixou treze netos e dois bisnetos. Quando a gente perde um ente querido acha que tudo acabou. Mas não é verdade. A vida de quem fica continua, o vento continua a soprar e vem o sol nos esquentar, a chuva vem para nos molhar. Enfim, tudo continua o mesmo.
Às vezes fico pensando nas grandes cidades e imagino mil coisas, crianças que passam fome e frio, mas não pediram para nascer. Os pais “se viram” do jeito que podem e os políticos safados só pensam em roubar. Isto já é tão corriqueiro que nem vale a pena comentar. Eles já são tão sem-vergonhas que nem ligam mais para nada.
Se alguém perguntar o que eu acho do nosso Brasil, eu gritaria bem alto: “Socorro, o Brasil está sendo assaltado!” e, o que é pior, por aqueles que deveriam tomar conta dele. A nossa bandeira é a mais linda de todas. Mas são feitos chapéus, bonés, camisas, bolsas e mais uma infinidade de coisas com as cores de nossa bandeira, que deveriam ser só dela, é o que eu acho.
Falando da bandeira, tem uma linda poesia que eu recitava todos os sábados na minha escola. Ali era hasteada a bandeira, cantávamos o Hino Nacional e o Hino à Bandeira. Depois eram recitadas, pelos alunos, poesias muito bonitas, que as crianças hoje já nem conhecem mais.
Vou deixar os versos da poesia que eu recitava para a nossa linda bandeira:

Bandeira, linda bandeira
Que na terra brasileira
É a imagem tão gentil
No manto de tuas cores
Refletem-se os esplendores
Do nosso imenso país.

O verde de nossas matas
Que no teu fundo retratas
É também a esperança
O teu losango de ouro
É todo o nosso tesouro
Do nosso solo a bonança.

A Via Láctea que desce
Cortando o céu em quermesse
É uma nebulosa imensa
Essa grande esfera azul
Indo ao Cruzeiro do Sul
Simboliza a nossa crença.

As estrelas fulgurantes
Com esplêndidos diamantes
Uma é a confederação
As demais são os emblemas
Dessa estância suprema
Dos Estados da União.

Quero ainda acrescentar que meu lar é um templo que Deus abençoou, e por isso e muito mais agradeço a Deus todos os dias. Não derrota que derrote quem nasceu para vencer. Seja você o primeiro a aceitar as diferenças, que é por aí que começamos a acabar com a guerra.
20/8/2000

O alto da serra


Era uma manhã muito bonita, cheia de sol e um vento brando soprava acariciando toda a vegetação. Nessa época eu estava na casa de minha irmã, ajudando, já que ela era casada e tinha duas meninas pequenas. Meus pais moravam no Alto Garibaldi e minha irmã morava no Rio dos Cedros, com o marido e com os filhos. E foi só ela pedir para meus pais me deixarem voltar lá, para ajudá-la no serviço, principalmente a cuidar das crianças. Meu cunhado era sapateiro e trabalhava fora o dia todo, então eu fui ficar com eles. Eu estava muito dividida. Não queria me separar de meus pais e do meu lar. Mas também não queria deixar minha irmã, pois eu sentia muita saudade dela e das crianças. E foi aí que o bicho pegou. Eu disse para minha irmã que queria voltar para casa. Eu estava morrendo de saudades de meus pais e das outras irmãs que ainda estavam em casa. Comecei a chorar, porque estava muito dividida. Eu não sabia o que fazer. Não tiveram outro jeito a não ser me deixar voltar pra casa. Eu pequei minha trouxinha de roupas e me mandei a pé. Enfrentei 40 quilômetros para chegar na casa de meus pais, isto porque saí cedo, pela manhã, e cheguei em casa ao entardecer. De vez em quando eu parava nas casas para pedir água. Eu tinha levado pão para a viagem, não conhecia nenhum perigo (aliás, na época não era tão perigoso quanto hoje). A estrada era toda de barro. Eu tinha treze para quatorze anos e o caminho que eu percorri era quase todo ladeado de mato. Havia poucas casas. E, quando fui chegando perto da divisa de Rio dos Cedros com Alto Garibaldi, ou melhor, Jaraguá do Sul (já que Garibaldi era o interior de Jaraguá), eu cheguei a ver bichos selvagens cruzando o caminho: era gambá, tatu, graxaim (chamado também de cachorro-do-mato)... Também vi muitos pássaros, até dos jacus se podia ouvir o canto. Eu me distraía com aquilo tudo e nem percebia que ali poderia haver algum perigo. Quando cheguei no Alto da Serra, passei por uma casa (a única da região) e fui embora. De repente, vi um bando de gente acampada num pasto. Olhei e me assustei, pois eram ciganos. Eles andavam como nômades e tinham só carroças e cavalos, isso quando tinham. Senão iam à pé. Eu voltei correndo e tremendo de medo até aquela casa pela qual havia passado há pouco. Ali morava o casal Fortunato e Fortunata Spézia com a família e, por incrível que pareça, os nomes do casal eram iguais, só mudando o “o” por “a”. Eu fui pedir para que alguém me acompanhasse até passar pelos ciganos. Eu sabia que eles eram gente rude, que costumavam roubar nas casas para sobreviver. Eu já conhecia, quando eu era criança e estava em casa com minhas irmãs, elas cuidavam de mim. Daí chegaram os ciganos e roubaram a roupa do varal lá de casa. Minhas irmãs entraram em casa e fecharam tudo com medo dos ciganos. Foi então que eles aproveitaram e roubaram as roupas do varal, principalmente do meu irmão Cirilo. Quando elas viram que haviam roubado as roupas, minha irmã Olinda começou a gritar: “Deixa a roupa, maledeto”. Mas não adiantou nada. Ela então pegou uma carona na carroça de um conhecido e foi atrás dos ciganos. E ele a ajudou a recuperar as roupas. Ao alcançarem os ciganos, eles entregaram as roupas sem dizer nada. É por isso eu tinha medo de passar sozinha no acampamento deles. Então, muito gentilmente, a dona Fortunata foi comigo até a divisa e ali me despedi dela, agradeci e comecei a correr e não parei mais. Desci toda a Serra correndo, até chegar em casa, quase sem fôlego de cansaço e medo. Meu pai quase morreu de susto, quando me viu e perguntou: ”Você veio sozinha e a pé?” Eu disse que sim, a saudade era tanta que eu não respeitei nada e ali estava eu cansada, trêmula e ainda com muito medo. Mas feliz por estar com meus pais e minhas irmãs.
Hoje eu faço este mesmo caminho de carro, em menos de uma hora, sabendo que boa parte do trajeto já tem asfalto e naquela época, como eu disse antes, era tudo estrada de terra, com muita areia solta e pedras. Se isto é felicidade eu era feliz. Só que mais tarde descobri que a felicidade que sorriu pra mim era banguela.
21/5/2006


