quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Amar e sofrer

Certo dia, dentro da igreja, numa missa domingueira, eu vi o homem que eu achava viria ser o pai de meus filhos (eu sonhava com vários), meu companheiro e, acima de tudo, meu grande amor. Aquele rosto eu não podia esquecer, desde a primeira vez que eu o vi, mas passou muito tempo sem que eu o tornasse a ver, horas, dias, meses,
sei lá. Mas finalmente chegou o dia em que nos aproximamos e daí começamos a namorar.
Então aconteceu o pior: a morte de meu pai. Fui chamada às pressas e passei ainda dois dias ao lado dele e, no dia 10 de janeiro de 1954, às onze e meia da manhã, vi pela última vez a cor dos olhos de meu querido papai. Seus lábios ainda mexiam como para dizer qualquer coisa, que já não se entendia mais, e ali terminou a vida de
uma pessoa que eu tanto amava, papai. O enterro, as cerimônias, as lágrimas, a saudade, a orfandade e depois de tudo a volta ao serviço, num vestido preto e muita dor no coração. Olhei ao redor, tudo escuro: faltou a luz do lar paterno, doce e terno para mim. Em março o João, meu namorado, foi me visitar no emprego. Tínhamos, meus patrões e eu, voltado da praia e eu lhe disse que algo estava errado comigo. Ele, automaticamente, disse: "Você está grávida". Alguns dias depois ele voltou com as alianças e noivamos. Quando eu tive certeza absoluta da minha gravidez fomos
minha mãe, meu noivo e eu, para a casa dos pais dele, Pedro Senna e Maria Cândida de Mafra Senna, em Camboriú, para tratar do casamento. Deixei o emprego em maio para me preparar, e isto foi muito desgastante para mim, porque eu gostava demais daquela gente. Mas, na minha situação, não tive escolha. Aliás, fiquei contente por poder então contar com meu marido e, futuramente, meu filho: estava esperando muito por esse momento, de ter a minha família. E essa despedida foi muito triste, porque as crianças choravam, a minha patroa chorava e eu, adivinhem, derretida como manteiga ao sol. O meu patrão foi levar as malas até a rodoviária, as crianças me acompanharam e, quando me despedi deles, o mais novo, o Rui Alfredo, grudou no meu pescoço, começou a chorar e eu chorava junto. O pai dele quis levá-lo e o menino não queria ir. O que mais me doeu é que teve de apanhar ali, nos meus braços, para me soltar, e saiu com o pai aos berros, voltava as duas mãozinhas e pedia para eu pegálo, pois queria ficar com a Tati, era esse o nome que as crianças haviam me dado.
Tem momentos na vida em que a gente acha que o coração rebenta, explode.

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