quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

O menino adoeceu e pela primeira vez esteve muito mal, com uma pneumonia tão forte que em dois dias já não havia mais nada a fazer. Fiquei desesperada, mas passei pela provação. O meu patrão disse que iria tentar com mais uma injeção e ele disse, olhando bem nos meus olhos: "Eu faço a injeção e você faça prece a Deus, com muita devoção, porque sem Deus nada podemos fazer". Ali estava eu com meu filhinho nos braços, quase se passando e do outro lado o farmacêutico, com a seringa na mão, pronta para aplicar. Mais do que nunca pedi ao Todo Poderoso que essa fosse a injeção da vida, que ia ser aplicada no meu menino. Deus me ouviu e dentro de três horas ele já se via em fase de recuperação. Eu sabia que esse não seria o último obstáculo a se erguer à minha frente. Com o meu filho fora de perigo, nada mais eu temeria, agora eu tinha novamente muita vontade de viver para poder criar o meu filhinho. Os dias passaram, findou a semana, enfim domingo. A 500 metros de onde eu trabalhava havia o campo de futebol do Botafogo Futebol Clube. E nesse domingo se realizaria uma partida de futebol no Botafogo, e os meus patrões com a família participaram desde cedo, porque ele era Presidente do clube. Eu fiquei em casa com o meu menino, que se recuperava muito bem e rápido. Mas o meu filho ainda não queria comer. À tarde, pude dar uma voltinha até o campo, isso com permissão do farmacêutico, que era meu patrão. Lá chegando, me serviram um café com doces, mas o meu nenê nada quis. De repente, vi que ele estava devorando um pedaço de bolo gulosamente, virei para ver quem havia dado e lá estava o marceneiro dando bolo para o meu filho, e ele, por incrível que pareça, aceitou e comeu tudo, e o homem disse: "Viu, ele comeu porque fui eu quem deu". Era o destino novamente prostrado a meus pés, um obstáculo do tamanho do mundo, e eu me agarrando com unhas e dentes para poder transpô-lo. Eu sabia que estava chegando a hora de enfrentar mais um
desafio. Só achava cedo para tomar qualquer iniciativa, pois eu não sabia se gostava desse homem ou se sentia pena, pois ele já estava embriagado. Daí, ele tomou o menino em seus braços, com o pretexto de me acompanhar, mas peguei o menino e fui sozinha para casa. O tempo passou e eu ali, com um grande problema para resolver. Comecei a pensar nas dificuldades que surgiriam no futuro em relação a um bom estudo para meu filho, e ali do lado um homem que prometia dar tudo isso e muito mais ao menino. Mas eu, cada dia que passava, mais pena sentia dele. Ele fazia tudo para me conquistar e eu só sentindo pena dele. Mas no fundo, o que ele queria não era só
uma mulher, e sim mais que tudo uma criança, já que não podia ser pai. Eu via a ansiedade quando dizia que ainda não havia me decidido. Com sinceridade eu digo, ele não fazia meu tipo, e talvez por isso eu não conseguisse sentir amor por ele. Eu achava ele uma pessoa boa, compreensiva, um pouco carinhosa e só, a palavra amor não
existia de minha parte, e da parte dele eu não sabia se podia existir, porque sinceridade a gente não vê logo numa pessoa, e eu precisava de algum tempo para ver se era verdadeiro tudo o que ele dizia. Num período de janeiro a agosto houve um namoro que eu chamo mais de reconhecimento de área, para depois fazer a tentativa de convivência. De repente, me senti muito desamparada e com uma vontade enorme de ver o mundo cheio de barrancos para poder me encostar e morrer. E por isto aceitei ir morar com ele e começar vida nova, esse era meu ponto de vista. Houve quem contrariasse, nem liguei. Tomei essa decisão quando meu filho estava com um ano e dez meses incompletos, no dia 15 de agosto de 1956.

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