A volta


Enquanto eu desfazia as malas, meu marido descarregava o resto que havia no carro, para limpá-lo depois. Numa mala estavam as roupas sujas, noutra as limpas. Mas todas tinham que ser lavadas, pois a própria viagem as deixava cheias de pó. Depois de tudo arrumado, olhei no fundo da mala e lá estavam alguns cartões que havíamos recebido dos gerentes de hotéis em que pernoitamos. Comecei a ler e havia o nome do hotel e da cidade. Como o passeio fora no Paraná, as cidades tinham nomes esquisitos como Cascavel, Pato Branco... Lembrei que, quando chegamos a Pato Branco, havia um pórtico na entrada da cidade, com um poste bem alto e, lá em cima, sentadinho, estava um enorme pato branco de cimento, muito bonito. O hotel onde pousamos no dia 5 de fevereiro de 1995 chamava-se Hotel Província Flex, da Rede Província de Hotéis, ficamos no 2º andar, apto. 116. Eu perguntei ao gerente porque a cidade se chamava Pato Branco. Ele me explicou que, na época em que foi desmembrado o município, existiam muitos patos selvagens e eram todos brancos. Daí o nome Pato Branco! Ele nos contou que há alguns meses o pato branco amanheceu pintado de preto, alguém o havia pintado. Foi um trabalhão limpar o pato e pintá-lo novamente de branco. Em resumo, viajamos bastante, conheci muitos estados brasileiros e muitas cidades com nomes estranhos, como essa, de Pato Branco, que afinal tinha virado preto do dia para a noite.
27/6/2006

Família, a base de tudo


De repente batem à porta de minha casa, eu abro e quem vejo? Minha irmã Clara, e de pronto eu digo entra, por favor. Ela então pergunta, come stai? io anca sono engamba, vago bene gracia a Dio. Batemos longos papos, eram oito horas da manhã quando ela chegou, almoçamos juntas. Tomamos café da tarde sempre papeando. Lembramos dos tempos de criança, das brincadeiras, mas também lembramos das obrigações que tínhamos, pois cada qual tinha seu serviço programado e era bom à beça. Falamos de nossos pais, de como tudo era diferente naquela época, desde as roupas até a comida. Era tudo feito em casa, mamãe costurava nossas roupas, fazia o pão que assava no forno à lenha, e toda a comida era natural, plantada sem agrotóxicos. Lembramos dos amigos, parentes e vizinhos com muita saudade.
O Natal era também diferente. Não conhecíamos o Papai Noel, para nós era o Menino Jesus que ia visitar as crianças e trazia presentes, que nós acreditávamos ser ele quem os comprava, não existia aquela loucura de hoje, na qual os pais gastam pequenas fortunas para engordar o comércio. Eu não sei se as crianças de hoje sabem que é o nascimento do Menino Jesus que é festejado, mas todos fazem dessa data um enorme comércio para satisfazer o ego de cada um.
Quando estava quase na hora de minha irmã voltar para sua casa, uma olhou para a outra e dissemos: Que pena, está acabando o nosso dia, que esteve tão bom. Mas nós não havíamos terminado nossa conversa quando o mérito entrou na política, da qual nem eu nem ela entendemos muita coisa. Só que, de comum acordo, achamos que política é uma merda. Só se ouve falar de roubo daqui, roubo dali, malas cheias de dinheiro do povo que paga seus impostos um dia. O cidadão paga, paga, paga e os políticos gastam, gastam, gastam, andam com as cuecas forradas de dinheiro, enquanto os que os elegeram estão com as cuecas cheias de merda.
Peço desculpas se tiver algum político honesto, mas estou indignada com tudo e com todos, fazem pesquisas para saber quem ganharia a eleição se fosse hoje: se eles já estão sabendo quem colocar lá, para que gastar tanto dinheiro em propaganda, coloquem os mesmos bundões lá e pronto. E por favor, padres, médicos, professores, vocês têm outra cultura, saiam da política e deixem os ladrões se digladiando entre si, fiquem vocês cuidando da Igreja, dos doentes e dos estudantes e saiam dessa política suja, que é só para vagabundo e ladrão, na maior parte, e mentirosos.
E assim encerramos o nosso papo, eu e minha irmã. E che si Dio vol podem dire cuando che tuto é passá, gracie a Dio, il Brasile é mia patria amada. Ringracio a Dio tute le sere. Obrigado, meu Deus.
13/6/2006

