quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

O grande amor do dia-a-dia

É verão; o calor é intenso, a angústia é grande, a sede insaciável. Cedo pela manhã é um corre-corre, uns para as indústrias, outros para as casas de comércio; uns vão às vendas, outros às compras, os estudantes correm felizes para não perder a condução que os leva cada qual às suas casas de ensino e com grande amor todos se
ocupam em fazer algo. Até os mendigos vão para o seu ponto e lá ficam o dia todo, sob um sol bravio, escravos da própria sorte, a estender sua mão com a esperança de que uma alma boa deixe cair uma mísera moedinha para o pão de seu dia a dia. Mas o importante é que na ocupação de cada um existe o amor. E vem o outono, que faz todos pensarem no próximo, e aproveitando os preços, vão correndo para as lojas comprar
agasalhos, cobertores, meias para as crianças e aquele comentário: vizinho, o inverno vem aí... Todos se preocupam e armazenam lenha para que o inverno não os pegue desprevenidos, e ainda ali existe o amor. E chega o inverno, brrr, todos tremem de frio, as folhas começam a cair, as flores perdem a beleza e o perfume e caem por terra, desfalecidas. Os pássaros se evadem para as matas, abandonando os campos e os jardins, de onde muitos deles tiraram o pólen das flores para o seu alimento, mas mesmo assim não há rancor e sim, existe ali grande amor. Finalmente rompe a aurora e com ela a sonhada, a esperada e muito maravilhosa primavera. Olha para o céu e verás uma grande abóbada azul, na mata ouve-se o trinar das aves, nos jardins as flores desabrochando e sorrindo para as crianças, que brincam alegres e felizes, as árvores se vestem de verde, os pássaros fazem seus ninhos, os animais se multiplicam, como num retorno à casa materna, onde só existe o amor.

(26.7.1973)

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