quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Os bombardeios começaram como se começasse uma guerra, dificuldades, sem louças, sem móveis, com apenas um jogo de quarto e uma caminha para o nenê, que aliás ele ganhou dos meus patrões, um fogão de lenha onde eu cozinhava e era ao mesmo tempo mesa. E
assim os anos passaram, o menino cresceu, mas eu cheia de dúvidas, porque eu sempre gostei de trabalhar mas o meu marido continuou a beber e eu ficava muito insegura. No meio disso tudo havia uma pessoa que me dava todo o apoio e segurança que estava ao alcance dela, essa pessoa era minha mãe. Mais tarde, já com muita coisa adquirida com o próprio suor, podíamos ter uma vida muito boa, mas o sucesso não foi maior justamente por causa da bebedeira do meu marido. Como eu dizia no início desta narração, o passado não pode e nem deve ser esquecido, portanto vou contar algo mais sobre meu passado. Às vezes eu parecia estar num labirinto sem saída, porque sinto cá no meu peito estranho fogo a arder, mas qual é o seu nome? Eu não sei lhes dizer.
Eu sou e sempre fui muito sentimental e, como qualquer outra moça, eu sonhava com um casamento decente, de véu e grinalda, dizendo muito absolutamente sincera o Sim para o padre e para o juiz, mas se o remorso me escalda, a consciência me diz que não é somente a grinalda que faz a mulher feliz. Como também já disse, meu marido era um doente, ou melhor, um alcoólatra, que precisava de um bom tratamento, mas não tínhamos condições financeiras e ninguém nos ajudou. Meu marido freqüentava ambientes pouco recomendáveis, com prostitutas de terceira categoria e deixava lá o pouco dinheiro que possuía. Fui uma vez buscá-lo para ver se ele tomava vergonha na cara e mudava de vida, mas qual: ele estava com uma dessas mulheres, e então ficou uma fera e eu, mais uma vez, me dei mal. Ele chegava a tirar a aliança para dizer que não era comprometido. As águas correm pelos rios e fontes até alcançarem o grande
oceano. As aves se multiplicam e todos os seres racionais e irracionais progridem, menos nós, que ali ficamos marcando passo, dia a dia sem progresso, e portanto, um futuro incerto.

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