Eu acredito


Eu ainda acredito na família, nas crianças, nos idosos, nos jovens, nos rios, nos mares, nas plantas, na música, nos artistas e em tudo o que é bom.
Nos animais, nas florestas, nos montes e nos vales. Em todo bom profissional. Acredito em Deus, em mim, no meu filho (que está sempre do meu lado), no Rogério (pela ajuda que sempre me dá). Acredito com muita confiança no Dr. Luiz Bonilauri. No que não acredito é nas promessas dos falsos políticos, eles estão sempre organizando a quadrilha para a Festa de São João. Em tempo de campanha política, vejo os candidatos saírem às ruas fazendo promessas que nem com viagra conseguem cumprir. Abraçam e beijam as crianças dos pobres, que tenho certeza não fariam em outra época, e isto é muito falso e mentiroso e enganador. Então eu pergunto: Como é que alguém tão falso e mentiroso pode governar um país? Nós, brasileiros, não merecemos isso: é, portanto, em muitos de nossos mandantes que eu não acredito. Eu já vi político fazer comício e falar horrores do candidato adversário e, depois do comício, os dois adversários irem juntos, no mesmo bar, tomar cerveja e rir dos coitados que os aplaudiram, na época da extinta UDN e do PSD. Tudo continua do mesmo jeito até hoje, ou ainda pior. Porque, quando é descoberta a falcatrua, ninguém viu, ninguém sabe de nada. Por isso e por muito mais é que eu não acredito nos políticos. Se houver algum bom, ele já vai ser corrompido quando chegar no meio dos outros.
30/6/2006

Amigas para sempre


Elda é teu nome, Baechtold por parte de pai e Corrêa por parte do marido Antônio (in memoriam), ele também foi um grande amigo e conselheiro. Elda, eu lembro com saudades de nossos passeios, nossas viagens, as que fazíamos quando Antônio e Theobaldo ainda eram vivos. Depois Deus nos separou do Antônio e ficamos você, o Theobaldo e eu. Continuamos nossos passeios e viagens na maneira do possível. Como foi bom, você lembra quando vinha à minha casa? Ou quando eu ia a sua? Ficávamos conversando até de madrugada e sempre tínhamos assuntos. Às vezes jogávamos dominó, é o único jogo que eu sei jogar. Bons tempos que já não dá para esquecer, embora um pouco distante e com mais idade temos que limitar nossas visitas, por isso acontecem menos do que o costume, mas meu coração jamais passa um dia sem que eu me lembre de você e sua família.E no dia 18 de abril de 2004 o Theobaldo também nos deixou e foi morar com o Papai do Céu, e agora só nós duas e nossos filhos. E por eu estar sozinha tornou-se um pouco mais difícil me deslocar até sua casa. Lembro sempre da Janice, que tem um sofrimento tão grande com o esposo que está doente, as crianças que também sofrem junto com a mãe. Mas uma coisa me deixou perplexa, quando estive ali na sua casa, foi no dia 7 de maio de 2006 e a pequena Michele me mostrou algo que ela havia escrito com o tema A Família, com apenas nove anos, fiquei impressionada. Eu via nos olhinhos dela o brilho de poder mostrar o que ela havia escrito. A Jurema, amo de paixão e toda a família dela. O Jaime, o Jackson e a Amélia, todos moram no meu coração. Eu lembro o dia em que nós estávamos passeando em Joinville a pé, as crianças eram todas pequenas e era aquela alegria. Nós íamos à casa da tua prima, avistamos uns cabritos, eu quis dizer o nome bem depressa e não me ocorreu, então gritei “olha o bicho que dá leite”. Foi uma gritaria, pois era apenas um cabrito. E eu fiz um alvoroço que parecia estar ali um elefante, mas era tudo tão bom! Quando as tuas crianças sentavam à mesa elas às vezes brigavam entre si, aliás, era a Vilma, que também já foi morar com o Papai do Céu, e o Jaime e a Jurema, a pequena Janice ainda não tinha nascido. Pois bem, os três levantavam a voz e você dizia – Fechem a boca e comam. Mas a Jureminha, como era carinhosamente chamada, era simplesmente uma tagarela e respondeu: Ô... ô... ô.... mãe, como vou comer com a boca fechada? E ela estava com apenas cinco anos, apenas cinco anos. Mas como Deus traça o destino das pessoas, também traçou o da Vilma, que era sua filha mais velha e Deus a levou para perto de si com apenas 18 anos, já faz tantos anos, mas ela está sempre no meu pensamento e nas minhas orações. E por isso eu digo todos os dias, eu amo vocês. Eu digo obrigada, meu Deus, por tudo que me destes, por tudo o que me tirastes, por tudo o que não fiz e podia ter feito, mas Deus não quis. Eu digo, portanto, obrigada, meu Deus!
11/2006

Coisas da vida


Vou contar uma passagem de minha vida, lá pelos idos de 1955, quando eu trabalhava na casa de Dona Elda e “seu” Antônio M. Corrêa, que eram donos da Farmácia Galeno, na Barra do Rio Cerro, em Jaraguá do Sul. Pois muito bem. Eu fazia o serviço da casa, lavava, passava e cozinhava. Às vezes tinha que fazer umas compras e lá ia eu de bicicleta até o comércio do senhor Weege, que na época tinha fábrica de laticínios, açougue e comércio em geral (vendia desde alimentação, roupas, ferramentas, louças). Enfim, tudo o que se necessitasse era encontrado no comércio do senhor Wolfgang Weege.
Um dia minha patroa disse: “Vai buscar uma dúzia de ovos.” E lá fui eu de bicicleta. Não havia ainda embalagens próprias para ovos e nem sacolas plásticas. Eram colocados num saco de papel, sem nenhuma proteção. Eu peguei os ovos e vim embora. Mas o saco de papel rasgou quando eu, querendo salvar os ovos, andando de bicicleta, encostei o saco na perna e, acredite se quiser, consegui salvar seis ovos. Dos outros seis fiz omelete ainda em viagem, e lambuzei toda a minha perna.
Outro dia faltou maisena. Havia outro comerciante mais perto de casa. Era bem menor e chamávamos de “secos e molhados”. Também tinha quase de tudo, só que era menor que o do senhor Wolfgang Weege, e tinha tudo em menor quantidade. Não tinha, por exemplo, açougue, panificadora... Só bem mais tarde colocaram isto também. Esse comércio era do senhor Ewaldo e Vali Benthien. Gente muito boa, os pais do senhor Ewaldo cheguei a conhecer, já bem velhinhos. O senhor Ewaldo era um homem meio desligado, meio rústico, porém muito trabalhador. Como ia dizendo, certo dia faltou maisena e dona Elda me chamou e disse: “Pega dinheiro e vai lá no Benthien buscar maizena e aproveita e traz também um quilo de açúcar, dois pacotes de pudim, arroz e não lembro se tinha mais alguma coisa para trazer. Fomos eu e a Vilma, filha mais velha de dona Elda. Chegando lá pedi tudo o que precisava, ele colocou sobre o balcão e disse: “Ta aí, vai o que mais?” Eu conferi e percebi que faltava a maizena. Então eu disse: “Sim, mais um pacote de maizena”. Ele respondeu que maisena estava em falta e disse: “Não tem maisena, mas pode ser um par de tamancos?” Para que nós quereríamos tamancos? Queríamos maisena. “Não tem, disse ele, vem só amanhã. Mas podes levar um vidro de perfume ou uma lingüiça. Paguei a conta e saímos correndo para casa, contamos o que havia acontecido e ninguém queria acreditar, mas foi muito divertido.
Quando a Vilma fez a Primeira Comunhão, ofereceram uma festinha. A geladeira da casa ficou pequena para guardar tudo. Então o “seu” Ewaldo ofereceu a geladeira da casa dele. Nós levamos a cerveja e o pudim lá. Deveriam ficar até o meio dia. O “seu” Ewaldo tinha um cachorro policial cujo nome era Gaúcho. As cervejas eram da Antarctica, fabricadas no Rio Grande do Sul e, por isso, chamávamos de gaúchas. Chegou a hora do almoço, hora de buscar as cervejas e o pudim. O “seu” Antônio então ordenou: “Cecília, vai lá no Benthien e tira as gaúchas da geladeira”. Eu, com medo do cão do “seu” Ewaldo, perguntei se o Gaúcho estava preso. E o “seu” Ewaldo, já alto nesta hora, gritou preocupado: “Nossa Senhora, botaram o Gaúcho na geladeira?” Quase morremos de tanto rir com a trapalhada dele, mas foi divertido.
20/8/2006


Barra do Rio Cerro


Nos anos de 1955 e 56, morei na Barra do rio Cerro. Foram aproximadamente dois anos e conheci muita gente, pois trabalhei na casa do Sr. Antônio e da dona Elda B. Corrêa. Aliás, ele era farmacêutico e dono de uma farmácia chamada Galeno. Era considerado o médico do povo, dali e dos arredores. Cuidava dos doentes, passava medicações e ninguém precisava ir ao centro, que era um pouco longe e havia poucos meios de condução. E, mesmo no centro, só havia na época três médicos: os doutores Waldemiro Mazurechen, Erich Kauffmann e Fernando Springmann. Só muito mais tarde é que veio o Dr. Alexandre Otza. Era só o que tinha de médicos. Mas, continuando, lá na Barra tinha uma casa de comércio e fábrica de laticínios do senhor Wolfgang Weege, os irmãos Rubini tinham uma serraria e uma ferraria. O senhor Camilo Andreatta tinha uma marcenaria, onde servia as pessoas com móveis e esquadrias. Também tinha a ferraria do senhor Silvestre Stoinski: ele fazia ferramentas para os colonos. Existia o comércio do senhor Ewaldo Benthien, abastecido com alimentos, louças e até roupas. Tinha o senhor Butzke, com uma alfaiataria. Além disso, o Seminário do Padre Aloísio Boeing e a igreja, que ficava bem em frente à farmácia onde trabalhei e existe até hoje. O colégio das irmãs catequistas, para educar os filhos dos moradores e que também ainda existe, só que ampliado. A própria igreja foi feita nova e maior, e igualmente a farmácia, que foi demolida e reconstruída ampliada, pertencendo ao senhor Luiz Zonta. Havia o senhor Buzzarello, com uma ferraria. A dona Helga Ulrich, um pequeno comércio, que era mais bar ou boteco, como costumávamos dizer. Meu cunhado, o Arthur Taffner, era dono de uma pequena sapataria, onde ele fazia os sapatos, os chinelos e os sapatões para os colonos usarem na roça. Era um lugar bem pequeno, mas tinha de tudo um pouco e, portanto, servindo aos moradores com o básico. Ah, havia também a barbearia do senhor Bordin que, por sinal, foi quem cortou pela primeira vez o cabelo do meu menino, assim que ele fez um ano. Foi um trabalho cortar o cabelo dele, porque ele pegava no sono e quase caía da cadeira, então tinha que ficar chamando para que ele não dormisse. Senti muita saudade quando saí de lá, mas como a gente não manda no destino, tive que me acostumar com minha nova vida, aqui em Jaraguá, onde estou morando até hoje e já faz 51 anos. Faz muito tempo! Mas estou bem graças a Deus!
29/7/2007

E o vento levou


Era uma alma doce. Um encanto de pessoa. Um ser humano inigualável. Mãe extremosa, esposa dedicada, vovó coruja, comadre esperta, tia sem par. Esta foi Elda B. Corrêa, que hoje, infelizmente, foi para junto de Deus! É certo que nós todos vamos um dia por este caminho. O caminho que nos leva a Deus. Mas a perda é sempre muito dolorosa. Quando uma mãe está esperando um filho, não se sabe se este vai nascer, mas a partir do momento que nasceu, o único caminho certo é o de saber que se vai morrer. Nós passamos muitos anos praticamente juntas. Foram praticamente 50 anos que vivemos como grandes amigas, sem que nada nem ninguém conseguisse estremecer nossa amizade. Aprendi a amar sua família como se fosse minha. E você, por sua vez, deu ao meu filho todo o amor do mundo, além de me ajudar em sua educação. Confesso que às vezes eu sentia um pouquinho de ciúmes, quando ele te chamava de mãe Elda. Mas era uma coisa tão pura que passava logo. Quantos passeios fizemos juntas, quantas cidades conhecemos juntas, sempre muito felizes e contentes. E hoje você é só saudade. Partiste sem me dizer adeus e eu cá estou com o coração doendo por não poder te abraçar e dizer: “Oi, Elda, tudo bem?” O vento soprou brando e quente no dia 15 de outubro de 2006 e levou minha amiga, comadre, irmã e mãe. Enfim, você foi um pouco de tudo isto pra mim. Mas tenho certeza que estás muito bem ao lado de Deus. Eu lhe prometo que vou telefonar por meio de orações, como se estivesse falando mesmo ao telefone com você. E converso com Deus e ele lhe transmitirá meus sentimentos. No meu coração uma luz brilha e o vento brando sopra sua brisa, como quem diz: “A Elda está aqui!” Só me resta dizer obrigada, meu Deus, por teres me dado Elda como amiga, e peço pela sua alma, por meio de orações. Que descanse em paz!
15/10/2006
Publicado no Jornal do Vale do Itapocu em 2/11/2006 (quinta-feira), página 2 (Prim. Coluna da Esquerda)Primeiro Caderno



Revirando o baú

Hoje acordei muito triste, com vontade de chorar e com muita dor no coração. Lembrei-me então com saudades dos meus oito anos de idade. Revirei então meu baú, em que estão guardadas muitas lembranças do passado. Achei um papel amarelado pelo tempo e nele havia um poema. Um poema que eu havia escrito para você. Tem também um palito de incenso, um retrato e alguns fios de cabelos, que guardo com muito carinho. Mas do meu tempo de criança lembro da nossa casa, no alto da colina, de onde eu escutava o chuá das águas cristalinas que caíam das cascatas, como fonte de vida. O canto dos pássaros, o vento que batia nas janelas, como se estivessem dizendo: “Abram as porta e as janelas, que estou chegando”. Guardo essas lembranças no meu coração e a saudades se faz sentir. Lembro do passeio que fizemos juntos, e eu ainda guardo o bilhete da passagem, uma caixa de fósforos vazia, alguns santinhos que o padre dava para as crianças que iam à doutrina. Uma caneta e um caderno, até as folhas de papel almaço no qual fiz a prova de fim de ano na escola. O meu certificado de conclusão de curso, o último ano de aula e seu encerramento se deu no dia 28/11/1945. E fui aprovada com nota ‘100’, que era a nota máxima. E tendo o direito de me matricular no Grupo Escolar. Mas como não tinha condições de pagar os estudos, parei por aí mesmo. Foi como se as palavras caíssem no vazio, não tinha mais aquela sensação de levantar cedo e de me arrumar para ir à escola. Minha mãe preparava o lanche e coloca numa cestinha pequena, pintadinha de vermelho, muito bonita, que também guardo até hoje. E por fim, as palavras se perdem no ar e, apesar de toda a possível criatividade de hoje, é só saudades! Eu aprendi que é só errando que a gente acerta e que só quem nunca caiu não tem a oportunidade de se levantar. E estou de pé até hoje, embora tenha caído muitas vezes!
3/11/2006


O pé de coqueiro


Coqueiro era como nós chamávamos uma palmácea, quando eu ainda era criança e meus pais moravam em Rio dos Cedros, ou Arrozeiras, como aliás era conhecida minha vila. Pois bem, a nossa casa era rodeada de pés de coqueiro, que muito mais tarde aprendi ser a tal da Palmeira Real. Era uma árvore frondosa, com enormes folhas que caíam com o passar do tempo. Mas nós, as crianças, abreviávamos essas quedas puxando-as para baixo com um gancho, e então elas serviam para nos balançar. Fazíamos tipo o Tarzan (que também só conheci muito depois). E era muito gostoso. Só que mamãe não gostava muito dessa brincadeira, com medo de que batêssemos a cabeça no tronco da árvore e nos machucássemos. Então mamãe ia de noite com um facão e cortava da altura, de tal sorte que não alcançássemos mais as folhas. Passavam alguns dias e lá ia eu puxar outra folha e começava tudo de novo. Certa ocasião, convidei umas colegas de aula para ir num domingo à tarde brincar lá em casa. E veio a Fani Francisca Lenzi, a Célia Trizotto, a Arilde Trentini e a Honorata Dorigatti, e lá fomos nós brincar de balançar nas folhas de coqueiro. Mas essa Dorigatti era uma menina muito simplória e nós aprontávamos com ela. Então, quando vi que a folha ia se desprender da planta, chamei-a e disse que era a vez dela balançar. O pé de coqueiro ficava na beira de uma lagoa. E ela pegou a tal folha e foi no embalo, mas quando estava por cima da lagoa a folha arrebentou e lá foi a Dorigatti pra dentro da água. Ficou toda suja e molhada, claro!
Eu virei Lula, não vi nada, não sabia de nada, mas quase tive de dormir sem jantar, por fazer essa maldade com a menina., mas acabei me saindo bem, como ele.
21/8/2007



Domingo inesquecível


Era um lindo domingo, em pleno mês de outubro do ano de 1949. Um domingo que prometia, pois era o meu dia de ir à missa. Para entender melhor, eu estava trabalhando como empregada doméstica e tinha um folga por mês, que eu aproveitava para ir assistir a missa. As pessoas costumavam ir sábados à tarde, confessavam e no domingo comungavam. Mas, como eu não tinha licença de ir confessar sábado, fazia isso domingo bem cedo. O padre costumava confessar às cinco e meia da manhã e às sete era a missa. Então, eu aproveitava e fazia isto sempre que ia à missa, claro, quando era meu dia de folga. As mulheres casadas tinham que usar um véu preto na cabeça e as solteiras um véu branco, e ainda mangas compridas. Como meu vestido de mangas compridas estava muito velho e eu não podia comprar outro, e para usar um casaco estava muito quente, usei um vestido de mangas até os cotovelos, portanto dito de manga curta. Muito bem, lá fui eu, entrei na igreja, fui em direção ao confessionário, esperei minha vez e confessei. Voltei para o banco, na igreja, e esperei a hora da missa. Fiz tudo isso com muito respeito e amor a Deus, já que essa era a casa Dele, de Nossa Senhora, sua mãe e de todos os santos. Enquanto esperava a missa começar, ninguém podia ficar no pátio da igreja conversando. Tinham que entrar na igreja e ficar o tempo todo rezando. Mas era muito bom, eu levava o meu rosário e passava ele duas ou três vezes até começar a missa. A missa começou e chegou a hora de distribuição da Santa Hóstia. O padre Alberto, que era o pároco da Paróquia de São Sebastião (que na época era Igreja de Santa Emília), começou a distribuir a comunhão. Na igreja existiam os genuflexórios (que em italiano chamávamos de li balaustri), onde as pessoas ajoelhavam, sempre em grupos de oito, e o padre passava então a distribuir a hóstia para cada uma das pessoas, colocando na língua, e ninguém podia mastigar porque, na doutrina, a gente aprendeu que se mastigasse a Santa Hóstia estaria machucando Jesus. Pois bem, eu me encaminhei junto com outras pessoas, ajoelhei-me em frente ao balaústre e o padre veio com a patena (bandeja onde ele tinha as hóstias) na mão. Quando chegou a minha vez, ele simplesmente passou e não me deu a comunhão, porque eu estava de mangas curtas. Voltei para o banco, esperei terminar a missa e sai junto com todos os outros. Mas com um detalhe: eu estava chorando. Então, uma senhora se aproximou e perguntou porque eu chorava, aí eu disse que o padre não havia me dado a comunhão. Ela disse que o padre não havia me dado a comunhão porque eu estava de mangas curtas, e Deus não gostava disso. Fiquei quieta e fui para casa, isto é, para a casa onde eu trabalhava. Mas, para mim, esse domingo que nem começou já tinha acabado.
Nunca mais entrei naquela igreja e, bem mais tarde, ela foi demolida e construíram uma nova igreja. Mais tarde, ainda, casei com uma pessoa que era da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, que nós chamávamos de “protestante”. Estou até hoje onde posso comungar, assistir missa quando quero ou posso, não sou fanática, porque o padre me roubou toda a fé que eu tinha. Tudo por causa das mangas curtas! Eu não estava cometendo nenhum sacrilégio, respeito todas as religiões, inclusive a católica em que fui criada, batizada, crismada e tomei minha Primeira Comunhão aos nove anos. Até hoje sinto dor no peito quando lembro que o padre devia dar o bom exemplo e, no entanto, me roubou o direito de ser feliz na minha igreja.
Como posso respeitar um padre que não me respeitou? Sim, porque ele não sabia qual era a minha situação, qual o motivo de eu estar ali diante dele de mangas curtas, e que afinal nem eram tão curtas assim! No meu modo de pensar, a razão e o bom senso dele eram bem mais curtos que as minhas mangas. Peço perdão a Deus, se eu escrevendo isto estiver pecando, mas só eu sei da humilhação que passei e pela qual jamais imaginei passaria em minha vida. Hoje estou feliz! Na minha igreja tem um pastor que é um grande amigo de todos e já veio duas vezes na minha casa, depois que meu marido faleceu, me trazer palavras de conforto.
Muito obrigada, Pastor Ricardo, pelo senhor existir.
3/3/2008


De tudo um pouco, sobretudo...


Desde criança eu sempre gostei de usar casacos compridos, pois eu havia visto o farmacêutico usando um que os outros chamavam de sobretudo. Então eu queria um sobretudo. Mal sabia eu que aquilo era só para médicos e farmacêuticos, mas eu queria um sobretudo. Com cinco ou seis anos chegava a vestir os paletós dos meus irmãos, porque eles eram para mim o sobretudo. O tempo passou, eu cresci, fui matriculada na escola e, passados dois anos de estudo, eu já me considerava uma professora (é claro que, no meu pensamento de criança, tudo podia se realizar!). Um dia, cheguei na escola e qual não foi minha surpresa, a professora nos mostrou medicamentos, que eram para emergência, ou seja, caso algum aluno ou aluna sentisse qualquer mal estar. E daí foi fundado um pequeno “pelotão de saúde”. Como eu demonstrava interesse em tudo o que era novo, fui imediatamente denominada a “Chefe” do Pelotão. Qual não foi a minha alegria, pois aí chegou a minha vez de poder vestir um sobretudo de verdade, todinho branco, com uma cruz vermelha no bolso. Dentro daquele sobretudo eu me senti uma rainha, mas tive que aprender a fazer curativos, em caso de alguém se machucar brincando na hora do recreio. Também tive que aprender a dosar a medicação para dor de cabeça, dor de estômago ou dor de barriga, que era o que aparecia entre os alunos. E eu aprendi fácil, fácil... Fiquei até o final do meu período de estudos, então tive que parar, já que ali não havia mais cursos escolares. Era só até o quarto ano da época. Mas minha maior paixão foi ter que entregar o meu sobretudo para o próximo, que iria assumir. Ali acabou-se meu sonho. Mas enquanto eu estive no meu cargo, fiz de tudo um pouco, com o meu sobretudo!
24/4/2008



O trem


Já faz muito tempo, o meu filho tinha quatro anos, eu havia comprado um calçãozinho cuja estampa era toda de bichinhos (gatinhos, cachorrinhos) Enfim, era muito bonito por ser uma novidade. Então eu comprei um pra ele e, num domingo à tarde, aconteceu algo que me marcou muito com aquele calçãozinho, tanto que eu não podia mais olhar para ele sem me lembrar duma passagem muito desagradável que havia acontecido. A minha casa está situada de frente para a rua Venâncio da Silva Porto e paralela tem a rede ferroviária, e passam muitos trens até hoje. Na época havia trens de passageiros e de carga, e havia também o misto – que levava passageiros e carga, e havia também a Litorina, que era um só vagão motorizado, tal como um ônibus que se locomove sobre os trilhos.
Pois bem, naquele domingo passou o trem e logo em seguida há um cruzamento da linha férrea com a rua. Foi aí que aconteceu o pior. Um senhor, de sobrenome Colin, estava passeando com o neto e não viu o trem e bateu com o automóvel na locomotiva. O neto, que deveria ter a mesma idade do meu menino, estava morto e usava um calção igual ao de meu filho. Ficou todo ensangüentado, já que o menino foi a última vítima fatal. E eu, vendo aquela criança ensangüentada ao lado dos trilhos me apavorei e fiquei tão chocada de ver o menino morto e todo cheio de sangue, com aquele calção. Por isso eu não pude mais olhar para ele. Fui obrigada a dar um jeito e tirá-lo de casa, já que meu menino gostava muito de vesti-lo. Mas eu via nele o corpo do menino morto. Então dei o calção para outra criança, por não poder esquecer a cena que vi naquele domingo trágico. Já se passaram 50 anos, mas quando eu passo por aquela travessia ainda vejo aquela cena e me comovo.
Eu aprendi muita coisa nesta minha trajetória de vida, a gente pode voar como os pássaros e nadar como os peixes, mas o que nós devemos aprender é a simplesmente viver como irmãos.
30/5/2008



A coivara


Era uma manhã de julho do ano de 1942. Eu estava com nove anos, quase fazendo dez. Uma manhã muita fria, eu lembro que era um feriado, portanto não tinha aula. Então eu pude, com meu irmão Ferdinando e as outras irmãs, ir para a roça. Meu irmão disse que ia fazer uma coivara. Eu não sabia o que era isso e fui de curiosa. Achava que coivara era uma cabana ou coisa parecida. Chegando lá no ponto escolhido, meus irmãos e minhas irmãs começaram a roçar com foices, enquanto eu fui ver os pés de mamão que estavam carregados de frutas, e os passarinhos se deliciavam no café da manhã.
De vez em quanto eu corria lá onde estavam meus irmãos e perguntava: Onde está a coivara? E eles diziam: logo você verá... Eu pensava: - Será que estão procurando alguma coisa? E novamente perguntava: - Daí, já acharam a coivara? Eles só ouviam e nada respondiam e continuavam roçando. De vez em quanto lá ia eu ver se eles já haviam achado a tal coivara.
Foi então que eles me explicaram que coivara era o nome que eles davam a um roçado, feito com foice. Depois, deixavam secar tudo e plantavam o milho, o aipim, a batata doce, o taiá e o cará. E que quando eles estavam prontos eram colhidos para o sustento da família. Então fiquei sabendo que coivara era um roçado feito pra plantar, colher e comer. Como essa tal de “coivara” me deu dor de cabeça!
16/1/2008



Uma longa caminhada

Depois de uma longa caminhada em pleno ano bissexto, aqui estou me lembrando de tanto coisa que passei e enfrentei durante o percurso. Mas com muita saudade! Eu faria tudo de novo, se fosse possível. Ainda faço muitas das coisas que fiz. Uma de que eu gosto muito é pescar. De vez em quanto a gente faz uma pescaria e me sinto muito bem. Quando criança, morávamos (eu e minha família), e lá onde morávamos também íamos pescar de anzol. Mas quando dava muita chuva e o rio dos Cedros represava, então pescávamos de balaio nos valos das arrozeiras. Em uma ocasião, eu lembro, houve uma enchente e fomos eu, minha mãe e uma irmã pegar peixes com o balaio. Eu, como sempre, precipitada, ficava segurando o saco onde eram colocados os peixes, que nós chamávamos de bagre, acará e traíra. Não sei os nomes corretos, mas nós conhecíamos por estes nomes. Eu, estabanada, seguia minha mãe carregando o saco de peixes que mamãe pegava com o balaio. De repente, escorreguei e soltei o saco e os bichinhos voltaram todos para a água. Minha mãe brigou muito comigo, daí eu fugi com medo de apanhar e me escondi debaixo do forno, que era feito de tijolos e tinha um vão embaixo, que foi onde me escondi. Mas mesmo assim a mãe trouxe muitos peixes, já que ela e minha irmã continuaram “balaiando” depois do incidente. Na hora de preparar os peixes, minha irmã disse que eu não podia comer peixes, porque fugi e não ajudei mais. Eu achava que era verdade e disse para minha irmã que se eu não pudesse comer, então todos que comessem iriam ter dor de barriga após o almoço. Papai me chamou e disse que era tudo brincadeira e que eu podia comer dos peixes, sim. Sentei-me à mesa e comi. Resta dizer que eu tinha cerca de sete anos e que minha irmã ainda falou assim: “Pode comer, mas antes diga que ninguém aqui vai ficar com dor de barriga”. Todos almoçamos em paz e os peixes estavam muito gostosos.
29/2/2008


Tudo por amor e respeito

Domingo, dia 25 de maio de 2008. E sentia que iria ser um domingo maravilhoso. Aliás minha alegria já havia começado no sábado dia 24, quando recebi a visita da prima Lili Fruet, que veio passar o dia comigo. Já fazia quase cinco anos que ela não vinha em minha casa, porque está com o marido doente, precisando dos cuidados dela. Mas naquele dia o filho ficou tomando conta do pai. Foi um sábado agradabilíssimo. Recordamos tanta coisa, passamos um bom tempo vendo fotos e recordando o passado. Ela até encontrou lá na casa de meu cunhado Waldemar um sabugo de milho, que ela rapidamente recolheu e disse: - Vou levar para meu neto conhecer, já que ele nunca viu um sabugo de milho! Nos divertimos muito com isso.
No domingo fomos eu, o Loreno e o Zéio para Joinville, para a festa da Primeira Comunhão da Michelle Breis, filha da Janice Corrêa Breis e do falecido Alcir. Saímos de Jaraguá às 10 horas da manhã, muito felizes os três. Mas de repente me deu um aperto no coração, pois eu sabia que, apesar de ir para a casa de gente que amo de todo o coração, também sabia que havia um rosto que eu não iria ver, pois Deus o havia chamado para si há algum tempo: era o de minha melhor amiga, com quem passava um dia inteiro conversando e nunca terminávamos os assuntos – a Elda, mãe da Janice. Lembrei tudo o que passamos juntas e não me contive, chorei. Era para ir sorrindo e feliz, mas confesso que não me contive. Quando cheguei lá, vi todos alegres e quando fui cumprimentar a Janice, me veio a Elda na mente e chorei de novo. Elda era justamente o rosto que já não estava mais no meio de todos os que ali estavam e meu coração não agüentou. A festa correu normalmente e a tarde vínhamos de volta para casa quando meu filho disse que iríamos ver o tio Roberto Hagedorn.
Ele é irmão do meu sogro, o único vivo da família. Mas o mais importante, ele vive com a filha Astrid que cuida muito bem dele e tem um carinho todo especial. Daí a surpresa, víamos aí um homem lúcido, muito falante, ouvindo música em CD e com mais de 94 anos de idade. Se Deus quiser ele completará 95 anos no dia 20 de agosto de 2008. Um homem com agilidade de se locomover normalmente, muito bem de saúde, e, quando anda pela casa ou no quintal, sempre assobiando. A filha disse que ele é uma pessoa feliz e de bem com a vida. A única coisa que não está perfeita é a visão, isto quando a letra for muito miúda. Ele disse que deu a Bíblia de presente para quem ainda possa ler e que ele só lê quando forem letras grandes. Mas ainda lê.
Ainda lembrando da festa na casa da minha afilhada Janice, a festa foi ainda maior porque ela estava morando na casa nova, que havia recém comprado. A alegria era geral, dela e dos filhos, da irmã Jurema e seu esposo Mário Pereira e todos os demais familiares, inclusive do irmão Jaime e família, que moram aqui em Jaraguá. Todos se reuniram e a festa foi geral. Eu particularmente me senti tão realizada por ela conseguir a casa própria, tão realizada quanto ela. Nós fomos também conhecer a casa da Jurema e do Mário, que por sinal é muito bonita e fica bem perto da casa da Janice. A Janice é viúva e tem dois filhos, um rapaz chamado Murilo e a menina que fez a Primeira Comunhão, chamada Michelle. A Jurema tem três filhos: o Marco Antônio, que já é casado e tem uma filhinha. A Fabiane, também casada e que tem um menino. O Gláucio, casado, mas ainda não tem filhos. São todos muito unidos e por sinal queridos. São todos meus amadinhos. Obrigado, meu Deus, por me permitir fazer parte destas famílias tão especiais.
27/5/2008

Só para recordar


Quando eu trabalhava no Hotel Cruzeiro, em Jaraguá, de propriedade do senhor Oscar Reutter e dona Rosa Lopnow Reutter, não era fácil, não! Tinha de acordar muito cedo, dormir bem tarde, para dar conta do serviço. Era trabalhoso, mas também era divertido para quem levasse para esse lado.
Por exemplo: domingo à tarde a gente podia até ouvir rádio. A rádio Jaraguá (ZYP-9) tinha um programa chamado “Brinde Sonoro”. Ia ao ar todas as tardes, entre as duas e três horas. Só que nós só podíamos ouvir aos domingos de tarde, quando era a nossa folga. Vinha gente de todos os lugares para almoçar, jantar e pousar, pois o hotel era também restaurante. Muita gente da cidade também ia lá. A maior parte composta de jovens, da classe média alta, que ali faziam suas festas.
Lembro bem de vários deles: havia um barbeiro, um mecânico, dois funcionários públicos, dois empresários, um tratorista da Prefeitura e alguns de cuja profissão não lembro. Essa era a turma do barulho. Havia ainda um que era rádio técnico.
Pois bem, eles faziam as festas e depois iam para casa.